Ó
pai, porque é que chamam Fonte da Portela à mina que se encontra no caminho que
vai para as vinhas.
-
Os antigos diziam que é muito antiga, vem do tempo dos romanos.
Mas
ó pai, que nome aquele:-Portela. - Haveria lá alguma porta pequena que a
tapasse?
-
Nada disso, aquela portela quer dizer passagem; foi o teu avô que me disse, ao
lado está uma estrada - como tu sabes - era uma via romana que vinha da
Egitânia, por sua vez fazia ligação a Mérida. No tempo dos romanos esta cidade
chamava-se Emérita Augusta, daqui partiam vias que a ligavam a Roma que era a
capital do império.
Ó
pai, se todos os caminhos vão dar a Roma, quer dizer que o caminho da Fonte da
Portela também lá ia dar.
-
As coisas que tu sabes. Vamos para a mesa, o caldo está deitado. Que cheirinho,
está a escaldar…
-
Assopra.
-
A propósito, um destes dias ao passar junto à fonte, sentei-me numa pedra,
baixei-me para beber água e sabeis o que me aconteceu! Até tenho vergonha de
contar, não me chamem maluco.
Conte
pai, o que é que lhe aconteceu?
Fala
homem; não te acanhes.
-
Só se me prometerdes que não dizeis a ninguém. Enquanto matava a sede, apareceu
no espelho aquoso uma mulher com uma bilha na mão, ia acompanhada por um homem.
A mulher estava a encher a bilha, de repente surge um cavaleiro trajado com
vestes romanas que se apeou do cavalo e pediu água. A mulher passou-lhe a bilha
para a mão e bebeu até se saciar. Anoitecia, ofereceram guarida ao viandante
que aceitou; moravam perto…
Agora
é que eu entendo porque é que no outro dia te trancaste no quarto
Ó
mãe o que é que o pai terá escrito?
Não
faço ideia, dá-me uma cavaca, o lume está a morrer, continua a nevar, o dia
está feito.
Que
bom; farinheira cozida. Abre a gaveta e tira a faca para a cortar, que
saborosa; pinga no pão.
Ó
pai; leia lá o que escreveu.
-
Comamos primeiro a farinheira, tenho as mãos engorduradas, dá cá o abano, o
lume está a apagar-se, onde é que estão as tenazes?
Olhe
que ainda lhe mordem, veja debaixo do seu banco.
Dá-me
o fervedor para tirar água quente da panela para lavar a loiça.
-
Querem ouvir ou não?
Dá-me de beber mulher bonita
Como se chama esta fonte, mulher bendita
Fonte da passagem senhor, tomai, bebei
Onde estou! Como se chama este lugar
Chama-se Trans Serre cavaleiro
Quem é o senhor! Forasteiro
Venho de longe e ainda tenho muito que andar
Venho de Roma, sou um centurião romano
Bracara Augusta é o destino da minha viagem.
No alto daquela serra, na passagem
Encontrará outras vistas, diz o paisano
Onde posso pernoitar
Diz o centurião.
Na nossa casa pois então
Faça favor de nos acompanhar
É uma casa pobrezinha
Mas está sempre limpinha.
É bastante asadinha
Responde o soldado da cozinha
Que pão gostoso.
É feito de bolotas senhor
Prove nosso vinho por favor
Ummm…que queijo saboroso
Quem é! Pergunta uma vizinha
É um soldado romano
Vai para Bracara Augusta, responde o paisano
Beba mais uma pinguinha
Bem-haja, estou cansado
Quero descansar
Onde me posso deitar
Para dormir um bocado
Todo o dia a cavalgar.
Venha comigo, vou-lhe mostrar
O lugar onde vai pernoitar
E o cavaleiro começou a dormitar
A noite passou a correr.
Dormiu bem senhor…Damião
Responde o centurião.
Venha connosco comer
Tenho que partir…
Façam favor de aceitar
Não é para vos pagar
Bem-haja, diz o centurião a sorrir
Que os deuses o acompanhem soldado Damião
Adeus, meus amigos, nunca vos esquecerei
Quem sabe se algum dia não regressarei
E a pouco-e-pouco afastava-se o centurião
Meu
pai, é uma história muito bonita, até me vieram as lágrimas aos olhos.
-Não
é caso para tanto…
Zé
da Villa