Fui votar bem cedo, para evitar as filas que se viram no domingo. Cheguei ao Cine-Teatro às 08:15 horas e como eu tinham feito muitos.
Votava na mesa 15, situada no hall inferior. A fila descia
pela avenida e avançava lentamente. Ao chegar à porta, vieram chamar para a
mesa 14, mas a 15 não despachava ninguém. Aguardámos longos minutos, até um
eleitor ultrapassou uma data de gente e foi postar-se em frente à mesa. Já outro
fora reclamar pela paragem, que soubemos depois se dever a terem de meter na
urna os votos de há oito dias.
Entrei finalmente no hall. O eleitor que nos ultrapassara foi
votar e ficou a discutir a demora com os membros da mesa, agora sem pressas.
Estava um clima tenso, pela demora e porque as regras de
segurança devido à pandemia eram uma anedota: entrava-se pela porta principal
para duas mesas, passando os eleitores da mesa 14 pela fila da mesa 15, e mesmo
em frente a esta mesa.
Cheguei e disse Bom Dia! Todos me saudaram aliviados, pela
trégua que eu lhes trazia. À saída, fui premiado com novos bons dias por rostos que exprimiam alegria e agradecimento.
Como pode um banal e ingénuo Bom Dia ganhar tal relevância! A
que ponto chegámos? Andamos todos zangados e descarregamos em cidadãos
generosos que não têm culpa de nada?
Uma última nota sobre o eleitor que ultrapassou outros e
ficou a discutir com a mesa no momento em que devia estar na cabine de voto. Há
cada vez mais destes chico-espertos, centrados nos seus umbigos.
Nas escolas isso está em crescimento. Há vários anos que nos
admiramos por as crianças do 1.º ciclo só saberem falar aos gritos. Esta semana
que passou estive numa turma do 6.º ano e questionei-os sobre essa realidade,
pois ainda não se tinham desabituado. Os alunos concordaram que era verdade,
mas não sabiam porquê.
Penso/pensamos que gritam para se fazerem ouvir acima dos
outros, pois só eles contam. Se um colega está a falar, fala-se mais alto que
ele, para abafar a sua fala e fazer-se ouvir. São como o umbiguista de hoje de manhã, que parou na infância.
José Teodoro Prata