João Prata
João
Prata nasceu em outubro de 1893. Foi criado por Maria Castanheira, moradora na
Casa da Roda de São Vicente e a quem eram confiadas algumas das crianças
expostas neste concelho. Na altura, Maria Castanheira era casada com António
Prata, de quem João terá herdado o apelido.
Assentou
praça no dia 9 de julho de 1913 e foi incorporado no Regimento de Artilharia de
Montanha, em Castelo Branco, a 13 de janeiro de 1914. Segundo a sua folha de
matrícula, na altura em que assentou praça era analfabeto, não tinha profissão
certa e foi vacinado.
Pronto
da instrução em 4 de julho, passou ao quadro permanente em virtude de sorteio.
Foi destacado para a província de Angola e seguiu viagem no dia 11 de setembro,
como soldado condutor, integrando a 1.ª Expedição enviada para aquela província
ultramarina. Desembarcou em Moçâmedes, a 1 de outubro de 1914, e terá seguido
depois a pé, para sul, para a fronteira com a Namíbia.
Participou
na ação do dia 18 de dezembro de 1914, contra os alemães, fazendo parte das
tropas que ocuparam o vau de Calueque. Pertencia ao Destacamento que
reconquistou e ocupou o Cuamato, de 12 a 27 de agosto, tendo tomado parte
também na ação do Ancongo, em 13 de agosto de 1915, e no combate da Inhoca, em
15 do mesmo mês, dia em que o Destacamento entrou no Forte de Cuamato. Em 20 de
agosto, avançou com o mesmo Destacamento sobre Cunhamano, a fim de
restabelecerem as comunicações que haviam sido cortadas pelo inimigo. No dia 24
participou também no combate da Chana da Mula.
Embarcou
de regresso à Metrópole, no dia 16 de novembro de 1915, e chegou a Lisboa a 5
de dezembro.
Licenciado
em 15 de março de 1916, voltou a apresentar-se no dia 27 de abril. Foi novamente
licenciado em 21 de agosto, por exceder o quadro da bateria expedicionária. Apresentou-se
de novo em 18 de fevereiro, por ter sido convocado para serviço extraordinário,
e foi destacado para a província de Moçambique, para onde embarcou no dia 2 de
julho de 1917, para reforçar o efetivo da 3.ª Expedição que se encontrava muito
debilitado devido às baixas e às doenças de que muitos militares sofriam.
Regressou à Metrópole em 10 de maio de 1918. Licenciado em 30 de julho,
domiciliou-se na freguesia de São Vicente da Beira.
Passou
ao 2.º Escalão do Exército e ao 7.º Grupo de Baterias de Reserva, em 31 de dezembro
de 1923, e ao Depósito de Licenciados do R. A. 4, em 1 de outubro de 1926. A 9
de setembro de 1930, passou à Companhia de Trem Hipomóvel e à reserva ativa em
31 de dezembro de 1934.
Condecorações:
- Medalha comemorativa das Operações
no sul da província de Angola 1914-1915;
- Medalha comemorativa das Operações
em Moçambique 1914-1918;
- Medalha da Vitória.
Família:
Após
o regresso de Moçambique, João Prata casou com Maria Catarina na Conservatória
do Registo Civil de São Vicente da Beira, a 16 de fevereiro de 1920. O casal terá
ido residir para a Torre, Louriçal do Campo, de onde a esposa era natural. Tiveram
4 filhos: Conceição Prata, Maria Prata, José Prata e João Prata.
Residência de Maria Castanheira e António Prata, que funcionava como casa da roda, por Maria Castanheira ser a rodeira, nos últimos anos do século XIX.
A casa situa-se no alto da Rua da Cruz, à esquerda, fazendo esquina com a Corredoura.
Casa da Torre, residência familiar de João Prata.
João
Prata toda a vida trabalhou na agricultura, como jornaleiro, e também teve uma
taberna que se situava por baixo da casa onde morava. É provável que também
tivesse sido moleiro, que era a ocupação da família de Maria Catarina.
Ainda
há quem se lembre de ouvir falar dele e contam que era um homem simples, trabalhador
e de fácil relacionamento com toda a gente.
Teve
uma vida muito modesta e nunca terá conseguido que lhe fosse atribuída a pensão
a que tinha direito pela sua participação na Guerra, apesar de, em 1915,
durante as manobras para se deslocarem para Cunhama, ter tido um acidente que o
deixou a coxear para o resto da vida. Ainda apelou para que lhe fosse atribuída
uma compensação por essa deficiência e a incapacidade lhe fosse considerado
para efeitos de reforma, mas a pretensão foi-lhe negada. O parecer final,
assinado pelo Major Fabião, datado de 27 de Junho de 1927, considerava que a
deficiência era resultado da queda de um carro de bois, ocorrida uns anos após
o seu regresso de África, e não do acidente em Angola.
João
Prata faleceu no dia quinze de dezembro de 1943. Tinha 50 anos de idade.
(Pesquisa
feita com a colaboração de alguns habitantes da Torre)
Maria Libânia Ferreira
Publicado no livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"