domingo, 13 de fevereiro de 2022

A invenção da vacina

 A vacinação é um tema de grande atualidade, pelo que deixo aqui um vídeo que explica o básico e um site que nos dá uma perspetiva mais ampla.

https://www.youtube.com/watch?v=ENttrlq3zmg

https://www.medicina.ulisboa.pt/newsfmul-artigo/106/descoberta-das-vacinas-e-vacinacao

José Teodoro Prata

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

O 1.º plano de vacinação em Portugal (?)

 

Interessante este documento do Livro de Registos de Leis e Ordens que nos dá conta da que terá sido, provavelmente, a primeira campanha de vacinação em Portugal. Tem a data de seis de maio de 1820 e, no essencial, diz o seguinte:

«Dom João, por Graça de Deus Rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil d’ Aquém de d’ Além-Mar em África Senhor da Guiné vos faço saber a vós, Corregedor da Comarca de Castelo Branco, que querendo eu que efetivamente se propague a vacinação pelo grande e reconhecido benefício que resulta deste seguro e (?) preservativo das bexigas naturais que tantos estragos produzem na população. Fui servido ordenar que todas as autoridades Eclesiásticas, civis e militares procurem, quanto for possível, a sua propagação servindo-se dos meios que, sem coação, forem mais convenientes para se obter este importante objeto. Pelo que vos mando que assim executeis pela parte que vos toca, dando-me conta pela Mesa do meu Desembargo do Paço, de três em três meses, das medidas que a esse fim tiverdes adoptado e do seu resultado…»

Sabemos que a vacina contra a varíola tinha sido descoberta em finais do século XVIII, e é notável que na segunda década do século XIX, encontrando-se Portugal numa situação económica difícil, até pela devastação causada pelas invasões francesas, já dispuséssemos de vacinas para toda a população. É importante o facto da obrigatoriedade de a campanha envolver todas as autoridades civis, eclesiásticas e militares, e que dela tivesse que dar-se conta, quer das ações, quer dos resultados. É também interessante que, embora fosse recomendada, pelo reconhecimento dos grandes benefícios que trazia para o combate à doença, não era obrigatória.

Não sei se há registo da aplicação deste plano de vacinação, mas é possível que não tenha sido muito eficaz (possivelmente porque não era obrigatória e pelas convulsões políticas da altura): a mortalidade continuou muito elevada por esses tempos. Só em São Vicente em 1820 morreram cerca de trinta anjos (crianças até aos dois anos), muitos, devido à varíola.

É um pouco injusta a ideia que nos passaram ou fomos criando de D. João VI, uma figura grotesca, quase a rondar a debilidade mental. Só por estas medidas revelou ter a sabedoria que se esperava de um rei e que falta a alguns estadistas da atualidade.

M. L. Ferreira

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 João Prata

João Prata nasceu em outubro de 1893. Foi criado por Maria Castanheira, moradora na Casa da Roda de São Vicente e a quem eram confiadas algumas das crianças expostas neste concelho. Na altura, Maria Castanheira era casada com António Prata, de quem João terá herdado o apelido.

Assentou praça no dia 9 de julho de 1913 e foi incorporado no Regimento de Artilharia de Montanha, em Castelo Branco, a 13 de janeiro de 1914. Segundo a sua folha de matrícula, na altura em que assentou praça era analfabeto, não tinha profissão certa e foi vacinado.

Pronto da instrução em 4 de julho, passou ao quadro permanente em virtude de sorteio. Foi destacado para a província de Angola e seguiu viagem no dia 11 de setembro, como soldado condutor, integrando a 1.ª Expedição enviada para aquela província ultramarina. Desembarcou em Moçâmedes, a 1 de outubro de 1914, e terá seguido depois a pé, para sul, para a fronteira com a Namíbia.

Participou na ação do dia 18 de dezembro de 1914, contra os alemães, fazendo parte das tropas que ocuparam o vau de Calueque. Pertencia ao Destacamento que reconquistou e ocupou o Cuamato, de 12 a 27 de agosto, tendo tomado parte também na ação do Ancongo, em 13 de agosto de 1915, e no combate da Inhoca, em 15 do mesmo mês, dia em que o Destacamento entrou no Forte de Cuamato. Em 20 de agosto, avançou com o mesmo Destacamento sobre Cunhamano, a fim de restabelecerem as comunicações que haviam sido cortadas pelo inimigo. No dia 24 participou também no combate da Chana da Mula.

Embarcou de regresso à Metrópole, no dia 16 de novembro de 1915, e chegou a Lisboa a 5 de dezembro.

Licenciado em 15 de março de 1916, voltou a apresentar-se no dia 27 de abril. Foi novamente licenciado em 21 de agosto, por exceder o quadro da bateria expedicionária. Apresentou-se de novo em 18 de fevereiro, por ter sido convocado para serviço extraordinário, e foi destacado para a província de Moçambique, para onde embarcou no dia 2 de julho de 1917, para reforçar o efetivo da 3.ª Expedição que se encontrava muito debilitado devido às baixas e às doenças de que muitos militares sofriam. Regressou à Metrópole em 10 de maio de 1918. Licenciado em 30 de julho, domiciliou-se na freguesia de São Vicente da Beira.

Passou ao 2.º Escalão do Exército e ao 7.º Grupo de Baterias de Reserva, em 31 de dezembro de 1923, e ao Depósito de Licenciados do R. A. 4, em 1 de outubro de 1926. A 9 de setembro de 1930, passou à Companhia de Trem Hipomóvel e à reserva ativa em 31 de dezembro de 1934.

Condecorações:

  • Medalha comemorativa das Operações no sul da província de Angola 1914-1915;
  • Medalha comemorativa das Operações em Moçambique 1914-1918;
  • Medalha da Vitória.

Família:

Após o regresso de Moçambique, João Prata casou com Maria Catarina na Conservatória do Registo Civil de São Vicente da Beira, a 16 de fevereiro de 1920. O casal terá ido residir para a Torre, Louriçal do Campo, de onde a esposa era natural. Tiveram 4 filhos: Conceição Prata, Maria Prata, José Prata e João Prata.



Residência de Maria Castanheira e António Prata, que funcionava como casa da roda, por Maria Castanheira ser a rodeira, nos últimos anos do século XIX.
A casa situa-se no alto da Rua da Cruz, à esquerda, fazendo esquina com a Corredoura.

Casa da Torre, residência familiar de João Prata.

João Prata toda a vida trabalhou na agricultura, como jornaleiro, e também teve uma taberna que se situava por baixo da casa onde morava. É provável que também tivesse sido moleiro, que era a ocupação da família de Maria Catarina.

Ainda há quem se lembre de ouvir falar dele e contam que era um homem simples, trabalhador e de fácil relacionamento com toda a gente.

Teve uma vida muito modesta e nunca terá conseguido que lhe fosse atribuída a pensão a que tinha direito pela sua participação na Guerra, apesar de, em 1915, durante as manobras para se deslocarem para Cunhama, ter tido um acidente que o deixou a coxear para o resto da vida. Ainda apelou para que lhe fosse atribuída uma compensação por essa deficiência e a incapacidade lhe fosse considerado para efeitos de reforma, mas a pretensão foi-lhe negada. O parecer final, assinado pelo Major Fabião, datado de 27 de Junho de 1927, considerava que a deficiência era resultado da queda de um carro de bois, ocorrida uns anos após o seu regresso de África, e não do acidente em Angola.

João Prata faleceu no dia quinze de dezembro de 1943. Tinha 50 anos de idade.

(Pesquisa feita com a colaboração de alguns habitantes da Torre)

Maria Libânia Ferreira

Publicado no livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"


segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Legislativas 2022


Mais uma vez, os resultados da nossa freguesia coincidiram com os resultados nacionais.

Aqui os deixo, sendo o primeiro valor o nacional, o segundo o concelhio (C. Branco) e o terceiro o local (SVB)

PS - 41,68%; 44,64%; 46,75%

PSD - 27,80%; 27,78%; 33,39%

CH - 7,15%; 10,93%; 5,23%%

IL - 4,98%; 2,97%; 0,54%

BE - 4,46%; 4,48%; 5,42%

CDU - 4,39%; 2,51%; 1,26%

CDS - 1,61%; 1,24%; 1,62%

PAN - 1,53%; 1,15%; 0,54%

L - 1,28%; 1.03%;0.54%

De notar que a nossa freguesia foi aquela em que o Chega obteve a mais baixa percentagem no concelho de Castelo Branco. Algo de que nos devemos orgulhar, pois significa um sinal de maturidade das nossas gentes, que não se deixam levar por campanhas baseadas na ignorância e na intolerância..

José Teodoro Prata

domingo, 30 de janeiro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 João Nunes 

João Nunes nasceu em São Vicente da Beira, no dia 25 de junho de 1894. Era filho de José Nunes e Maria Augusta, jornaleiros.

Partiu para França, no dia 21 de Agosto de 1917, integrando o Corpo de Artilharia Pesada (CAP). Pertencia ao 2.º Grupo, 4.ª Bateria, e tinha o posto de soldado com o n.º 68 e a placa de identidade n.º 38516. Desembarcou em Brest, a 25 de agosto.

No seu boletim individual do CEP consta ainda o seguinte:

a)    Em 11 de setembro de 1917 seguiu para Inglaterra, onde desembarcou no dia 12;

b)    Punido com 4 guardas em 13 de outubro (não é referido o motivo desta punição);

c)    Regressou a França em 2 de março de 2018;

d)    Em 15 de Outubro de 1918 passou a integrar a 9.ª Bateria do Batalhão de Artilharia a Pé, por ter sido extinto o Corpo de Artilharia Pesada;

e)    Regressou a Portugal no dia 15 de abril de 1919, a bordo do navio Miller.


Condecorações:

Medalha comemorativa de expedição a França, pela Ordem de Serviço n.º 58, de 26/2/1919.

Família:

João Nunes casou com Rosalina Moreira, no Posto do Registo Civil de São Vicente da Beira, em 5 de Maio de 1925 e tiveram dois filhos: Carlos e Isabel. O casal residiu sempre em Lisboa, onde João Nunes esteve colocado como militar na G.N.R. Durante alguns anos ainda mantiveram um contacto regular com a terra, mas, à medida que os familiares mais próximos foram morrendo, as visitas tornaram-se mais raras, pelo que já não há muitas memórias deles em São Vicente.

João Nunes faleceu na freguesia de Alcântara no dia 18 de Dezembro de 1975. Tinha 81 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira

Publicado no livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

sábado, 22 de janeiro de 2022

O Adro da Igreja

 

Fechou-se o ciclo do reordenamento do adro da nossa Igreja Matriz. e penso que de uma forma muito digna.

Após o arranjo do espaço que ficou vazio com a demolição da casa do Coronel e dos herdeiros do Canhoto, junto ao adro da Igreja, escreveu-se aqui, pela pena do José Barroso, que era o momento de homenagear o nosso fundador, o rei D. Sancho I. Avançou-se a ideia  de uma estátua de D. Sancho e/ou da atribuição do seu nome ao novo espaço.

Havia o problema da dificuldade financeira em pagar uma estátua que dignificasse o espaço e ainda o problema de dar nome a um espaço que já o tinha: Adro da Igreja.

A pintura mural, no recanto em frente ao Zé Pasteleiro, veio resolver, e bem, estes dois problemas: homenageámos o rei que concedeu o primeiro foral a São Vicente sem grandes despesas e sem mudar o nome de um dos espaços mais nobres da nossa Vila.

Parabéns aos membros da Junta de Freguesia que recentemente cessou funções.


José Teodoro Prata

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

A criação do mercado mensal

A Torre do Tombo disponibilizou recentemente uma série de documentação onde se escreve grande parte da história de Portugal das primeiras duas décadas do século XIX. Há também muitos documentos relativos a São Vicente da Beira. Achei este, que autoriza a criação de um mercado franco no terceiro domingo de cada mês, muito importante para a economia da nossa terra.


Apresentação, em português atual, de parte do texto do documento acima apresentado.

Copia de uma provisão do Supremo Tribunal do Desembargo do Paço, por que Sua Alteza Real fez mercê a esta vila de São Vicente da Beira de poder fazer um mercado franco nos terceiros domingos de cada mês.

Dom João, por graça de Deus Príncipe Regente de Portugal e dos Algarves d´Aquém e d´Além Mar em África da Guiné, faço saber que o Procuradores do Povo da vila de São Vicente da Beira me representaram em sua petição que não havendo naquela vila e ainda mesmo nas vizinhas em distância de muitas léguas um mercado franco para sortimento dos habitantes da mesma vila, pretendiam os suplicantes que eu lhes concedesse um mercado franco no terceiro domingo de cada mês e que para esse efeito lhe mandasse passar provisão. Visto seu requerimento, a informação que se houve pelo Provedor da Comarca de Castelo Branco, ouvidos os oficiais da Câmara, nobreza e povo respetivo, que não impugnaram pela utilidade que resultava ao povo daquela vila o estabelecimento da feira pela escassez de mantimentos e a falta de meios da maior parte dos moradores daquela devastada província, que não deixam fazer-lhes provimentos, sendo que a situação da dita vila ficava remota e longe das mais que têm mercados, recebendo com a concessão da graça recebida grande proveito aqueles povos.

(…)

Cumpra-se e registe-se nos livros da Câmara desta vila. São Vicente da Beira, o primeiro de junho de mil oitocentos e treze. Carvalho

(…)

Bernardo António Robles


Pensei introduzir o documento com algumas memórias do tempo em que a nossa Praça ou o largo da Fonte Velha eram um mundo maravilhoso de animação em dias de feira ou mercado, mas lembrei-me dum texto aqui publicado há alguns anos e achei que não conseguia fazer melhor que o nosso amigo Ernesto. Vale a pena voltar a ele.



Nos anos cinquenta, além dos mercados mensais que ainda hoje se fazem, havia também duas grandes feiras em S. Vicente da Beira. Eram a feira de Janeiro como era conhecida, pendente da Festa de São Vicente (22 de Janeiro), e a feira de Setembro que coincidia com as Festas de Verão no terceiro Domingo desse mês.
Eram feiras de grande nomeada que atraíam muita gente das redondezas e em  que além dos tendeiros normais  também havia gente do povo a vender. Eram os agricultores que vinham vender ou comprar gado; esses agricultores vendiam também os produtos das suas colheitas tais com o feijão pequeno, o feijão grande, o grão, os alhos, as cebolas etc.
Vinha o cesteiro que enquanto vendia uns cestos ia fazendo outros. Os oleiros vinham com as suas carroças carregadas de talhas, alguidares, cântaros e cântaras, caçarolas, tachos etc.
Havia também os quinteiros que vinham vender os leitões galinhas e pitos que lhe sobravam e que muitas vezes trocavam por produtos que faziam falta.
Para a cachopada era dia de festa. Lembro-me que numa feira de Setembro o meu pai me comprou uns sapatos muito bonitos que iriam servir para aquelas festas e por aí adiante. Com o entusiasmo do dia achei que devia estrear logo os sapatos e fui jogar à bola. À noite o meu pai deu-me um jeito na roupa. Bem o merecia. Hoje seria violência doméstica!
Noutra vez, deu-me vinte e cinco tostões (uma fortuna), para gastar na feira e nas festas. Com a moeda na mão, fui direitinho  à taberna da Viúva e gastei tudo em amendoins. Fiz a festa toda logo nesse sábado.
Numa dessas feiras, uma velhota foi vender um leitãozito muito enfezadito  que andava a criar.
Sentou-se na primeira escada do balcão da cadeia com o animal ao lado, na esperança de o conseguir impingir. Era no tempo da miséria e muita gente não tinha dinheiro para comprar ou mandar fazer roupa interior e por isso simplesmente não usava.
A  velhinha era pobre e, ao sentar-se, ficou descomposta. Passaram então dois rapazes já espigadotes e um deles, vendo a velha naquele preparo, vira-se para ela e pergunta:
- Oh Tiazinha, quanto é que vale o seu arrepiado?
A velha,  muito desempenada, olha para o rapaz com  má cara e responde-lhe:
- Arrepiédo não,  que já hoje mamou duas caldeiradas!

E.H.

Maria Libânia Ferreira 
e José Teodoro Prata