Não só os mais velhos vieram, como também os seus filhos e netos.
Disseram-me que é por causa da piscina, onde os mais jovens passaram bons momentos de lazer. Com piscina, já não se importam de vir para o interior passar férias com os mais velhos!
É muito bom que esta obra se tenha afirmado como estruturante da nossa vida social.
Deixo-vos com um poema do Zé da Villa, sobre os que foram partindo e agora regressam.
José Teodoro Prata
O EMIGRANTE
Lá vão o
camponês e o cavador
A caminho
das suas hortas cultivar a terra
Tiram o gado
da corte para pastar na serra
As ovelhas
seguem o pastor
Tudo
desabrocha, é primavera
O sol
aquece, o dia está lindo, pudera
É primavera
e eles cavam, cavam com ardor
Cada um vai
sonhando uma nova vida
Risonha,
menos triste, e menos penosa
Vão sonhando
com uma vida mais airosa
Na terra
labutam, apanham frio e sol grande lida.
Com a
respiração ofegante e uma lágrima teimosa
Corpo suado,
sonham uma vida mais formosa
Mãos
calejadas, queimadas, aqui, ali, uma ferida
Vamos sair
daqui para fora para a França trabalhar
Aqui temos
uma vida miserável e desgraçada
A terra não
nos dá o sustento e tanta cava
Temos nossas
famílias para alimentar
Quem já
partiu nãos lhes falta nada
Alguns até
já construíram casa, linda morada
Já mandam
seus filhos para a cidade estudar
Ei-los que
partem com uma mala de cartão
Noite
escura, passam a fronteira a salto
Os guardas
correm, vão no seu encalço
Escondem-se
detrás das moitas, mala na mão
Estamos a
ver-vos; parem, não fujam, alto
Os labregos
fogem de salto a salto
Os guardas
atiram para os apanhar, mas em vão
Muito
sofrimento e muitos caminhos palmilhados
A dormirem
as noites frias e chuvosas ao relento
Eis que
chegam à terra prometida num dia de vento
Todos rotos,
molhados e esfarrapados
Nova vida
com muita fé e esperança lá dentro
…Olha o
Manel! Leva às costas um saco de cimento
Moram num
chantier, para pouparem os ordenados
Com o verão
à porta traz também as vacanças
Já compraram
cada um seu carrito
Quando
partiram já levaram um deux chevauzito
Na aldeia há
festa e no arraial muitas danças
Bota bierres
para todos, para mim um copito
À nossa… que
saudades; dá-me cá um pirolito
Amigos
bebam…saúde, às nossas lembranças
Zé da Villa
3 comentários:
É verdade! Este ano regressámos aos velhos tempos, no que eles têm de melhor: muita gente nas ruas e na Praça, sobretudo durante os dias das Festas de Verão.
Também acredito que a piscina ajudou à vinda de muitos emigrantes e à sua permanência por cá durante mais dias. Que bom tem sido ver tanta gente, sobretudo jovens, de toalha ao ombro a caminho do banho! É pena que esteja quase a acabar, mas o ano passa depressa. Haja saúde!
Acho que o poema do Zé da Villa retrata bem a realidade social da nossa terra num tempo em que as muitas dificuldades da vida obrigaram tanta gente a partir. Não é que por lá a vida fosse mais fácil, mas, quase sempre, ao trabalho correspondia um salário digno, e isso ajudava a suportar o trabalho duro, frio e as saudades…
M. L. Ferreira
Eu referia-me sobretudo ao pessoal da migração interna, a viver principalmente na região da Grande Lisboa.
Da França vieram mais ou menos os mesmos.
O Zé da Vila é como um pintor. E assim, este poema deve ser visto como uma aguarela, bem conseguida, da emigração.
Aliás o Zé sa Vila é um retratista da nossa vida comunitária.
Parabéns ó Zé pinttor
FBarroso
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