segunda-feira, 6 de junho de 2022

As cores do meu Mato-branco

Não era amarelo, nem encarnado, nem azul. Era de todas as cores o meu mato-branco!

Da cor da fantasia de quando, nas brincadeiras, misturávamos ervas e terra molhada numa lata velha de sardinhas, cozinhávamos num lume de faz de conta, e levávamos à boca, mexendo os maxilares a fingir que comíamos como se fosse o melhor banquete.

Da cor da paciência nas esperas aos gafanhotos, às sardaniscas, aos grilos e formigas, que às vezes ficavam sem uma asa ou uma pata, só para não fugirem ou para ver como era.

Da cor do prazer da água fresca da presa, nas tardes quentes de verão, a espreitar os mais velhos que dormiam a sesta a uma sombra, caídos de cansaço, não fossem dar pela nossa falta.

Da cor do cheiro a pão quente e queijo fresco feitos pela minha avó; ou do gosto do leite morno acabado de ordenhar.

Da cor do doce amargo das cerejas, dos figos e dos gachos, ainda mal amadurecidos, comidos às escondidas na pressa da novidade, e às vezes nos davam dor de barriga a denunciar o pecado.  

Da cor do orgulho de saber um ninho e de o poder ensinar. Espreitar os passarinhos, cada vez mais vestidinhos, até poderem voar. O ninho ficava triste e eu também, mas apostava que eram eles, quando olhava para céu e os via lá em cima a brincar.

Da cor da satisfação, todos sentados debaixo da nogueira, com o prato no colo, a comer batatas migadas com tomates apanhados na horta, ali mesmo ao pé. E havia sempre de sobra para alguém que aparecesse com fome. 

Da cor de me sentir grande quando o meu avô me deixava no fundo da caneca um bocadinho da gemada que a minha avó lhe fazia todas as manhãs. Ou quando me deitava uma gota de aguardente no café, como fazia no dele.

Da cor da aflição, quando fui a correr chamar pela minha tia, que uma ovelha estava a morrer, com as tripas de fora; daí a pouco a surpresa de um borreguinho já a querer ter-se nas pernas, ao lado da mãe, e ela a lambê-lo.

Da cor da desilusão, quando passei horas a olhar para o céu à espera de ver passar a cegonha que, tinham-me dito, trazia no bico mais um menino para a minha mãe; devo ter-me distraído, que não a vi. A verdade é que à noite, quando me levaram para casa, estava tudo diferente, sem a minha mãe na cozinha, só o meu pai a dizer-me: «Vai dar um beijo ao teu irmão que já chegou». Estava na cama, ao lado da minha mãe, no lugar onde eu gostava de me deitar ainda.

Da cor do medo, quando acordávamos à noite e tínhamos que ir fazer chichi ao relento, sempre a imaginar sombras de lobos esfomeados, prontos a engolirem-nos, como nas histórias dos mais velhos. Ou do medo dos ciganos que vinham perguntar se ali não queriam um burro, que tinham lá um, quase dado; mas a gente ouvia dizer que o que eles queriam era roubar-nos.

Da cor dos gritos da mulher que encontrou o filho a boiar dentro do tanque, e a cachopada toda a correr, caminho acima, para ver o anjinho. Era ainda tão pequeno que quatro crianças bastaram para pegar no caixão pintado de branco.

Da cor do arrependimento, quando, aos domingos à tarde, a minha tia mais nova, mal saída da infância e já pastora, me pedia que fosse com ela deitar as ovelhas; mas as brincadeiras na Praça eram teimosas e nem a promessa de um vestido novo para a boneca de trapos me convencia. Há dias em que ainda a oiço, ao longe: «Sua peguença!».

Da cor do desânimo dos meus avós quando receberam a carta a dizer que o Mato-branco tinha sido vendido, por modos a um homem rico. Só lhes deram tempo de ceifar o pão, tirar as batatas, apanhar o feijão e colher o milho e a fruta mais serôdia. Que aquela terra, boa parte feita à picareta pelas mãos deles e dos filhos, dava de tudo com fartura.

Passados muitos anos voltei ao meu mato-branco na esperança de encontrar algumas das cores que lá tinha deixado, mas não achei nenhuma igual. Tinham-se esbatido com o tempo…

M. L. Ferreira

sábado, 4 de junho de 2022

Mato-branco

 

Mato-branco florido, no Carvalhal Redondo

Esta citus pertence ao género holimium e à espécie ocymoides. É conhecida pelo nome comum de mato-branco e também por sargaço-branco.

Floresce em maio/junho e gosta de habitats de matos rasteiros. É originária da Península Ibércia e do Norte de Marrocos.

No vale da nossa ribeira, um pouco antes das Quintas, existe um lugar chamado Mato-branco. Neste momento talvez já não faça jus ao nome, pois a infestação de giesta amarela está a abafar tudo. Já deixei de ver por lá piscos e corvos, pois está a desaparecer o seu habitat.

Nota: Em publicação anterior, chamei mato-branco a outra citus; já corrigi. Ambas têm as pétalas amarelas de oiro, mas esta tem uma mancha castanha na base de cada pétala e a outra não.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Rali

 




A informação aqui apresentada foi tirada de uma publicação da Escuderia de Castelo Branco, que me foi deixada na caixa do correio, gratuitamente.
É uma revista de promoção do Rali de Castelo Branco e Vila Velha de Ródão.
A nossa junta de freguesia é um dos parceiros deste evento e, embora seja questionável o apoio financeiro a iniciativas como esta que só agravam o estado de emergência climática que estamos a viver, acho que é uma boa forma de promoção da nossa freguesia.
Dispensável foi o João Goulão não ter resistido às luzes da ribalta e ter aproveitado o seu depoimento para atirar farpas a outros ao escrever que «...desta freguesia, que se encontra esquecida há 20 anos...». Foi o único dos 14 líderes locais a fazê-lo e, como diria o velho Diácono Remédios, não havia necessidade.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Cistus albidus

 


Esta cistus é originária do oeste da bacia mediterrânica, região em que se inclui a Península Ibérica. Tem folhas persistentes aveludadas de cor cinzento claro. Floresce em abril-maio e as flores rosa combinam muito bem com as folhas de um esverdeado cinzento claro aveludado, o que contrasta com o meio natural rude em que a planta vive. Os ingleses chamam às flores rock roses, porque a planta dá-se bem no meio das rochas. Gosta de exposição ao sol e precisa de solos pobres.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 27 de maio de 2022

O jesuíta Leonardo Nunes

Esta semana passou na Rádio Castelo Branco um podcast meu sobre o vicentino Leonardo Nunes. Eis o texto. Podem ouvi-lo em http://www.radiocastelobranco.pt/audioteca/, na rubrica História ao Minuto (é o 1.º da listagem).

O papa Francisco foi o primeiro jesuíta a alcançar o cargo máximo da Igreja Católica. Os jesuítas são assim chamados por pertencerem à Companhia de Jesus, uma organização religiosa criada em 1534, pelo espanhol Inácio de Loyola.

Naquele século XVI, os jesuítas foram uma ajuda preciosa para a Igreja Católica no combate ao protestantismo europeu e na conversão de povos não cristãos das colónias portuguesas e espanholas da América, África e Ásia.

Já aqui referimos os jesuítas António de Andrade, de Oleiros, e Manuel Dias, de Castelo Branco, ambos missionários na Ásia.

Outro beirão famoso foi o padre Leonardo Nunes, natural de São Vicente da Beira, que integrou o grupo de missionários da comitiva do primeiro Governador-Geral do Brasil, Tomé de Sousa, em 1549. Neste grupo de jesuítas chefiado pelo padre Manuel da Nóbrega seguia também o albicastrense António Pires.

Leonardo Nunes fixou-se na Capitania de São Vicente, onde foi pioneiro na missionação, tendo ali fundado uma igreja e um seminário. Mas o seu trabalho incidiu sobretudo na conversão dos índios do interior, em que obteve grande sucesso.

O trabalho do padre Leonardo Nunes na evangelização dos colonos portugueses e dos índios, no sul do Brasil, inspirou o realizador d´A Missão, um filme de 1986.

José Teodoro Prata

terça-feira, 24 de maio de 2022

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Malva hispânica




Ribeiro de Dom Bento, no caminho de cima da Vila para a Senhora da Orada

(a segunda foto, da mesma planta, foi tirada uma semana depois, com bom tempo)

Ontem, muitos romeiros passaram por esta planta florida a caminho da Orada. Fotografei-a de manhã, quando ainda carujava.

Esta malva chama-se Malva hispânica e pertencente à família Malvaceae.

É uma planta anual de corola rosada com floração primaveril, que ocorre em pastagens, clareiras de matos, terrenos cultivados ou incultos.

Esta espécie é nativa da Península Ibérica e Noroeste de África.

José Teodoro Prata