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sexta-feira, 20 de maio de 2016

Andava o deus Pã apascentando seus rebanhos na campanha de Trans Serre, tocando com sua flauta mágica músicas campestres. Impulsivo, lascivo, sua cabeça cornuda, barbicha hirsuta e patas de bode percorria montes e vales. À medida que guardava o seu rebanho, cantava e tocava. O Eco imitava-o, ele ficava danado e continuava a tocar músicas simples do campo.
De vez em quando, corria em perseguição de uma ninfa ou pastora, pudera; lascivo e folgazão como ele era!
Algumas ninfas não iam na sua conversa, nem se deixavam cativar pelas músicas campestres.
Foi o caso da Siringe que se transformou numa cana por não ter cedido ao seu apetite sexual. Aproveitou-a e fez com ela uma flauta que o passou a acompanhar para todo o lado, desta maneira tinha sempre a sua amada nos lábios.
Certo dia, tendo-se afastado um pouco mais das pastagens habituais “embora andasse por todo o lado”, foi dar a uma pequena aldeia moura, teve sede, dirigiu-se à Fonte da Portela para se saciar.
Quando chegou, estava enchendo sua bilha uma linda moura; faces rosadas, olhos pretos brilhantes como o sol, sorriso arrebatador.
Lascivo, luxurioso como sempre foi, não se conteve e agarrou a linda moura. Ela esbracejou, gritou, por fim conseguiu libertar-se das manápulas de Pã e fugiu em direcção à sua cabana.
Com seus pés de cabra, Pã lançou-se numa correria desenfreada para apanhar a linda moça.
Já não estava muito longe de casa, mas, ao olhar para trás, não teve dúvida nenhuma, estava prestes a ser agarrada. Gritou com todas as forças, mas ninguém apareceu. A solução foi transformar-se numa cobra que por sua vez se metamorfoseou.
Desde essa altura a moura continua enfeitiçada, transformada numa pedra à espera que alguém a desencante.
Cuidado, ela é enganadora. Pela manhã mostra melhor a sua bocarra, nem todos os locais em seu redor servem para a admirar. É preciso saber escolher o sítio para que se deixe ver.
Quem sabe se numa manhã de São João algum príncipe afagando o penedo não a desencante!


J.M.S