Dispõe a
comunidade (Partida) de várias sanções sociais que influenciam e controlam o
comportamento dos seus membros.
Há uma
escala de valores socialmente aceite que cada indivíduo procura respeitar.
Sempre que o não faz, a comunidade reage por diversos modos, exercendo uma
censura por vezes bastante eficaz.
Um dos
meios de que a comunidade se serve é a negação
da salvação. Esta espécie de sanção só é, porém, praticada pela
generalidade dos habitantes, para uma pessoa cuja reputação tenha descido muito
baixo no conceito geral. É que o seu uso repugna a muitas pessoas que entendem
que não devem negá-la nem aos próprios inimigos, desde que estes correspondam.
Contudo, ao
nível de famílias ou de grupos, ela é algumas vezes usada e não há dúvidas de
que exerce uma certa pressão sobre as pessoas visadas. Estas são constantemente
obrigadas a uma reflexão dos motivos que a determinam e não raro tendem a
eliminá-los.
Outra
espécie de sanção é a que consiste na atribuição de alcunhas, traduzindo o comportamento vulgar de certos indivíduos ou
até por motivo de uma única acção menos conforme com os padrões socialmente
aceites.
«Aqui, como
em todas as povoações da Beira Baixa, é corrente designarem-se as pessoas pelas
alcunhas por que são conhecidas» - Dias, Jaime Lopes; «Etnografia da Beira
Baixa», Vol. III, Lisboa, 1948.
Nem sempre,
porém, as alcunhas são motivadas por comportamentos censuráveis. Por vezes
derivam até do exercício de uma certa profissão e são aceites pacificamente
pelos alcunhados. Mas geralmente representam uma crítica social. Não são
chamadas directamente às pessoas a quem são atribuídas, senão em caso de
desentendimento, mas as pessoas, sabedoras da alcunha por que são conhecidas,
procuram corrigir o seu comportamento ou não voltar a praticar a acção que lhe
deu origem.
(…)
Também o choro do entrudo representa uma sanção
social «Não obstante estarem em declínio os folguedos do Carnaval, ainda hoje,
na maioria dos povos do nosso distrito, noite alta, nos três dias consagrados à
folia, continua a chorar-se o Entrudo… É uma sátira alegre que por vezes torna
públicos acontecimentos íntimos, desconhecidos de muitos moradores» - Dias,
Jaime Lopes; «Etnografia da Beira Baixa», Vol. I, Lisboa, 1926.
Assim
acontece de facto na Partida e não apenas nos três dias consagrados à folia,
mas durante uma semana ou mesmo mais, antes do Carnaval.
Ao longo do
ano, vão os rapazes tomando nota dos comportamentos mais invulgares, para nos
dias que antecedem o Carnaval os irem referir e comentar, durante a noite, às
portas dos referidos moradores. Certos comportamentos ou acções mais íntimas é
por este meio que chegam ao conhecimento público. Se as pessoas visadas reagem
ou tentam, por qualquer modo, afugentar os «entrudos», estes voltam uma, duas e
mais vezes a importuná-los.
Retirado
de «PARTIDA - COMUNIDADE DA ZONA DO PINHAL NA BEIRA BAIXA»,
de Luís Leitão - Composto e impresso nas
Oficinas Gráficas do Jornal do Fundão, 1991.
M.
L. Ferreira