terça-feira, 11 de outubro de 2016

Estivemos no Lar

Fomos ao nosso Lar conviver com as pessoas que ali vivem. E levámos o coro do Rancho Folclórico Vicentino para cantar alguns poemas integrados em histórias do livro. Cantaram a nossa Paixão, é lindíssima!
Foi muito bom. Faço minhas as palavras que a Luzita Candeias me enviou:

Gostei da tarde de sábado, entre Crescidos com tantas histórias vividas e por contar.
Gostei de ver os sorrisos deles, os olhos a brilhar a quererem que as histórias e canções se prolongassem pela tarde.

Têm de voltar outra vez, ouvir e contar novas histórias e cantar outras cantigas.
Pode ser?
E como é que aparece uma burra assim? ["...forte como uma mula, elegante como uma égua e muito mansa."] É isso que vamos ver. Há 60 anos havia uma família cigana no Cimo de Vila, que morava numa casa hoje em ruínas, que era do Tonho Russo e portanto vizinhos do meu avô Bernardo.
Num inverso particularmente agreste, a vida não estaria a correr muito bem ao Chico Cigano que, com a casa cheia de filhos a chiar de fome, lá se encheu de coragem e foi pedir ao meu avô um conto de réis para relançar o negócio. Que lhe pagaria pelo São Miguel.
Dos Enxidros aos casais: histórias e gentes de São Vicente da Beira, "A Preta", 
de Francisco Barroso, pp. 64 e 65.
Ilustração dos alunos do 2.º ciclo do Agrupamento de Escolas de José Sanches e São Vicente da Beira

Amanhã estaremos na Biblioteca Municipal de Castelo Branco...

José Teodoro Prata

4 comentários:

Anônimo disse...

A proposito da história d' "A Preta" contada pelo Francisco Barroso, a que aqui volta a aludir o Zé Teodoro, veio-me â ideia uma expressão repetida pelo meu avô Bernardo (embora ele tivesse várias). Tal expressão teve origem, creio, precisamente, no facto de ele ser vizinho do Chico Cigano.
Dizia ele muitas vezes: "Que tchê passa?". O caso é que, o meu avô ouvia, talvez durante a (pobre) ceia, na casa do Chico Cigano a algazarra da família (mulher e muitos filhos). As cozinhas, lá atrás, eram próximas. A vida não seria fácil. E "casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão"! É verdade. E quando a coisa estava a exceder certos limites o Chico Cigano, do alto da sua autoridade de "chefe da casa" proferia aquela mesma expressão, em voz alta, para apaziguar as hostes! E, decerto, não era preciso mais nada para ficar tudo em sentido! A frase entende-se bem em português, mas, como se percebe, tinha uma entoação castelhana (como é timbre da pronúncia de quase todos os ciganos).
O Chico Cigano, entretanto, deixou de morar naquela casa. Não me lembro de ele lá morar. Só me lembro do Ti' António Russo. Mas o meu avô continuou a glosar aquela peculiar situação do seu vizinho cigano de quem ficou sempre amigo. E recordo-me também, nos mercados da vila, quando cá voltava o Chico Cigano e/ou os filhos, o meu pai os cumprimentar efusivamente! Os filhos do meu avô e os do Chico Cigano andariam por idades próximas.
É a vida.
Abraços.
ZB


Anônimo disse...

Comoveram-me as palavras da Luzita. Penso que todos os que lá estivemos sentimos o mesmo, mas às vezes é difícil traduzir os sentimentos, e ela soube fazê-lo.
É urgente ouvir aquelas pessoas «com tantas histórias vividas e por contar». Por mim estarei lá sempre que quiserem, até porque cada vez me fazem mais sentido as palavras do Hemingway em “Por quem os sinos dobram”…

M. L. Ferreira

Anônimo disse...

Boa tarde, eu sei que este comentário não tem a haver com o tema da publicação, mas sendo este blog feito e frequento por vicentinos, gostaria de saber se alguém me poderia esclarecer uma dúvida.

No ano passado o presidente da Junta de Freguesia de S. Vicente da Beira, disse numa entrevista à Rádio Cova da Beira, que a escola de São Vicente tinha os dias contados e no máximo ainda se iria manter em fucnionamento por 2 anos, sei por conhecidos que este ano letivo as turmas do 7º, 8º e 9º anos foram transferidas para Alcains, sendo assim a escola perdiu o leccionamento do 3º ciclo, se assim continuar, teremos umas grandes instalções como aquelas para apenas turmas da primária. O sonho do Sr. Prata (1º diretor da escola) está a terminar, e não tarda regrediremos ao nivel da educação com os jovens a ter de voltar a ir todos para estudar Alcains ou Castelo Branco. É pena, para os que como eu, tivemos o privilégio de estudar e ver uma escola lotada e na plenitude das suas capacidades como foi a EBI de S. Vicente da Beira, será uma perda inevitável para vila, e também paras freguesias em redor, mandar os filhos para mais longe quando tinhamos uma escola num ambiente único como aquela, como disse o saudoso continuo Sr. Amável no dia de despedidas das turmas do 9º ano "vocês tinham aqui um paraíso".

Anônimo disse...

Como vicentina e docente na EBI de São Vicente da Beira, venho esclarecer o vicentino que colocou a questão do encerramento da escola. Devo informá-lo de que está mal informado, já que o 3º ciclo não encerrou em São Vicente e até se espera que no próximo ano letivo funcione com todos as turmas.
O que se passou foi o seguinte: Há dois anos atrás, não havia alunos suficientes para fazer uma turma de 7º ano. Nesse ano letivo não houve 7º ano, logo o ano passado não houve 8 º ano e este ano não há apenas a turma do 9º,prevendo-se que para o ano já haja, já que há alunos suficientes do 4º ao 8º anos para que funcionem todas as turmas dos 3 ciclos.
Infelizmente, o que se tem verificado, é que todos os anos surgem vozes a anunciar o encerramento da escola e algumas afirmam mesmo, que já encerrou, perante a minha estupefação, quando sou inquirida na rua por algumas pessoas com visível curiosidade e até alguma satisfação no rosto.
A triste realidade é que a população no interior está a diminuir e cada vez há menos crianças. A solução estaria no investimento e criação de emprego na zona para a fixação de jovens na localidade, pois há muitos que demonstram vontade de o fazer, mas não têm perspetivas de futuro.
Apesar de tudo, a nossa escola ainda está viva, São Vicente está vivo, pelo número de pessoas, de iniciativas e associações que o não deixam morrer.
Vamos viver um ano de cada vez e ter esperança em dias melhores, mesmo sendo difícil.

Mudando de assunto e relativamente à história do Chico Cigano que, apesar das dificuldades não deixou de pagar a sua dívida, quero aqui deixar o meu testemunho pessoal: Este ano letivo recebi numa turma de 1º e 2º anos, dois alunos de etnia cigana com 10 e 11 anos e após alguma apreensão inicial por irem estar a conviver com alunos dos 5 aos 8 anos, verifiquei que são um exemplo de educação e solidariedade como já se vê pouco, tanto na forma como se dirigem a mim e chamam atenção aos colegas por não me tratarem por senhora professora ou só professora, como estão sempre prontos a ajudar os colegas (como são mais velhos e estão no 2º ano não por falta de capacidades mas por falta de frequência da escola) quando eu, com 1º e 2º anos não consigo apoiar todos, preferem sentar-se ao pé de um aluno com dificuldade e ajudá-lo do que ir ler um livro, fazer um jogo ou um desenho.
Às vezes a vida dá-nos lições destas!

Maria da Luz Teodoro