terça-feira, 10 de abril de 2018

Antes e depois...

A charca do Casal Pousão:
Esta fotografia foi tirada há dois anos, mais ou menos por esta altura. 
Apesar dos eucaliptos, era um lugar lindíssimo: pelas cores, pelos cheiros, pelo silêncio ou o canto dos pássaros e do vento, pelos encontros inesperados com toda a espécies de animais.
Esta tem mais ou menos um mês 
(felizmente que as chuvas das últimas semanas repuseram a água).
Depois dos fogos, que queimaram quase tudo, vieram as máquinas e cortaram o que restou de arvoredo à volta de São Vicente.
E com as árvores terão ido outras espécies da vegetação que, por esta altura, embelezava a Gardunha. 
Terão ido também os coelhos, as raposas, os esquilos, as perdizes e muitas outras espécies animais que começavam abundar por aqui, e agora, provavelmente, tardarão a reaparecer. E os míscaros? E as pinhas? E o oxigénio?
Qualquer dia nem teremos com que acender o lume, quanto mais biomassa para alimentar as fábricas que começaram agora construir. Tarde, como quase sempre…

M. L. Ferreira

domingo, 8 de abril de 2018

Tira água à burra



A burra é um dos engenhos mais antigos e mais simples de tirar água dos poços.
Ainda não há muitos anos, havia muitas por todo o lado, principalmente se houvesse uma horta para regar. Atualmente ainda se vêem algumas, mas a maior parte já é pouco utilizada.
Eram de fácil construção: bastavam duas varas cujo comprimento variava de acordo com a fundura do poço, unidas uma à outra de forma a poderem articular-se. Uma delas era apoiada num poste de madeira que terminava em V (na da fotografia, o poste de madeira foi substituído por um de granito), e na ponta da qual, rente ao chão, era presa uma pedra que servia de contrapeso. Na ponta da outra vara pendurava-se um caldeiro que se fazia descer dentro do poço, até à água, puxando a vara para baixo com as duas mãos. Fazia-se depois o movimento contrário e despejava-se a água do caldeiro num tanque ou diretamente na regueira.  
Este trabalho, aparentemente simples, era feito muitas vezes por mulheres e até por crianças. Fi-lo algumas vezes, e gostava. O pior era quando a água era muita e as costas começavam a doer. Mas nem me queixava porque sabia que a resposta era sempre a mesma: «Ainda bem que há muita aguinha, filha, que sem ela havia de haver muita fome no mundo!».

M. L. Ferreira

sábado, 7 de abril de 2018

Fogos / Central de biomassa

Interior vai ter mais duas centrais, mas pode faltar a biomassa


Construção da central de biomassa na zona industrial do Fundão. 
A entrada em funcionamento está prevista para o final deste ano.

Está em marcha um investimento de €104 milhões em Viseu e no Fundão

Começaram a ser planeadas e construídas antes dos incêndios do último verão. Ou seja, com base num pressuposto de existência de biomassa florestal em quantidades mais que suficientes para a laboração normal destas duas novas centrais, no Fundão e em Viseu. Acontece que as chamas varreram tudo à sua passagem, incluindo a matéria-prima que estava disponível há anos — no chão das florestas e serranias — para estas duas unidades de produção de energia renovável.

Jornal Expresso online, 07.04.2018
José Teodoro Prata