Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
terça-feira, 24 de setembro de 2013
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
840 ANOS!
Este
sábado a nossa praça voltou a encher-se de gente!
Desta
vez foi o I Congresso Nacional sobre Turismo e Património Imaterial que trouxe
até nós muitas pessoas ligadas a projectos variados nestas áreas, a nível nacional. Esta partilha
de conhecimentos e experiências e a inclusão de S. Vicente no roteiro das
Aldeias Históricas de Portugal é um contributo importante para a valorização e
divulgação da nossa terra e do seu património material, imaterial e humano. Penso
que este facto deve ser motivo de orgulho para todos nós e oxalá seja também o
incentivo para nos empenharmos mais em restituir à nossa Vila a importância que
ela teve noutros tempos.
Mas
o ponto alto da festa foi a comemoração dos 840 anos de S. Vicente com a
recriação histórica da sua fundação.
Começou
com uma “procissão” que saiu da capela de S. Sebastião, passou pela Fonte Velha
e se dirigiu para a Praça. Muitas das pessoas que participaram estavam vestidas
à moda antiga, representando as diferentes classes sociais da época.
Chegados
à Praça, foi recriado o momento em que, como recompensa dos que tinham
participado na batalha de Oles, D. Afonso Henriques mandou que se erguesse uma
igreja para substituir a da Orada que ficava muito longe. Para além de dez
moedas e mais alguns privilégios, o rei ofereceu também uma relíquia (pequeno
osso) do Mártir S. Vicente.
A
mando do rei, a igreja foi erguida no local onde ainda hoje se encontra e à
povoação foi dado o nome de S. Vicente.
Para
terminar a festa, houve uma ceia à moda antiga, com muita carne, bom pão e bom vinho.
Mas desta vez o povo também encheu a barriga!...
Em
todas estas comemorações e festas que têm acontecido nos últimos tempos, o que
me tem chamado mais a atenção é o facto das pessoas virem todas para a rua e
participarem nas iniciativas com muito entusiasmo. É bom voltar a ver a nossa Praça
cheia de gente, à moda de outros tempos! Tenho reparado sobretudo nas crianças
e jovens. Para além de quererem participar ativamente, o que elas se divertem!
Penso que serão estes momentos, que agora vivem com tanto prazer, que eles
lembrarão quando forem adultos e os farão ficar por cá ou voltar sempre que
puderem.
domingo, 22 de setembro de 2013
1173 - Recriação histórica
Carta de fundação da igreja de São Vicente de Ocaia
Em nome da santa e individua Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
Ámen.
Eu, rei Afonso, filho do conde Henrique, por graça de Deus e com muitos
trabalhos, libertei este reino dos inimigos de Cristo e o fiz retornar ao seio
da Santa Madre Igreja.
Pedem-me estes homens bons que ora recebo na minha corte a mercê de uma
Igreja e mais privilégios e isenções.
Vivem os ditos cristãos na encosta soalheira da serra da Ocaia e se
acostumavam refugiar no Castelo Velho, ao tempo da ocupação e das incursões
sarracenas. E, aquando da nossa reconquista daquelas terras, acudiram os ditos
cristãos em auxílio dos meus cavaleiros, na batalha que houveram na Oles, ao
fundo da dita serra e aonde a campina se começa a dilatar, e juntos lograram
levar de vencida os copiosos infiéis.
E os ditos cristãos têm na Orada o seu culto ao único Deus verdadeiro,
desde tempos imemoriais, e nunca esmoreceram o seu fervor a Deus e ao Santo
Mártir Vicente, mesmo sob o domínio dos infiéis sarracenos. E por todo o sempre
teve a dita ermida o seu presbítero, posto pelo bispo de Idanha. A qual Orada é
sita na raiz da serra da Ocaia, em lugar ermo, junto à estrada que passa a dita
serra.
E vivendo os ditos cristãos longe da Orada, dispersos por casais e
montes, mando que se crie uma Igreja no lugar onde mora o maior número deles,
meia légua abaixo da dita ermida, no vale da ribeira que dali desce para o
campo, a qual Igreja será sustentada pelas rendas a que a minha Majestade tem
direito neste lugar e termo. E terá a dita Igreja um clérigo de nomeação real.
E quero que a dita Igreja tenha como padroeiro o Mártir São Vicente,
cujo sagrado corpo porfiámos resgatar aos infiéis que inda dominam o
Promontório Sacro e trazer para esta minha cidade de Lisboa, o qual corpo ora
trasladamos da Igreja de Santa Justa para a Igreja da Sé, por ser esta de maior
dignidade.
E das santas relíquias entrego aos homens bons que me enviaram os ditos
cristãos da Ocaia o osso do queixo do dito Santo Mártir, a qual relíquia deve
ser venerada para todo o sempre na dita Igreja que ora mando que se crie.
E mais ordeno que os cristãos da dita Igreja de São Vicente lhe façam uma
festa todos os anos, no dia do seu culto, a vinte e dois de Janeiro de cada
ano, saindo o povo em procissão com a relíquia do Santo Mártir. E as despesas
corram pelo povo do lugar e seu termo.
E deve o dito lugar onde ora se edifica a dita Igreja tomar o nome de SãoVicente, para maior honra ao Santo Mártir e para que perdure por todo o sempre
o culto religioso que lhe é devido.
E mais ordeno que os moradores de São Vicente e seu termo vão todos os
anos ao Castelo Velho, para que não caiam no esquecimento os factos que nesta
carta se memoriam.
Feita na minha cidade de Lisboa, aos vinte e seis dias do mês de Setembro
da era de mil cento e setenta e três.
Rei Dom Afonso Henriques.
Notas:
Texto que serviu de base à recriação histórica que nos recordou os 840 anos da criação de São Vicente da Beira.
Texto que serviu de base à recriação histórica que nos recordou os 840 anos da criação de São Vicente da Beira.
A presença, na recriação, dos símbolos templários é uma adulteração histórica, pois São Vicente pertencia ao rei (integrávamos o território da Covilhã) e não aos Templárias, donos do território do Ocreza até ao Tejo. O seu uso deveu-se a não termos fatos e símbolos alternativos (foi melhor fazer assim do que não fazer nada).
Parabéns a todos os participantes e um obrigado especial ao Marlon, o ator que, com condições muito precárias, mobilizou a comunidade vicentina nesta recriação histórica. Foi bonito!
José Teodoro Prata
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Jornadas Europeias do Património 2013
I Congresso Turismo e Património Imaterial
Sessão de abertura, no salão da Biblioteca Municipal de Castelo Branco, ao início da tarde. O Presidente da Região de Turismo do Centro, no uso da palavra.
De manhã, as atividades tiveram lugar na escola sede do Agrupamento de Escolas José Sanches e S. Vicente da Beira, em Alcains. Disseram-me que correram muito bem e a ti Janja encantou.
Estive na sessão da tarde e assisti a apresentações de grande qualidade.
Amanhã, depois do almoço, em São Vicente!
José Teodoro Prata
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
I Congresso Turismo e Património Imaterial
O almoço de sábado, dia 21, é já em São Vicente e os trabalhos da tarde decorrem no salão nobre da Junta de Freguesia.
Seria importante contar com a presença de todos os que estão ligados à cultura, à restauração...
Ao fim da tarde, festejamos os 740 anos da criação de São Vicente da Beira, com recriação histórica e ceia medieval para todos os participantes, convidados e população em geral.
José Teodoro Prata
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Namoros
A
propósito do facto curioso de, no passado haver muitos homens que casavam com
mulheres de fora das suas terras, lembrei-me de duas situações que podem ajudar
a compreender o fenómeno, pelo menos num tempo mais recente.
Há
tempos, numa das “tertúlias“ na taberna da Amália, chegámos à conclusão de que
em meados do século passado, só no Casal da Fraga, havia umas oito mulheres da
Charneca casadas com homens de cá. Perguntei à Ti Trindade que nasceu nos
Pereiros e também por cá casou, qual seria a razão de tantos homens irem à
procura de mulher fora da terra. Ela, naquele jeito desabrido que a idade
perdoa e faz questão de exibir, respondeu-me o seguinte:
- Olhe, sabe porquê? É que naquele tempo a maior parte das raparigas da Vila iam
a servir para a Covilhã ou para Lisboa. Muitas arranjavam por lá namorados e
por lá ficavam. As que para cá tornavam vinham todas finas, vestidas à moda,
com sapatos de salto alto, água de cheiro e pó d’arroz na cara, e não queriam
casar com os rapazes que trabalhavam no campo. Por isso eles tinham que ir arranjar
namoradas por lá. Nos Pereiros, na Partida ou no Mourelo éramos umas
desgraçadas. Trabalhávamos no campo ou nos pinheiros, íamos ao terço, ao quinto
ou para a azeitona, descalças, sujas e com fome, e tínhamos que nos assujeitar ao que aparecia. Por estas e
por outras é que eu nunca tive vontade de me casar, mas os meus pais
obrigaram-me a casar, mesmo descontra
vontade…
Claro
que esta é apenas uma opinião e, se calhar, nem corresponde à verdade, mas
acho-a interessante porque ajuda a entender a perceção que as mulheres da
Charneca tinham das mulheres da Vila. Provavelmente a opinião das de cá,
relativamente a elas, também não era grande coisa…
Também
ainda a este propósito, calhou há tempos perguntar a uma vizinha como é que
ela, sendo do Violeiro, tinha conhecido e casado com um homem do Casal da
Serra. Contou-me a seguinte história, mais ou menos por estas palavras:
- O meu homem tinha um primo
que corria as terras todas por aí a negociar em gado e em peles. Um dia disse-lhe
se não queria ir com ele ao Violeiro porque havia lá festa e havia de haver por
lá muita pele de cabra e borrego para vender. O meu, que gostava muito de festas,
disse logo que sim e foram os dois. Quando lá chegaram, correram as casas todas
a ver quem tinha peles para vender e quando chegaram à casa do meu pai já era à
hora do jantar e o meu pai disse-lhes se eles não queriam comer com a gente.
Eles disseram que sim e lá estiveram a comer do que havia. Contaram de que
terra é que eram, quem eram as famílias deles, e o meu pai até conhecia a
família do outro. Ao fim, lá foram à vida deles.
À tarde, eu fui com as minhas
irmãs e as minhas primas até ao largo da festa e eles ainda por lá andavam e
fartaram-se de olhar para nós. À noite, quando começou o baile, um deles veio-me
tirar para dançar, mas como eu era um bocado envergonhada disse que não, porque
não sabia dançar. Ele teimou, teimou tanto, que lá fui. Mas o raio do homem
dançava tão bem que dançámos a noite toda e ao fim disse-me se eu não queria falar
para ele. Eu disse-lhe que não, porque não o conhecia de parte nenhuma e tinha
que ter ordem do meu pai para namorar, se não levava uma sova, se ele soubesse.
E as coisas ficaram assim.
Passado uns tempos, o homem
aparece outra vez lá na terra e foi falar com o meu pai, para lhe pedir ordem
para falar para mim. O meu pai disse que sim, mas tinha de ser tudo com muito
respeito, porque tinha quatro filhas e não queria que nenhuma andasse falada na
boca do povo; e era para casar logo, porque eu já tinha idade! Começámos a
namorar e nem chegou ao fim de seis meses já estávamos casados.
M. F. Fereira
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Viola Beiroa
Estive, ontem, no lançamento do 1.º CD de música em que se usa a viola beiroa.
Esta viola local estava em extinção, já só se tocava na Senhora dos Altos Céus, na Lousa.
Alísio Saraiva deu-lhe afinação e Miguel Carvalhinho interessou-se.
Juntos fizeram renascer a viola beiroa e nesta momento já têm uma orquestra com mais 9 músicos.
É única no mundo. Recentemente, Alísio Saraiva participou num encontro de música tradicional, no Alentejo, e estava lá um brasileiro com uma igual: na terra dele serve para acompanhar a dança do fandango, ainda com tamancos, juntamente com o adufe quadrado, o nosso. Viola e adufe foram levados para lá, pelos nossos antepassados!
É uma viola com um som muito vocal, parece que canta.
Faz lembrar os volteios das vozes da Amália (pai albicastrense e mãe do Fundão) e do Zeca Afonso (foi um tio de Belmonte que lhe passou o gosto para a música e lhe ensinou a cantar as músicas tradicionais da Beira Baixa).
Sugestão: depois de ouvirem o 1.º vídeo, vão ao youtube e ouçam a Senhora do Almortão do Zeca. Vejam a semelhança entre a sonoridade da viola e a voz do José Afonso.
Sugestão: depois de ouvirem o 1.º vídeo, vão ao youtube e ouçam a Senhora do Almortão do Zeca. Vejam a semelhança entre a sonoridade da viola e a voz do José Afonso.
Miguel Carvalhinho disse que ao ouvir a viola beiroa nos sentimos em casa.
Eu senti o mesmo estremecimento genético que já sentia quando ouço os bombos.
Eu senti o mesmo estremecimento genético que já sentia quando ouço os bombos.
Assinar:
Postagens (Atom)