As paredes interiores eram de taipa, feitas à maneira das culturas milenares. Erguia-se uma estrutura em madeira, com ripinhas finas de um lado e do outro. Depois metiam-se no meio ramos de carqueija e enchiam-se os espaços vazios com barro amassado com palha cortada curta. E as faces das paredes também se revestiam do mesmo barro, em jeito de reboco. Trabalho mais apurado na sala, mas grosseiro nos quartos, onde não entravam estranhos.
Os leitos da camas eram de madeira e mais tarde de ferro. Neles, apareciam percevejos, quando o tempo dava em aquecer. E era um fartar, uma engorda sazonal com o sangue dos inocentes que ali vinham descansar dos trabalhos ou das brincadeiras.
O remédio era catá-los. Levantávamos as enxergas e procurávamos nas junções dos leitos. Esborrachavam-se e ficava um rasto de sangue daquelas barrigas gordas.
Era no pico do Verão que se fazia a limpeza geral aos quartos. Tirávamos as enxergas e todas as tralhas. Caiavam-se as paredes e dava-se uma esfregadela no chão, com escova, sabão e água. Ficava como novo, desinfectado e cheiroso.
Os leitos, na rua, lavavam-se bem e, se fossem de ferro, dava-se-lhes uma pintadela. Ficavam mais bonitos e livres da bicharada. Também as enxergas se renovavam, pois estava-se no tempo de lhes mudar a palha.
Era de centeio, que se semeava todos os anos, para o pão e para os nagalhos e as enxergas. A palha de trigo não prestava, partia facilmente e no Inverno já não haveria cama em condições.
Esvaziávamos as enxergas da palha velha, já toda moída dos corpos e estragada por algumas mijateiras invernais, naquela em que dormiam dos mais pequenos. Lavava-se o pano, punha-se a corar, voltava a lavar-se e secava ao sol.
Ao fim da tarde, enchíamos novamente as enxergas com palha. Às mãos cheias, era metida dentro do saco da enxerga, pelo buraco aberto ao centro. A palha ficava toda direita, sem nenhuma ao atravessar, e nos cantos compunha-se com a forquilha. Era de madeira, com cerca de 1 metro de comprimento, ligeiramente mais estreita num lado e larga no outro, que terminava num corte em forma de V, para levar a palha aos sítios mais difíceis.
Já cheia, a enxerga ficava enorme. Cosia-se a abertura e era levada para o quarto, onde o leito a aguardava. Punha-se-lhe em cima e fazíamos a cama, com os lençóis e as mantas.
Era difícil trepar lá para o alto e aquele que ficava na borda da porta adormecia receoso de rebolar para o chão a meio do sono. Bem estava o que ficava no meio ou o do lado da parede.
Nos primeiros tempos, era desagradável, fosse do calor ou da palha rija. Mas depois amaciava, a palha e o tempo, e já só queríamos meter-nos debaixo das mantas, no quentinho.
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
P.e Branco
Vida em construção!
Uma vida singular constrói-se
Germinando silenciosamente,
Fruto dum abraço ofegante
De amor.
Entre choros, sorrisos e palavras,
A ternura embala o gérmen,
Que começa a aprender a sonhar
e a pequenas vitórias alcançar.
Cresce ao lado das minas
Brinca com o cascalho lavado
E aprende que o mais precioso
É preciso procurá-lo
bem profundo.
À escola da vida
Junta-se a escola de saberes
Ganha-se asas para sonhos mais altos,
Olhando a esperança para além dos montes.
Em casa e na comunidade
Constrói-se o chão que há-de receber
O chamamento a ser discípulo
Dum mestre que o quer
como colaborador.
Crescer é uma aventura,
Caldeada de luzes e sombras.
Os compromissos, um desafio assumido
Pelo coração de sacerdote
E a imaginação de construtor.
Vida em construção,
Mãos arregaçadas.
É difícil aguentar tanto sonho
Por concretizar.
A criatividade e o engenho
Soltam-se em jorros de projectos
O espiritual e o material convivem unidos
Pois Cristo a todos fez redimidos.
Perante uma casa, é arquitecto
Na Igreja, sacerdote
Na escola, professor
Na vida, mestre de valores
Junto ao idoso e doente, profeta da esperança.
Vida em construção até à exaustão.
E quando as estruturas enfraquecem
E o ritmo vai diminuindo
O sonho não pára nem esmorece
Pois nasceu projecto
para viver em construção.
Fátima, 14/04/2008
P.e José Leitão
Nota: E desta ideia, tornada poema, nasceu o título Uma vida em construção - Homenagem ao Padre António Branco, dado ao livro com que homenageámos o P.e António Branco. O poema não foi incluído no livro, por, na altura em que foi escrito, já não se enquadrar no projecto definido.
Uma vida singular constrói-se
Germinando silenciosamente,
Fruto dum abraço ofegante
De amor.
Entre choros, sorrisos e palavras,
A ternura embala o gérmen,
Que começa a aprender a sonhar
e a pequenas vitórias alcançar.
Cresce ao lado das minas
Brinca com o cascalho lavado
E aprende que o mais precioso
É preciso procurá-lo
bem profundo.
À escola da vida
Junta-se a escola de saberes
Ganha-se asas para sonhos mais altos,
Olhando a esperança para além dos montes.
Em casa e na comunidade
Constrói-se o chão que há-de receber
O chamamento a ser discípulo
Dum mestre que o quer
como colaborador.
Crescer é uma aventura,
Caldeada de luzes e sombras.
Os compromissos, um desafio assumido
Pelo coração de sacerdote
E a imaginação de construtor.
Vida em construção,
Mãos arregaçadas.
É difícil aguentar tanto sonho
Por concretizar.
A criatividade e o engenho
Soltam-se em jorros de projectos
O espiritual e o material convivem unidos
Pois Cristo a todos fez redimidos.
Perante uma casa, é arquitecto
Na Igreja, sacerdote
Na escola, professor
Na vida, mestre de valores
Junto ao idoso e doente, profeta da esperança.
Vida em construção até à exaustão.
E quando as estruturas enfraquecem
E o ritmo vai diminuindo
O sonho não pára nem esmorece
Pois nasceu projecto
para viver em construção.
Fátima, 14/04/2008
P.e José Leitão
Nota: E desta ideia, tornada poema, nasceu o título Uma vida em construção - Homenagem ao Padre António Branco, dado ao livro com que homenageámos o P.e António Branco. O poema não foi incluído no livro, por, na altura em que foi escrito, já não se enquadrar no projecto definido.
domingo, 23 de agosto de 2009
P.e António Branco
Parabéns!
O menino nasceu, na Panasqueira, a 23 de Agosto de 1924. Era filho de António Lopes Branco, natural de Casegas, e de Luzia de Jesus Marques, natural de S. Vicente da Beira. Puseram-lhe o nome de António Francisco Branco Marques.
Hoje, faz 85 anos. Parabéns, P.e Branco!
Como nasceu o livro
O convite chega-me pelo P.e José Manuel Figueiredo, na Primavera de 2007. A prenda seria oferecida ao P.e António Branco, no dia do seu aniversário, em Agosto de 2008.
O desafio é, à uma, prestigiante e inquietante. Honra-me escrever um livro sobre a pessoa que mais contribuiu para o desenvolvimento de S. Vicente da Beira, mas porquê eu, que, na minha juventude, tantas discordâncias tivera com o P.e Branco?
Começam as trocas de e-mails, com os padres José Manuel e José Leitão, e as dúvidas vão-me surgindo: escrever uma biografia em que se mostrasse a pessoa totalmente, nas suas virtudes e defeitos ou um livro de homenagem, honrando um homem pelo serviço prestado à comunidade? Peço opiniões e, mais do que as respostas dos outros, o tempo vai-me amadurecendo a certeza: não se honra um homem que dedicou toda a sua vida aos outros, mesmo fazendo-o à sua maneira, atirando-lhe as fraquezas à cara, embora disfarçadas em bonito invólucro de prenda de aniversário.
Em Setembro, desloco-me ao couto mineiro da Panasqueira, onde o P.e Branco tem as suas raízes, mas primeiro passo por Bogas e Janeiro, paróquias onde ele trabalhou. Falo com pessoas, recolho testemunhos e guardo memórias, na máquina fotográfica.
Segue-se a investigação nos documentos escritos. Os muitos exemplares do jornal “Pelourinho” que o P. José Manuel me entrega são, para mim, uma revelação. Está lá quase tudo, sobre a vida da paróquia, entre 1962 e 1973. Procuro os que faltam no Pedro Inácio Gama e depois no José Manuel dos Santos e no João Benevides Prata. E vou-me recordando daqueles tempos, sobretudo dos que foram os da minha infância e adolescência. De muitas coisas, nem tive conhecimento na altura.
Há que esclarecer dúvidas, consolidar certezas, acabar com mitos. Falo com o Sr. José Matias sobre a electrificação da Vila. Com outras pessoas sobre vários assuntos. Vou-me apoiando em quem viveu os principais factos, dos quais o P.e Branco foi agente principal ou mesmo secundário. Os meus pilares de apoio são os padres José Manuel e José Leitão, a que vou juntando o Pedro Gama Inácio, o José Manuel dos Santos, o casal João Prata e Maria do Carmo, o casal Ernesto Hipólito e Celeste Jerónimo, o Pedro Matias e outros. São eles que me fornecem o grosso das fotografias necessárias. E telefono à irmã do P.e Branco, Maria Libânia, ainda a viver no Cabeço do Pião, que me conta histórias da sua infância e depois me envia fotos de família, pelo P.e José Manuel.
Nessa altura, já o livro tem forma na minha cabeça. A base será composta por depoimentos de amigos e de pessoas institucionalmente ligadas ao trabalho do P.e Branco. Consulto o P.e José Manuel sobre a lista das pessoas a quem pedir depoimentos. Chegamos a acordo, mas a lista vai sendo acrescentada e o livro enriquece. Fica de fora o povo anónimo, mas o fracasso na recolha do depoimento de uma pessoa pouco ligada ao mundo da escrita leva-me a ser pragmático.
Faz-me falta uma conversa com o P.e Branco. Há coisas que só ele me poderá esclarecer totalmente, mas não se lembra, na visita que lhe faço, com mentiras da minha parte, na tentativa de ocultar a prenda-surpresa que lhe preparamos. Mas empresta-me fotografias, “para um estudo em que ando a trabalhar”.
O livro está quase acabado no meu computador. Levo-o ao Carlos Azevedo Matos, do Salgueiro do Campo, professor de Artes na Secundária de Alcains, quase meu vizinho, em Castelo Branco. Ele faz o arranjo gráfico. Em Maio, já de 2008, vamos a S. Vicente, tirar duas ou três fotografias que faltam. E passamos pelas cerejas do Ribeiro de Dom Bento.
Peço ao meu primo Jaime Teodoro Nicolau apoio para o livro. O P.e José Manuel faz o mesmo junto da Fonte da Fraga, na pessoa do Pedro Matias.
Em meados de Agosto, o livro chega da tipografia. É uma excelente prenda de quem muito recebeu para quem tudo deu. E na festa de homenagem da paróquia ao seu ex-pároco, o P.e António Branco está feliz, rodeado de muitos amigos e pelo livro que recebeu de prenda lhe permitir recordar o tanto que ficou para trás nos seus 84 anos de vida.
Nota: O livro Uma vida em construção – Homenagem ao Padre António Branco pode ser adquirido, em S. Vicente, junto da Comissão da Fábrica da Igreja, e, em Castelo Branco, na Livraria Multimédia, ao lado da Sé.
O P.e Branco, em criança, com as irmãs Maria Libânia e Maria José. Foto de família.
Casinhas dos trabalhadores, no Cabeço do Pião. A família do P.e Branco veio habitar a primeira a ser construída. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.
O Cabeço do Pião, visto dos lados da Panasqueira. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.
Eu e o meu cicerone e amigo, o P.e José Cortes, em Janeiro de Cima. Ao fundo, o Centro Paroquial, construído pelo P.e Branco. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.
Maria Lucinda Dias de Carvalho, catequista de Janeiro de Cima, na época em que o P.e Branco ali paroquiou. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.
A Casa Paroquial de Bogas de Baixo, a que o P.e Branco construiu o 1.º andar. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.
Adelino Simão, amigo pessoal do P.e Branco, em Bogas de Baixo. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.
O menino nasceu, na Panasqueira, a 23 de Agosto de 1924. Era filho de António Lopes Branco, natural de Casegas, e de Luzia de Jesus Marques, natural de S. Vicente da Beira. Puseram-lhe o nome de António Francisco Branco Marques.
Hoje, faz 85 anos. Parabéns, P.e Branco!
Como nasceu o livro
O convite chega-me pelo P.e José Manuel Figueiredo, na Primavera de 2007. A prenda seria oferecida ao P.e António Branco, no dia do seu aniversário, em Agosto de 2008.
O desafio é, à uma, prestigiante e inquietante. Honra-me escrever um livro sobre a pessoa que mais contribuiu para o desenvolvimento de S. Vicente da Beira, mas porquê eu, que, na minha juventude, tantas discordâncias tivera com o P.e Branco?
Começam as trocas de e-mails, com os padres José Manuel e José Leitão, e as dúvidas vão-me surgindo: escrever uma biografia em que se mostrasse a pessoa totalmente, nas suas virtudes e defeitos ou um livro de homenagem, honrando um homem pelo serviço prestado à comunidade? Peço opiniões e, mais do que as respostas dos outros, o tempo vai-me amadurecendo a certeza: não se honra um homem que dedicou toda a sua vida aos outros, mesmo fazendo-o à sua maneira, atirando-lhe as fraquezas à cara, embora disfarçadas em bonito invólucro de prenda de aniversário.
Em Setembro, desloco-me ao couto mineiro da Panasqueira, onde o P.e Branco tem as suas raízes, mas primeiro passo por Bogas e Janeiro, paróquias onde ele trabalhou. Falo com pessoas, recolho testemunhos e guardo memórias, na máquina fotográfica.
Segue-se a investigação nos documentos escritos. Os muitos exemplares do jornal “Pelourinho” que o P. José Manuel me entrega são, para mim, uma revelação. Está lá quase tudo, sobre a vida da paróquia, entre 1962 e 1973. Procuro os que faltam no Pedro Inácio Gama e depois no José Manuel dos Santos e no João Benevides Prata. E vou-me recordando daqueles tempos, sobretudo dos que foram os da minha infância e adolescência. De muitas coisas, nem tive conhecimento na altura.
Há que esclarecer dúvidas, consolidar certezas, acabar com mitos. Falo com o Sr. José Matias sobre a electrificação da Vila. Com outras pessoas sobre vários assuntos. Vou-me apoiando em quem viveu os principais factos, dos quais o P.e Branco foi agente principal ou mesmo secundário. Os meus pilares de apoio são os padres José Manuel e José Leitão, a que vou juntando o Pedro Gama Inácio, o José Manuel dos Santos, o casal João Prata e Maria do Carmo, o casal Ernesto Hipólito e Celeste Jerónimo, o Pedro Matias e outros. São eles que me fornecem o grosso das fotografias necessárias. E telefono à irmã do P.e Branco, Maria Libânia, ainda a viver no Cabeço do Pião, que me conta histórias da sua infância e depois me envia fotos de família, pelo P.e José Manuel.
Nessa altura, já o livro tem forma na minha cabeça. A base será composta por depoimentos de amigos e de pessoas institucionalmente ligadas ao trabalho do P.e Branco. Consulto o P.e José Manuel sobre a lista das pessoas a quem pedir depoimentos. Chegamos a acordo, mas a lista vai sendo acrescentada e o livro enriquece. Fica de fora o povo anónimo, mas o fracasso na recolha do depoimento de uma pessoa pouco ligada ao mundo da escrita leva-me a ser pragmático.
Faz-me falta uma conversa com o P.e Branco. Há coisas que só ele me poderá esclarecer totalmente, mas não se lembra, na visita que lhe faço, com mentiras da minha parte, na tentativa de ocultar a prenda-surpresa que lhe preparamos. Mas empresta-me fotografias, “para um estudo em que ando a trabalhar”.
O livro está quase acabado no meu computador. Levo-o ao Carlos Azevedo Matos, do Salgueiro do Campo, professor de Artes na Secundária de Alcains, quase meu vizinho, em Castelo Branco. Ele faz o arranjo gráfico. Em Maio, já de 2008, vamos a S. Vicente, tirar duas ou três fotografias que faltam. E passamos pelas cerejas do Ribeiro de Dom Bento.
Peço ao meu primo Jaime Teodoro Nicolau apoio para o livro. O P.e José Manuel faz o mesmo junto da Fonte da Fraga, na pessoa do Pedro Matias.
Em meados de Agosto, o livro chega da tipografia. É uma excelente prenda de quem muito recebeu para quem tudo deu. E na festa de homenagem da paróquia ao seu ex-pároco, o P.e António Branco está feliz, rodeado de muitos amigos e pelo livro que recebeu de prenda lhe permitir recordar o tanto que ficou para trás nos seus 84 anos de vida.
Nota: O livro Uma vida em construção – Homenagem ao Padre António Branco pode ser adquirido, em S. Vicente, junto da Comissão da Fábrica da Igreja, e, em Castelo Branco, na Livraria Multimédia, ao lado da Sé.
O P.e Branco, em criança, com as irmãs Maria Libânia e Maria José. Foto de família.
Casinhas dos trabalhadores, no Cabeço do Pião. A família do P.e Branco veio habitar a primeira a ser construída. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.
O Cabeço do Pião, visto dos lados da Panasqueira. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.
Eu e o meu cicerone e amigo, o P.e José Cortes, em Janeiro de Cima. Ao fundo, o Centro Paroquial, construído pelo P.e Branco. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.
Maria Lucinda Dias de Carvalho, catequista de Janeiro de Cima, na época em que o P.e Branco ali paroquiou. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.
A Casa Paroquial de Bogas de Baixo, a que o P.e Branco construiu o 1.º andar. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.
Adelino Simão, amigo pessoal do P.e Branco, em Bogas de Baixo. Foto de Tiago Rodrigues Teodoro.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Padre Branco
O Padre António Branco, na Senhora da Orada. Foto do P.e José Leitão.
O tempo ensina-nos muitas coisas. A mim realçou-me a beleza dos mais velhos. Cada vez que me cruzo com um idoso, de passo incerto e rosto enrugado, imagino quantas pessoas haverá a quem aquele homem ou aquela mulher deram tanto de si próprios. Se o mundo é um gigantesco puzzle, cada um colocou nele algumas pequenas peças, encaixando-as no todo.
Por isso, embora às vezes postos de lado, como coisas sem valor, pela forma com estes tempos modernos se organizaram, a eles se deve a vida no presente, embora quem dela beneficia nem sempre se aperceba disso.
E nesta dívida de gratidão pelos mais velhos, há a esfera privada e a coisa pública. Homens e mulheres houve que deram tudo pelos seus. Outros foram mais além e deixaram a sua marca na sociedade, pela obra que edificaram a bem de todos.
O Padre António Branco pertence a esta segunda categoria, ele que tão cedo abdicou de centrar a sua vida na busca da felicidade pessoal, antes se dando totalmente à comunidade.
Há precisamente um ano que a paróquia de S. Vicente da Beira lhe prestou uma justa homenagem, por iniciativa do actual pároco, o P.e José Manuel Figueiredo: missa na Igreja Matriz, descerrar de uma placa toponímica numa rua com o seu nome, lançamento do livro “Uma vida em construção - Homenagem ao Padre António Branco” e lanche partilhado.
Deixando a Deus o que é de Deus, contento-me com o que é de César, relembrando a obra extraordinária que o Padre António Branco teve a capacidade de construir em S. Vicente da Beira.
- Criação da Telescola.
- Urbanização do Quintalinho.
- Electrificação da Praça.
- Arranjo das entradas de S. Sebastião e S. Francisco: ajardinamento dos espaços e alcatroamento das ruas.
- Melhoramentos na Senhora da Orada: alcatroamento da estrada, abertura de parques de estacionamento e reordenamento do recinto da capela.
- Apoio ao Clube.
- Apoio à Banda Filarmónica.
- Apoio à criação dos Escoteiros.
- Construção do Pavilhão Paroquial.
- Obras de restauro de todas as igrejas e capelas da paróquia, com destaque para as da Igreja Matriz, no início da década de 70 e cerca de 1990.
- Restauro das imagens da Ordem Terceira e retomar da sua procissão.
- Aquisição de uma carrinha da paróquia, para transporte dos alunos da Telescola e serviços da paróquia.
- Comemorações dos 800 Anos de S. Vicente da Beira.
- Reforço dos laços entre S. Vicente da Beira e a comunidade de vicentinos a viver na região de Lisboa.
- Reconversão do Pavilhão Paroquial em fábrica de confecções de lã.
- Reconversão do antigo Hospital em Creche e Lar de Idosos.
- Construção da Casa Paroquial.
- Construção da Casa Mortuária.
- Criação dos Museus de Arte Sacra da Santa Casa da Misericórdia e da Igreja Matriz.
Nuns casos teve ajuda, noutros fez tudo sozinho e situações houve em que apenas colaborou com os responsáveis. Parte da obra que realizou nem sequer era da esfera religiosa. Não tinha de se ralar, mas agiu, porque sabia que não basta limparmos a nossa testada, a acção tem de ser global.
Concordo com o final do depoimento do Pedro Matias, no livro que dedicámos ao P.e Branco: «…uma pessoa com uma visão e um empenho que deixam a léguas muitos...»
Por mim, os dedos da mão chegam para contar os que se lhe igualam.
O P.e Branco no campo de futebol, a cumprimentar os jogadores da equipa de S. Vicente, com o senhor Eduardo Cardoso e os dirigentes do Clube, na segunda metade dos anos 70. A foto é propriedade do P.e Branco.
O P.e Branco no campo de futebol de S. Vicente. A pessoa que ele aqui cumprimenta está à direita, na foto anterior, pelo que ambas são da mesma altura. A foto é propriedade do P.e Branco.
O P.e Branco com a comitiva do Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, de visita à Barragem do Pisco, em 1969.
O P.e Branco com o Presidente da Câmara, Joaquim Morão, a descerrarem a lápide que assinala a inauguração da sede dos Escoteiros, ao fundo da Devesa, em 2005. Foto do Pedro Gama Inácio.
O P.e Branco na inauguração da exposição de pintura de Luci Bento (2004), em Santiago, na Partida, acompanhado pela artista, pelo Presidente da Câmara, Joaquim Morão, e pelo Presidente da Junta, João Benevides Prata. Foto do P.e José Leitão.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Invasões Francesas 4
Os Ingleses em S. Vicente
Éramos muitas crianças, à guarda da minha mãe. Ser uma mulher de armas não bastava, pois, além de nos criar, tinha mais as lidas da casa e ainda as do campo. A rédea curta vinha-lhe da ameaça “Se fizeres isso, o teu pai quila-te”, sinónimo de uma boa sovata à noite ou no fim-de-semana, quando ele chegasse.
Ameaça desnecessária, pois o que nos metia na ordem era mesmo o ralho dela, não a ameaça de castigo e muito menos o medo ao meu pai, que não era dessas coisas.
Mas a palavra quila-te intrigava-me. Mais tarde, estudante de inglês, aprendi que o verbo to kill significa precisamente matar.
Influência de uma freira inglesa que viveu no nosso Convento Franciscano? Parecia-me a explicação lógica.
Mas, quando estudei os documentos sobre as Invasões Francesas, deparei-me com 2 Regimentos Ingleses, em S. Vicente da Beira. Terão sido eles a deixar a palavra que deu origem a este nosso anglicismo?
Clicar nas imagens, para ler melhor
O documento da primeira imagem refere a presença, em S. Vicente, dos Regimentos Ingleses N.º 2 e N.º 36. Com eles foi João António, ganhão de Joaquim José de Brito Coelho de Faria, com o carro de bois carregado de mantimentos. Partiram de S. Vicente, no dia 26 de Julho, e acamparam em Chafurdão, onde o ganhão deixou os bois e o carro, no dia 10 de Novembro.
O documento da segunda imagem informa que, em Agosto de 1811, a junta de bois e carro do Capitão João Roiz(Rodrigues) Lourenço Caio, certamente conduzida pelo seu ganhão, andou ao serviço de dois Regimentos de Infantaria Britânica (Inglesa), que passaram por S. Vicente da Beira.
Os dois documentos coincidem na quantidade (dois regimentos) e no tempo (passaram por S. Vicente em finais de Julho/Agosto), pelo que os dois ganhões de S. Vicente terão acompanhado os mesmos Regimentos Ingleses, que estiveram em S. Vicente, por aqueles dias.
Outros serviços dos carreiros da freguesia de S. Vicente da Beira:
S. Vicente
Em Agosto de 1810, o carro de bois de Francisco Ferreira transportou bolacha de Sarzedas para o Fundão, num total de 8 dias. Este lavrador foi a pessoa do concelho que mais dias de serviço prestou aos exércitos português e inglês, entre 1809 e 1812 (95 dias). Morava na Rua Velha e detinha o foro da Comenda de Avis e do Convento das Religiosas, isto é, recebia as rendas que os rendeiros deviam a estes senhores das terras que trabalhavam, ficando com uma parte para pagar o seu serviço e entregando o restante à Comenda ou ao Convento, conforme o caso.
O mesmo foro das Religiosas do Convento já o detivera seu pai (ou avô), Domingos Ferreira, nas últimas décadas do século XVIII (cerca de 1770).
Mourelo
A junta de bois e carro de Manuel Antunes Frade e de José Mateus transportou centeio das Sarzedas para Castelo Branco, tendo gasto 4 dias, em Agosto de 1811.
Também já expliquei que, nos casos em que aparecem dois proprietários, seria por terem a meias a junta de bois e o carro.
Para saber mais, consultar: "O Concelho de S. Vicente da Beira na Guerra Peninsular", de José Teodoro Prata, publicado pela Associação dos Amigos do Agrupamento de Escolas de São Vicente da Beira, em 2006.
Éramos muitas crianças, à guarda da minha mãe. Ser uma mulher de armas não bastava, pois, além de nos criar, tinha mais as lidas da casa e ainda as do campo. A rédea curta vinha-lhe da ameaça “Se fizeres isso, o teu pai quila-te”, sinónimo de uma boa sovata à noite ou no fim-de-semana, quando ele chegasse.
Ameaça desnecessária, pois o que nos metia na ordem era mesmo o ralho dela, não a ameaça de castigo e muito menos o medo ao meu pai, que não era dessas coisas.
Mas a palavra quila-te intrigava-me. Mais tarde, estudante de inglês, aprendi que o verbo to kill significa precisamente matar.
Influência de uma freira inglesa que viveu no nosso Convento Franciscano? Parecia-me a explicação lógica.
Mas, quando estudei os documentos sobre as Invasões Francesas, deparei-me com 2 Regimentos Ingleses, em S. Vicente da Beira. Terão sido eles a deixar a palavra que deu origem a este nosso anglicismo?
Clicar nas imagens, para ler melhor
O documento da primeira imagem refere a presença, em S. Vicente, dos Regimentos Ingleses N.º 2 e N.º 36. Com eles foi João António, ganhão de Joaquim José de Brito Coelho de Faria, com o carro de bois carregado de mantimentos. Partiram de S. Vicente, no dia 26 de Julho, e acamparam em Chafurdão, onde o ganhão deixou os bois e o carro, no dia 10 de Novembro.
O documento da segunda imagem informa que, em Agosto de 1811, a junta de bois e carro do Capitão João Roiz(Rodrigues) Lourenço Caio, certamente conduzida pelo seu ganhão, andou ao serviço de dois Regimentos de Infantaria Britânica (Inglesa), que passaram por S. Vicente da Beira.
Os dois documentos coincidem na quantidade (dois regimentos) e no tempo (passaram por S. Vicente em finais de Julho/Agosto), pelo que os dois ganhões de S. Vicente terão acompanhado os mesmos Regimentos Ingleses, que estiveram em S. Vicente, por aqueles dias.
Outros serviços dos carreiros da freguesia de S. Vicente da Beira:
S. Vicente
Em Agosto de 1810, o carro de bois de Francisco Ferreira transportou bolacha de Sarzedas para o Fundão, num total de 8 dias. Este lavrador foi a pessoa do concelho que mais dias de serviço prestou aos exércitos português e inglês, entre 1809 e 1812 (95 dias). Morava na Rua Velha e detinha o foro da Comenda de Avis e do Convento das Religiosas, isto é, recebia as rendas que os rendeiros deviam a estes senhores das terras que trabalhavam, ficando com uma parte para pagar o seu serviço e entregando o restante à Comenda ou ao Convento, conforme o caso.
O mesmo foro das Religiosas do Convento já o detivera seu pai (ou avô), Domingos Ferreira, nas últimas décadas do século XVIII (cerca de 1770).
Mourelo
A junta de bois e carro de Manuel Antunes Frade e de José Mateus transportou centeio das Sarzedas para Castelo Branco, tendo gasto 4 dias, em Agosto de 1811.
Também já expliquei que, nos casos em que aparecem dois proprietários, seria por terem a meias a junta de bois e o carro.
Para saber mais, consultar: "O Concelho de S. Vicente da Beira na Guerra Peninsular", de José Teodoro Prata, publicado pela Associação dos Amigos do Agrupamento de Escolas de São Vicente da Beira, em 2006.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Escoteiros Radicais
Encontrei a torre da Igreja com andaimes, mas sem obras.
Andaimes com exposição de pintura? Fui ver.
O jogo de cores formava pintura abstracta, mas havia peças para escalada.
Cruzei-me com o Luciano e ele contou-me que fora para os escoteiros fazerem rappel.
Rappel para baixo, o prémio para quem escalou até lá acima.
À velha torre agradou, de certeza, tanta energia à sua volta!
Marcadores:
escalada,
escoteiros,
rappel,
s. vicente da beira,
torre da igreja
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Doce de Amoras Silvestres
Hoje fui a S. Vicente e colhi amoras das silvas. No Ribeiro de Dom Bento ainda agora começaram a amadurecer, por ser na serra (da Gardunha), o que me permite uma nova colheita daqui a uns dias.
Fiz doce, com receita tirada da internet, mas que vem da culinária tradicional portuguesa:
Ingredientes:
2 kg de amoras silvestres
1 limão
1 pau de canela
0.5 kg de açúcar
Descrição:
Lavam-se bem as amoras e colocam-se na panela com o sumo do limão e o pau de canela.
Deixa-se ferver, em lume brando, durante 20 minutos.
Depois tira-se o pau de canela e trituram-se parte da amoras, deixando as restantes inteiras. Junta-se o açúcar. Ferve ao gosto da pessoa.
Nota:
Claro que já aldrabei as quantidades. A receita original indica o sumo de dois limões, mas prefiro apenas um, para o doce não ficar ácido. Deito também só metade do açúcar, porque quero chegar aos 100 anos!
Marcadores:
doce de amoras silvestres,
s. vicente da beira,
serra da gardunha
Assinar:
Postagens (Atom)