sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O nosso falar: pedrisco

Na quarta-feira, ao início da noite, caiu pedrisco em São Vicente, cobrindo o chão.
Não é vulgar nesta época do ano, tal como a trovoada que soou em Castelo Branco, quase à mesma hora.
Pedrisco vem de pedra, pois as gotas da chuva, ao atravessarem uma zona da atmosfera muito fria, congelam e caem sob a forma de pedrinhas de gelo.
O povo diz que caiu pedra se as pedras de gelo são maiores. Um dia , era eu pequeno, caíram pedras tão grossas que uma delas partiu a cabeça ao Sorna.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O tempo dos poetas

Encontrei esta música que já não ouvia há muitos anos. 
Brutal! 
Inquietante como os tempos que vivemos.

Paz, Poeta e Pombas 
A Paz viajou em busca do silêncio 
Sitiou Berlim 
Abdicou em Londres 
A Paz saltou dos olhos do poeta
Atacada de psicose maníaco-depressiva

Foi nessa altura que as pombas 
Solicitaram nas agências as tarifas 
Mas não viram mais o poeta 
Que gozava na Suíça 
Duma licença graciosa

A Paz saiu aos saltos para a rua 
Comeu mostarda
Bebeu sangria 
A Paz sentou-se em cima duma grua 
Atacada de astenia

Foi nessa altura que as pombas 
Solicitaram nas agências as tarifas 
Mas não viram mais o poeta 
Que gozava na Suíça 
Duma licença graciosa 

 José Afonso, 1973
Do album "Venham mais cinco"
(Acompanhado por Mário Viegas)





sábado, 19 de janeiro de 2013

O nosso falar: sevejice

Hoje da manhã aventurei-me no temporal e fui comprar pão a um café perto da minha casa. O dono é da Charneca, não me lembro de que povoação.
Comprei um pão e apeteceram-me umas bolinhas de mistura que lá se vendem. Pedi duas, mas o senhor respondeu-me que já estavam encomendadas e ofereceu-me papossecos.
"Deixe lá, eu não preciso delas, era só sevejice, como se diz lá para os nossos lados." Respondi, em jeito de desculpa.
Do que me fui a lembrar, sou mesmo um charneco! Aos anos que essas palavra não me saía!
Nem sequer sei escrevê-la. Meti-a no Google e ficou maluco, a dar-me só palavras estrangeiras, muito diferentes.
Não sei se se escreve sevejice, cevejice, sevejisse ou cevejisse. Uma delas está certa.
Mas sei o que significa: é um misto de gulodice e inveja. Recordo-me bem que sevejo era alguém que queria para si as coisas que outro tinha, sobretudo comida.
Uma palavra dos tempos da fome, que nesta região abrange todos os tempos, excepto os últimos 30 anos!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O lobo branco

O homem seguia pelo caminho ao longo da ribeira, por entre lameiros e olivais. Dava os bons dias aos que desde cedo trabalhavam nas fazendas rente ao caminho e levantava a mão aos que de longe lhe acenavam. Ia ao Fundão por via de umas trempes para as panelas do lume. No mercado das segundas-feiras havia de tudo e aproveitava para comprar também um molho de cebolo, pois o que semeara no canteiro estava amarelo, não vingava.
Embora a manhã estivesse fresca, o caminho sempre a subir secara-lhe a garganta e foi molhá-la à fonte da Orada. Junto da capela tirou o chapéu, benzeu-se e rezou uma Ave Maria a Nossa Senhora.
Voltou ao caminho, agora cada vez mais inclinado. Subiu nas calmas, sempre no mesmo passo, pois ainda havia muito caminho para andar. O sol já brilhava, mas o tempo andava incerto. “Em abril, águas mil”, lá dizia o ditado e era capaz de se trabalhar, pois do outro lado da serra assomavam nuvens negras. Chegou ao Alto da Portela e lançou um olhar pela paisagem: montanhas e vales escurecidos pelas nuvens. Mas para a frente é que era o caminho. Desse no que desse, não seria a primeira nem a última molha. Seguiu nas endireituras do Cavalinho, um cume mesmo por cima do Fundão.
Comeu uma bucha de pão seco que trouxera de casa e o tempo passou depressa, entretido a pensar na vida e a admirar a paisagem florida de giestas e carquejas. Antes do meio-dia, estava no mercado. Feirou o que tinha a feirar e ainda comprou um podão, porque o achou a bom preço e o que tinha em casa já estava bem reles para cortar a lenha e o mato.
Encontrou os primos de Alcongosta e deram dois dedos de conversa. Já à saída do mercado, cruzou-se com um amigo do Castelejo, antigo companheiro do tempo em que andara nos caminhos de ferro. Foram à taberna beber um copo. Depois outro, com tremoços a acompanhar. A sala era um buraco escuro, com homens de pé, encostados ao balcão, ou sentados nos bancos corridos, encostados à parede. Havia outra sala mais iluminada, com mesas e cadeiras, mas não era para ele, o vinho e os tremoços já chegavam para entreter o estômago.
Despediu-se do companheiro e partiu com a saca das compras ao ombro. Olhou para o céu e percebeu que apanhar uma molha era tão certo como chamar-se Joaquim. Subiu caminho e mais caminho. Frente ao Cavalinho virou à direita para a Portela. Era ainda cedo, mas escurecia como se estivesse a anoitecer. Dos altos da serra desceu um nevoeiro cerrado e quando o apanhou começou a chover. Compôs o casaco e o chapéu e continuou.  Via-se cada vez menos, pouco mais que dez passos à frente. Levantou-se uma ventania e a chuva batia-lhe na cara com força, depressa lhe encharcou a roupa, cada vez mais pesada.
Estava farto de andar e nunca mais chegava às cercanias da Portela. Depois pareceu-lhe que já passara por ali, mas talvez estivesse enganado. Viu uma piçarra grande, inclinada para a frente e aproveitou para descansar. Meteu-se debaixo dela, resguardado da chuva mais forte. Respirou fundo e acalmou, tentando perceber para que lado era o Fundão e para que lado era São Vicente. Já não tinha certezas e a noite parecia ter chegado. Aproveitou para comer o resto do pão que trouxera de casa, pois já sentia fraqueza. O corpo começou-lhe a arrefecer e por isso saiu do abrigo e meteu-se de novo a caminho, na direção que lhe pareceu certa. Andou, andou, até ser noite de todo, sem que encontrasse qualquer sinal familiar.
O que fazer? Parar não podia. Num entroncamento de caminhos, mudou de sentido e continuou. Tinha de teimar. Andou, andou e nada. Passou por um castanheiro com uma taloca enorme e abrigou-se lá dentro.
Ele perdido na serra, ensopado até aos ossos, numa noite negra como breu, e a mulher e a filha em casa, raladas da sua demora. Que remédio senão passar a noite naquele abrigo, pois no escuro não conseguiria encontrar o caminho de regresso. Agachou-se de cócoras e tentou dormir. Sentia-se gelado e as pernas dormentes da posição. Esticou-as e sentou-se no chão, encostado ao interior do castanheiro. Adormeceu.
Um restolhar de animal acordou-o. Olhou para fora, mas não enxergava nada. O barulho ouvia-se cada vez mais perto e à frente dele apareceu uma grande mancha clara. O lobo branco! Fazia dois cães pastores, era enorme. Sentiu um arrepio mortal percorrer-lhe todo o corpo. Ficou imóvel e o lobo pareceu olhar para ele, mas continuou o seu caminho e desapareceu. Levou as mãos à cabeça, tinha os cabelos em pé!
Os antigos contavam histórias do lobo branco, o chefe de todos os lobos da serra, mas ele sempre julgara que eram apenas histórias. Não percebia porque é que o lobo o poupara. Anos antes, tinham encontrado umas botas com os pés de um homem dentro. Os lobos devoraram-no, só não conseguiram comer os pés metidos nas botas.
Mal pregou olho o resto da noite e ainda voltou a assustar-se quando um bicho passou rente ao castanheiro e fixou nele o olhar, duas bolinhas brilhantes. Talvez uma raposa. Quando começou a clarear, saiu do castanheiro e tentou retomar o caminho para casa. O céu limpara, era outro dia. Vasculhou os horizontes até que teve a certeza de um dos cumes ser o Cabeço do Mastro, situado ao lado da passagem da Portela. Foi caminhando sempre de olho nele até chegar ao alto. Depois desceu e um pouco abaixo da ermida da Orada viu dois vultos que vinham na sua direção. Mais de perto reconheceu a mulher e a sogra. Estava em casa.

Nota:
Ouvi muitas vezes, nas matações dos Teodoros, contar este episódio que se passou com o meu tio Joaquim Nicolau, o matador da família. Esta história  está muito pouco ficcionada, apenas se acrescentou o lobo branco que, segundo se conta, apareceu mesmo, mas nas Tapadas, a um filho do tio Manuel Rodrigues e da tia Ana Prata. A parte das botas que apareceram só com os pés dentro é uma história que se contava na minha infância.


Pelo caminho "dos mouros", da Orada ao Alto da Portela, sempre a subir.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Haverá Festas de Verão!


José Barroso
BREVES

Reuniu, pela primeira vez, no dia 22 de dezembro passado, a Comissão de Festas de Verão de S. Vicente de Beira, para 2013.
Fazem parte desta comissão: ‘Cila’ Rodrigues, Filipa Santos, Inácio Pereira, Zeca e Pedro Gama Inácio, Bruno Reis, Francisco Vitório, Zé Barroso, Roque Lino, João Candeias e Luís Moreira.
Acrescem as boas vontades, para ajudar (esperamos nós) das respectivas caras metades ou afins. E, ainda, de amigo(a)s e voluntário(a)s, em caso de necessidade.  
Na reunião, falou-se das coisas habituais nestas circunstâncias. Basicamente, como em qualquer acontecimento que necessite de ser financiado para ser posto em marcha, há duas coisas a ter em conta: a DESPESA e a RECEITA. Óbvio.
Então, genericamente:

DO LADO DA DESPESA
1 - Programa das Festas, com licenças que é necessário obter junto das entidades oficiais; fornecimento de produtos para o bar e serviço de comidas; contratação de grupos musicais ou artistas; contratação da banda de música; fogo; actos religiosos.

DO LADO DA RECEITA
2 - Meios de angariação de fundos, com várias rifas; sorteios; donativos; quermesse; venda, por difusão áudio, no recinto da Festa; receita do bar e serviço de comidas; peditórios; publicidade; outros.

O objectivo desta primeira reunião foi, desde já, começar a apontar caminhos e distribuir tarefas, com vista ao evento que terá lugar no fim de semana que integre o primeiro domingo de Agosto, como é do conhecimento geral e, que, no presente ano, vai do dia 2 ao dia 6 de Agosto.
Nestas coisas, ficam sempre mais sobrecarregados de trabalho os elementos residentes na Vila ou próximo (v.g. Castelo Branco).
É por isso que necessitamos de conciliar esforços para que a sobrecarga não provoque rupturas, uma vez que as pessoas têm limites pessoais, profissionais e familiares.

Três notas há a retirar desta primeira reunião: 
- A primeira tem a ver com a constatação de que existe vontade de realizar a Festa, apesar do problema da desertificação da nossa zona.
- A segunda, consequente a esta, é manter a tradição.
Por outro lado, há consenso na Comissão para tentar recuperar algumas rubricas de programas de outros tempos, como, por exemplo, o lançamento de algum fogo, pelo menos nos momentos mais significativos da Festa, laicos ou religiosos (v.g. alvorada ou descarga de fogo à passagem do Santíssimo no largo da Fonte Velha, na procissão de 2.ª feira à tarde). 
- A terceira, não menos importante porque dela tudo depende, é a difícil situação sócio económica do país que pode ter reflexos financeiros no orçamento da Festa e que tem a ver com a contenção de despesas.
Como medida imediata de angariação de meios, vamos manter a tradição do peditório da esmola do azeite em S. Vicente da Beira, em honra do Senhor Santo Cristo, que terá lugar já no próximo dia 20 de janeiro.
Pode parecer pouco, visto que o azeite não tem hoje a importância de outrora na economia local. Mas, como diria um dos membros da Comissão, poderá ajudar nas despesas dos licenciamentos e autorizações para a Festa.
Por último e porque nos abalançamos a uma tarefa com alguma dimensão no pior ano económico do país das últimas décadas, contamos com TODOS para a levar a cabo.
Obrigado e até breve.
A Comissão de Festas

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Azeite novo

Luzita Candeias

Lareiras e tabornas

Se bem me lembro…
O Outono começou em Setembro,
O mês passado foi Novembro,
E já se iniciou Dezembro.

No primeiro dia,
Com o frio que fazia,
Só a lareira aquecia,
O corpo e a água que na cafeteira já fervia.

As fatias de pão pediram: - Façam-nos torradinhas.
Ficaremos coradinhas
E com azeite novo regadinhas,
Seremos taborninhas.

E assim foi feito.
Ficaram de lamber o beiço,
E tirámos fotos que ficaram a preceito.

Ora vejam só….


sábado, 5 de janeiro de 2013

De vento em popa

Como vêem, a construção da sede da Banda Filarmónica Vicentina vai bastante adiantada.
Segundo informação do Comissário Barroso, a obra estará pronta a inaugurar na Primavera.
O aspeto exterior do edifício respeitará a traça das casas que aqui existiam.


Os receios que eu aqui manifestei, aquando do início das obras, não eram de todo justificados. Agora já se consegue ter uma melhor noção do espaço e penso que é suficiente para a atividade da Filarmónica.
Claro que há alguma diferença entre o que eu idealizara e o que foi possível fazer (Sonhar não prejudica ninguém!).
Mas o resultado final é francamente bom e a banda ficará servida com uma sede ao nível do importante papel que desempenha na vida da nossa comunidade.