Frei Agostinho de Santa Maria visitou a Senhora da Orada antes de 1711 e nesse ano publicou a obra Santuário Mariano em que conta a conhecida lenda da donzela e ainda esta:
Na vila de S. Vicente da Beira vivia uma mulher casada com um homem que, além de ser de condição acre e terrível, era muito ciumento e com esta paixão molestava muito a inocente mulher e a maltratava.
E como ela era boa e devota de Nossa Senhora, avivava o demónio (para a pôr em desespero e a apartar das virtudes em que se exercitava) mais a guerra que o marido lhe fazia. E chegou isto a tanto que lhe sugeriu o demónio que a matasse, porque lhe faltava na fidelidade que lhe devia.
Com estas falsas presunções,
em que o inimigo o metia, levou enganada a honesta e virtuosa mulher àquele
sítio, que por ser deserto naquele tempo e nas faldas de uma serra, lhe pareceu
acomodado para lhe tirar a vida e a deixar sepultada nele.
Vendo a
aflita mulher o intento do marido e o grande perigo em que se achava, sem ter
quem lhe valesse, mais que o Céu, valeu-se daquela misericordiosa Mãe dos
aflitos pecadores, para que ela a defendesse no aperto em que se achava,
encomendando-se a ela em seu coração. Não se deteve a misericordiosa Senhora.
Apareceu-lhe logo, confortando-a e repreendendo ao iludido marido com grande severidade.
Este, livre
da tentação, pelo favor da Senhora, e reconhecido da sua culpa e temeridade, em
julgar mal da sua inocente esposa, pediu perdão à Senhora e, em ação de graças,
pela misericórdia que com ele e com sua honesta esposa usara, prometeu melhorar
a vida e lhe edificar, naquele lugar, uma Casa, para perpétua memória do
benefício que ambos recebiam.
Dando logo princípio, os venturosos casados, à Casa da Senhora, mandaram fazer aquela Santa Imagem, que nela colocaram, na forma que lhes apareceu.
José Teodoro Prata