Estamos no início de Março e claro a campanha da
azeitona/azeite está a terminar...
Roda do lagar do Major
Nesta época do ano, mês de novembro e princípios de
dezembro, com alguma variação das condições climatéricas, os campos enchem-se
de uma enorme agitação com ranchos familiares, amigos e vizinhos para fazerem a
apanha da azeitona.
Estamos no ano de 1980, eu com 10 anos, todos os dias ia levar o almoço e
jantar ao meu irmão Fernando que, com 13 anos, trabalhava no lagar do sr. Major, mesmo ali ao lado da horta do meu avô.
Era um lagar muito bem equipado e com um dos melhores acessos. O mestre era o sr. António Rodrigues (da Rosa) e mais três lagareiros: o Lino
(homem da Ramos), o Tó Relojoeiro e o meu irmão Fernando. O ganhão era o sr.
João da Resgate, sempre com o carro de bois a transportar a azeitona dos
ditos ranchos que andavam colher a azeitona.
O Lino era um homem com uma força bruta, quando chegava a azeitona em
enormes sacas que chegavam a pesar cerca de 100 Kg, era ele que subia aquela
escada para o piso superior onde se encontravam as tulhas.
O lagar trabalhava 24 horas sobre 24 horas, nos períodos em que havia mais
stock da matéria-prima. Os lagareiros dormiam no lagar durante toda a campanha.
Quando ia levar o almoço ao meu irmão Fernando, entrava no lagar e aquele
cheiro intenso e o calor da fornalha... Hoje digo que eram mesmo momentos mágicos
que nunca vou esquecer. Almoçavam todos juntos, mas sempre alguém com atenção à
rotina do lagar. Adorava explorar todos os cantos, mas com a autorização do mestre, e até ia deitar azeitona no pio, o que se fazia pelo piso superior.
O mestre sempre na sua zona a controlar todo o trabalho dos lagareiros e a gerir a separação do azeite para as tarefas e medir o azeite dos clientes para
as vasilhas que eram do lagar. O ganhão também tinha a responsabilidade de
entregar o azeite aos clientes que depois devolviam as vasilhas.
Havia
sempre homens que provavam as tradicionais tibornas e que eu também comia. Eram deliciosas! Um belo pedaço de pão torrado na fornalha e mergulhado no
azeite, era uma delícia.
No final do século XX, o método
tradicional de produção de azeite sofreu grandes alterações. As novas
tecnologias levaram ao processo de transformação contínuo, tendo-se assistido,
também, à mecanização na apanha da azeitona, ainda que em alguns locais
continue a ser efetuada manualmente.
As forças políticas desta maravilhosa vila e a cidade de C.B. nunca
pensaram em realizar um verdadeiro museu, aproveitando este belo lagar.
Em jeito de conclusão: Vale a pena pensar nisto...
Pio
Prensas
Tulhas
Nota: A
foto da roda do lagar é da minha autoria e as restantes foram retiradas da net.
Jaime da
Gama