(...)
A ribeira de São Vicente
Uma das coisas boas do Casalito era a proximidade da
ribeira, que lhe corria aos pés. O nosso terreno descia, aliás, mesmo até ao
ribeiro do Casal da Fraga e à ribeira. Assim, pode-se dizer que nascemos e
crescemos quase com os pés dentro de água, o que facilitou a nossa habituação à
mesma e a aprendizagem da natação que a mim me serviu otimamente pela vida
fora.
Claro que, como não podia deixar de ser, a ribeira
também me valeu algumas arrelias e puxões de orelhas. Isso acontecia
principalmente quando as minhas irmãs me escondiam a roupa – roubavam o fato – enquanto eu nadava.
Nesses casos, tinha de ir em pelota,
encostado aos muros dos leirões da barreira, até quase junto de casa. Só aí,
finalmente, no último leirão, me diziam onde estava a roupa…
Pinhos mansos, pinhões e ninhos de
corvos
O pomar era
um vasto terreno que consistia de
bons lameiros junto à ribeira, alqueives de centeio na encosta e uma faixa de
pinhal ao cimo. Pegava com a nossa propriedade e praticamente com a nossa casa.
O pomar era atravessado por uma levada de água, que provinha da ribeira e do
ribeiro do Casal da Fraga, separava os lameiros das barreiras e, um pouco mais
adiante, abastecia um lagar de azeite e, mais abaixo, ainda uma azenha ou
moinho.
No pomar, logo por cima da referida levada de água,
erguiam-se dois enormes pinhos mansos que eram a nossa delícia. Eram enormes e
muito copados, principalmente um deles. Forneciam-nos - davam-nos - pinhões que apanhávamos à vontade, principalmente a
seguir a dias e noites de vento.
Estes pinhos tinham ainda um outro encanto. Todos os
anos ali nidificavam corvos que constituíam uma ameaça para as nossas galinhas
e respetivos pintos, mas também nos proporcionavam um passatempo muito
divertido. Mal os filhotes deles começavam a ensaiar os primeiros voos, já nós
estávamos à espreita para os apanhar, logo que poisavam. O que nós nos
divertíamos com eles! Despontávamos-lhes as asas de modo que, durante alguns
dias, não conseguiam levantar voo.
Era interessante assistir às suas infrutíferas tentativas
para voar, mas também ao momento em que o conseguiam. Até lhes batíamos palmas!
(...)
Este trecho é só para abrir o apetite. O livro está à venda na Junta de Freguesia de São Vicente da Beira, a um preço quase simbólico.
Todos nós temos uma história. Esta é de um vicentino que nasceu em São Vicente, deu a volta ao mundo e está sempre de regresso a casa.
José Teodoro Prata
Um comentário:
Pelo "aperitivo", já não parava! Reconheço a prosa, estou curioso pela emoção!
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