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segunda-feira, 24 de agosto de 2009

P.e Branco

Vida em construção!

Uma vida singular constrói-se
Germinando silenciosamente,
Fruto dum abraço ofegante
De amor.

Entre choros, sorrisos e palavras,
A ternura embala o gérmen,
Que começa a aprender a sonhar
e a pequenas vitórias alcançar.

Cresce ao lado das minas
Brinca com o cascalho lavado
E aprende que o mais precioso
É preciso procurá-lo
bem profundo.

À escola da vida
Junta-se a escola de saberes
Ganha-se asas para sonhos mais altos,
Olhando a esperança para além dos montes.

Em casa e na comunidade
Constrói-se o chão que há-de receber
O chamamento a ser discípulo
Dum mestre que o quer
como colaborador.

Crescer é uma aventura,
Caldeada de luzes e sombras.
Os compromissos, um desafio assumido
Pelo coração de sacerdote
E a imaginação de construtor.

Vida em construção,
Mãos arregaçadas.
É difícil aguentar tanto sonho
Por concretizar.

A criatividade e o engenho
Soltam-se em jorros de projectos
O espiritual e o material convivem unidos
Pois Cristo a todos fez redimidos.

Perante uma casa, é arquitecto
Na Igreja, sacerdote
Na escola, professor
Na vida, mestre de valores
Junto ao idoso e doente, profeta da esperança.

Vida em construção até à exaustão.
E quando as estruturas enfraquecem
E o ritmo vai diminuindo
O sonho não pára nem esmorece
Pois nasceu projecto
para viver em construção.

Fátima, 14/04/2008

P.e José Leitão

Nota: E desta ideia, tornada poema, nasceu o título Uma vida em construção - Homenagem ao Padre António Branco, dado ao livro com que homenageámos o P.e António Branco. O poema não foi incluído no livro, por, na altura em que foi escrito, já não se enquadrar no projecto definido.

domingo, 23 de agosto de 2009

P.e António Branco

Parabéns!
O menino nasceu, na Panasqueira, a 23 de Agosto de 1924. Era filho de António Lopes Branco, natural de Casegas, e de Luzia de Jesus Marques, natural de S. Vicente da Beira. Puseram-lhe o nome de António Francisco Branco Marques.
Hoje, faz 85 anos. Parabéns, P.e Branco!


Como nasceu o livro

O convite chega-me pelo P.e José Manuel Figueiredo, na Primavera de 2007. A prenda seria oferecida ao P.e António Branco, no dia do seu aniversário, em Agosto de 2008.
O desafio é, à uma, prestigiante e inquietante. Honra-me escrever um livro sobre a pessoa que mais contribuiu para o desenvolvimento de S. Vicente da Beira, mas porquê eu, que, na minha juventude, tantas discordâncias tivera com o P.e Branco?
Começam as trocas de e-mails, com os padres José Manuel e José Leitão, e as dúvidas vão-me surgindo: escrever uma biografia em que se mostrasse a pessoa totalmente, nas suas virtudes e defeitos ou um livro de homenagem, honrando um homem pelo serviço prestado à comunidade? Peço opiniões e, mais do que as respostas dos outros, o tempo vai-me amadurecendo a certeza: não se honra um homem que dedicou toda a sua vida aos outros, mesmo fazendo-o à sua maneira, atirando-lhe as fraquezas à cara, embora disfarçadas em bonito invólucro de prenda de aniversário.
Em Setembro, desloco-me ao couto mineiro da Panasqueira, onde o P.e Branco tem as suas raízes, mas primeiro passo por Bogas e Janeiro, paróquias onde ele trabalhou. Falo com pessoas, recolho testemunhos e guardo memórias, na máquina fotográfica.
Segue-se a investigação nos documentos escritos. Os muitos exemplares do jornal “Pelourinho” que o P. José Manuel me entrega são, para mim, uma revelação. Está lá quase tudo, sobre a vida da paróquia, entre 1962 e 1973. Procuro os que faltam no Pedro Inácio Gama e depois no José Manuel dos Santos e no João Benevides Prata. E vou-me recordando daqueles tempos, sobretudo dos que foram os da minha infância e adolescência. De muitas coisas, nem tive conhecimento na altura.
Há que esclarecer dúvidas, consolidar certezas, acabar com mitos. Falo com o Sr. José Matias sobre a electrificação da Vila. Com outras pessoas sobre vários assuntos. Vou-me apoiando em quem viveu os principais factos, dos quais o P.e Branco foi agente principal ou mesmo secundário. Os meus pilares de apoio são os padres José Manuel e José Leitão, a que vou juntando o Pedro Gama Inácio, o José Manuel dos Santos, o casal João Prata e Maria do Carmo, o casal Ernesto Hipólito e Celeste Jerónimo, o Pedro Matias e outros. São eles que me fornecem o grosso das fotografias necessárias. E telefono à irmã do P.e Branco, Maria Libânia, ainda a viver no Cabeço do Pião, que me conta histórias da sua infância e depois me envia fotos de família, pelo P.e José Manuel.
Nessa altura, já o livro tem forma na minha cabeça. A base será composta por depoimentos de amigos e de pessoas institucionalmente ligadas ao trabalho do P.e Branco. Consulto o P.e José Manuel sobre a lista das pessoas a quem pedir depoimentos. Chegamos a acordo, mas a lista vai sendo acrescentada e o livro enriquece. Fica de fora o povo anónimo, mas o fracasso na recolha do depoimento de uma pessoa pouco ligada ao mundo da escrita leva-me a ser pragmático.
Faz-me falta uma conversa com o P.e Branco. Há coisas que só ele me poderá esclarecer totalmente, mas não se lembra, na visita que lhe faço, com mentiras da minha parte, na tentativa de ocultar a prenda-surpresa que lhe preparamos. Mas empresta-me fotografias, “para um estudo em que ando a trabalhar”.
O livro está quase acabado no meu computador. Levo-o ao Carlos Azevedo Matos, do Salgueiro do Campo, professor de Artes na Secundária de Alcains, quase meu vizinho, em Castelo Branco. Ele faz o arranjo gráfico. Em Maio, já de 2008, vamos a S. Vicente, tirar duas ou três fotografias que faltam. E passamos pelas cerejas do Ribeiro de Dom Bento.
Peço ao meu primo Jaime Teodoro Nicolau apoio para o livro. O P.e José Manuel faz o mesmo junto da Fonte da Fraga, na pessoa do Pedro Matias.
Em meados de Agosto, o livro chega da tipografia. É uma excelente prenda de quem muito recebeu para quem tudo deu. E na festa de homenagem da paróquia ao seu ex-pároco, o P.e António Branco está feliz, rodeado de muitos amigos e pelo livro que recebeu de prenda lhe permitir recordar o tanto que ficou para trás nos seus 84 anos de vida.

Nota: O livro Uma vida em construção – Homenagem ao Padre António Branco pode ser adquirido, em S. Vicente, junto da Comissão da Fábrica da Igreja, e, em Castelo Branco, na Livraria Multimédia, ao lado da Sé.


O P.e Branco, em criança, com as irmãs Maria Libânia e Maria José. Foto de família.


Casinhas dos trabalhadores, no Cabeço do Pião. A família do P.e Branco veio habitar a primeira a ser construída. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.


O Cabeço do Pião, visto dos lados da Panasqueira. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.


Eu e o meu cicerone e amigo, o P.e José Cortes, em Janeiro de Cima. Ao fundo, o Centro Paroquial, construído pelo P.e Branco. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.


Maria Lucinda Dias de Carvalho, catequista de Janeiro de Cima, na época em que o P.e Branco ali paroquiou. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.


A Casa Paroquial de Bogas de Baixo, a que o P.e Branco construiu o 1.º andar. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.


Adelino Simão, amigo pessoal do P.e Branco, em Bogas de Baixo. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Padre Branco


O Padre António Branco, na Senhora da Orada. Foto do P.e José Leitão.

O tempo ensina-nos muitas coisas. A mim realçou-me a beleza dos mais velhos. Cada vez que me cruzo com um idoso, de passo incerto e rosto enrugado, imagino quantas pessoas haverá a quem aquele homem ou aquela mulher deram tanto de si próprios. Se o mundo é um gigantesco puzzle, cada um colocou nele algumas pequenas peças, encaixando-as no todo.
Por isso, embora às vezes postos de lado, como coisas sem valor, pela forma com estes tempos modernos se organizaram, a eles se deve a vida no presente, embora quem dela beneficia nem sempre se aperceba disso.
E nesta dívida de gratidão pelos mais velhos, há a esfera privada e a coisa pública. Homens e mulheres houve que deram tudo pelos seus. Outros foram mais além e deixaram a sua marca na sociedade, pela obra que edificaram a bem de todos.
O Padre António Branco pertence a esta segunda categoria, ele que tão cedo abdicou de centrar a sua vida na busca da felicidade pessoal, antes se dando totalmente à comunidade.
Há precisamente um ano que a paróquia de S. Vicente da Beira lhe prestou uma justa homenagem, por iniciativa do actual pároco, o P.e José Manuel Figueiredo: missa na Igreja Matriz, descerrar de uma placa toponímica numa rua com o seu nome, lançamento do livro “Uma vida em construção - Homenagem ao Padre António Branco” e lanche partilhado.
Deixando a Deus o que é de Deus, contento-me com o que é de César, relembrando a obra extraordinária que o Padre António Branco teve a capacidade de construir em S. Vicente da Beira.

- Criação da Telescola.
- Urbanização do Quintalinho.
- Electrificação da Praça.
- Arranjo das entradas de S. Sebastião e S. Francisco: ajardinamento dos espaços e alcatroamento das ruas.
- Melhoramentos na Senhora da Orada: alcatroamento da estrada, abertura de parques de estacionamento e reordenamento do recinto da capela.
- Apoio ao Clube.
- Apoio à Banda Filarmónica.
- Apoio à criação dos Escoteiros.
- Construção do Pavilhão Paroquial.
- Obras de restauro de todas as igrejas e capelas da paróquia, com destaque para as da Igreja Matriz, no início da década de 70 e cerca de 1990.
- Restauro das imagens da Ordem Terceira e retomar da sua procissão.
- Aquisição de uma carrinha da paróquia, para transporte dos alunos da Telescola e serviços da paróquia.
- Comemorações dos 800 Anos de S. Vicente da Beira.
- Reforço dos laços entre S. Vicente da Beira e a comunidade de vicentinos a viver na região de Lisboa.
- Reconversão do Pavilhão Paroquial em fábrica de confecções de lã.
- Reconversão do antigo Hospital em Creche e Lar de Idosos.
- Construção da Casa Paroquial.
- Construção da Casa Mortuária.
- Criação dos Museus de Arte Sacra da Santa Casa da Misericórdia e da Igreja Matriz.

Nuns casos teve ajuda, noutros fez tudo sozinho e situações houve em que apenas colaborou com os responsáveis. Parte da obra que realizou nem sequer era da esfera religiosa. Não tinha de se ralar, mas agiu, porque sabia que não basta limparmos a nossa testada, a acção tem de ser global.
Concordo com o final do depoimento do Pedro Matias, no livro que dedicámos ao P.e Branco: «…uma pessoa com uma visão e um empenho que deixam a léguas muitos...»
Por mim, os dedos da mão chegam para contar os que se lhe igualam.


O P.e Branco no campo de futebol, a cumprimentar os jogadores da equipa de S. Vicente, com o senhor Eduardo Cardoso e os dirigentes do Clube, na segunda metade dos anos 70. A foto é propriedade do P.e Branco.


O P.e Branco no campo de futebol de S. Vicente. A pessoa que ele aqui cumprimenta está à direita, na foto anterior, pelo que ambas são da mesma altura. A foto é propriedade do P.e Branco.


O P.e Branco com a comitiva do Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, de visita à Barragem do Pisco, em 1969.


O P.e Branco com o Presidente da Câmara, Joaquim Morão, a descerrarem a lápide que assinala a inauguração da sede dos Escoteiros, ao fundo da Devesa, em 2005. Foto do Pedro Gama Inácio.


O P.e Branco na inauguração da exposição de pintura de Luci Bento (2004), em Santiago, na Partida, acompanhado pela artista, pelo Presidente da Câmara, Joaquim Morão, e pelo Presidente da Junta, João Benevides Prata. Foto do P.e José Leitão.