No
ano 2003, a nossa região foi terrivelmente afectada pelo flagelo dos fogos, até
ao dia sete de Agosto tinham ardido em Portugal cento e sessenta e dois mil
hectares de mata, proprietários mais pobres, o país também. A erosão dos solos,
as cheias, o aquecimento global…
São
dessa época os versos que seguem.
A temperatura baixou, os fogos terminaram
Por agora…
É tempo de fazer balanço na fauna e flora
E às matas que os fogos queimaram
Montes e vales despidos
Sem nada a protegê-los
Passa o vento aos gemidos
Assassinos, grandes camelos
Por montes, vales e baixas
Tudo a chama e o lume levou
Foi-se a floresta, a terra ficou despida
O fogo, tudo destruiu e queimou
A ganância de alguns é tanta
Que tudo querem destruir
As serras sem a sua manta
Choram, choram; não podem rir
As televisões mostraram
Esta miséria sem igual
Casas, florestas, hortas, queimadas
Neste nosso Portugal
As aldeias ficaram mais pobres
Tudo, o fogo consumiu e levou
De negro e cinzas a montanha se cobre
O fogo, tudo comeu e matou
Tocam os sinos a dobrar
Reza-se ao Criador
Levam-se os mortos a enterrar
Os que morreram naquele horror
Do Violeiro à Enxabarda
Do Ingarnal a Oleiros
Muitos ficaram sem nada
Casas, hortas e palheiros
Gente que vivia da terra
Gente de paz e bem
Mais parece uma guerra
Tantos ficaram sem vintém
Senhores lá de Lisboa
Nossas gentes venham ver
Ficaram sem nada para comer
Gentes de Trás da Serra
Tendes na mata o sustento
Vencereis esta guerra
Com denodo e alento
No alto daquele monte
Vejo uma planta a nascer
Perto brota uma fonte
Que a ajuda a crescer
Já oiço os passarinhos
Com seu alegre chilrear
Construindo seus ninhos
No seu novo e belo lar
A montanha a pouco-e-pouco
Está novamente verdinha
Que nunca mais nenhum louco
A queime, deixando-a nuazinha
Todos juntos em união
Venceremos estas batalhas
Temos todos mais que razão
Não nos dêem mais migalhas
Se nos querem ajudar
Ponham as máquinas a trabalhar
Para a terra lavrar
A semente semear
A planta brotar
Crescer, crescer sem parar
Para o povo se alimentar
O ar se purificar
A ave nidificar
O animal se criar
A lareira aquecer o lar
O povo deixar de mourejar
E nunca mais o fogo voltar
Zé
da Villa