Naquela época, na diocese, existiam muitos padres; como
a oferta era muita, o bispo colocava-os nos mais recônditos lugares; era o que
acontecia na paróquia vicentina; o coadjutor raras vezes vivia na vila, a aldeia
da Partida, a maior da freguesia, sempre soube receber de braços abertos o
senhor padre, por esse motivo construíram uma residência paroquial, nos nossos
dias muito degradada. Naquele tempo o padre residente chamava-se Manuel, o
povo gostava muito dele, fazia actividades com as crianças, adolescentes…; a
igreja aos domingos enchia-se para escutarem a Palavra, o padre Manuel era
estimado por todos.
Certo dia recebe uma comunicação superior, tinha que
deixar o rebanho de pessoas simples, humildes, trabalhadoras, com muita fé nos
evangelhos. O padre
Manuel dava voltas à cabeça, não sabia como havia de transmitir ao seu povo
aquela decisão diocesana.
Os mais expeditos notavam que não andava bem, até que
alguém lhe perguntou:
- O senhor padre sente-se bem?
Na missa dominical, à hora da homilia, anunciou aos
fiéis o teor daquele documento; viam-se lágrimas nas faces enrugadas das
mulheres, iam ficar novamente sem padre, não podia estar a acontecer. O
bom padre Manuel partiu.
Corações contritos, alguns homens bons imploraram ao
senhor bispo a ida de outro prior para a aldeia, mas a partir daquela altura as
funções religiosas passaram a ser exercidas pelo pároco da freguesia, o padre
Branco.
Sacerdote na flor da idade, cheio de garra, possuía um
jeep que o levava aos locais mais esconsos da paróquia. O povo
da Partida não o aceitou e durante algum tempo boicotaram a ida à missa, os
funerais eram feitos sem o acompanhamento do vigário, o templo ficava vazio
durante as celebrações. Totalmente? Não.
Havia uma senhora, sem o povo se aperceber assistia à
santa eucaristia. Maria dos Prazeres Fernandes, assim se chamava, escondia-se
por detrás das talhas que guardavam a água benta; nem o senhor vigário sabia. Cumpria
o preceito dominical conforme manda a santa madre igreja.
A mãe do senhor Augusto Carvalho, já velhinha,
faleceu; este contactou o senhor vigário, o povo que não… insistiu, teimou e a
mulherzinha “avó do Hermínio” foi acompanhada pelo pároco até à sua última
morada. Para que não acontecessem cenas desagradáveis, certamente o senhor
vigário ou a família requisitaram uma patrulha da GNR
Aos poucos as coisas voltaram à normalidade, o templo
voltou a encher-se de fiéis e o padre Branco, que ainda está entre nós; deixou
saudades entre todos os paroquianos.
Nos nossos dias, um padre tem a seu cargo duas, três
ou mais paróquias, a seara é grande, os segadores, poucos…
Eram muitos os chamados e poucos os escolhidos,
actualmente são poucos os chamados, e muito menos os escolhidos.
Sinais dos tempos.
Um comentário:
Esta história, assim como outra que o nosso amigo Ernesto nos contou há tempos (há que tempos!...), dá-nos bem conta da garra do povo da Partida. Cá para mim foi graças a gente como esta que Portugal se fez e continua inteirinho, apesar dos muitos ataques e invasões que temos sofrido ao longo da História. Às vezes tenho pena que a minha costela de lá seja tão pequenina.
M. L. Ferreira
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