segunda-feira, 21 de novembro de 2016

D. João de Deus Ramalho


Nasceu em 8-1-1890, em São Vicente da Beira, sendo filho de João José Ramalho e de Antónia do Carmo Ramalho. Ingressou nos jesuítas a 7-9-1906, no Colégio do Barro, Lisboa; em 1910, foi preso em Caxias com outros jesuítas; dali seguiu para Gibraltar e depois para Exaten, no Holanda, e a seguir para a ilha de Jersey, continuando sempre a estudar. No Hospital dos Irmãos Hospitaleiros de São João de Deus de Paris, fez 6 operações quase seguidas devido à intoxificação na masmorra de Caxias; seu irmão Inácio, também jesuíta, fez 14 e morreu.
De Paris passou a Davos, na Suíça, a Bolengo, na Itália e depois a Genebra, onde tirou um curso de enfermagem; depois, a Turim, ao Colégio de Placeres, em Espanha, a La Guardia (1916-1917), a Ernani, perto de San Sebastian e a Oña, onde se ordenou a 30-7-1921. A 14-12-1923, embarcou em Marselha para a China, aportando a Hong Kong, a 17-1-1924, e a Shiu-Hing, a 22 desse mês. Em 1926, foi colocado como missionário no distrito de Shui-Hang, onde trabalhou até à sua elevação ao episcopado. Em Janeiro de 1925, fundou a revista mensal “Ecos da Missão de Shiu-Hing” que durou até Julho de 1946 e onde publicou interessantes trabalhos sobre os antigos jesuítas na China.
A 13-6-1940, foi nomeado superior e Vigário Geral da Missão de Shiu-Hing e, a 26-9-1942, bispo de Macau, sendo sagrado em Shui-Hang, a 6-11-1942, dia em que tomou posse da diocese por procuração. Chegou a Macau, a 23-2-1943.

Obras

Comprou o edifício da Escola Normal do Colégio de S. José. Acolheu em Macau todas as Ordens Religiosas que aqui se vieram refugiar durante e após a guerra civil na China. Os padres de PIME (Missões Estrangeiras de Milão) instalaram-se no Seminário e em São Agostinho, ficando encarregados desta igreja, que serviu de paróquia aos refugiados de Hong Kong; os jesuítas da Província Irlandesa de Hong Kong da Companhia de Jesus instalaram-se na Vila Flor e no Colégio de S. Luís Gonzaga, fundado por eles a 4-1-1943, para a educação dos refugiados; as irmãs de São Paulo de Chartres abriram na Penha, em Janeiro de 1950, um pensionato para as crianças de menos de 4 anos; os Maristas alojaram-se em 1950 com os seus alunos na Casa de Campo do Seminário na Ilha Verde; os Franciscanos, em 1949, na Vila Flora; os Salvatorianos, na Estrada da Vitória; os Carmelitas de Pequim, a 21-11-1948, no Seminário de S. José; os Lazaristas no Orfanato da Imaculada Conceição; os Redentoristas, em S. Agostinho; as Irmãs do Precioso Sangue, no n. º 3 da R. da Praia Grande. D. João Ramalho construiu em 1954 o externato, a sala de estudo e o teatro do Seminário e restaurou a igreja em 1953. Resignou em 1954 e retirou-se para Portugal. Morreu em Vilar do Paraíso a 26-2-1958.



Estátua de Nossa Sra. de Fátima no antigo destacamento militar de Mong Há.
“Desde o dia 13 de Novembro está exposta à adoração dos fiéis, no Aquartelamento de Mong Há, uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, que foi confiada pelo Bispo de Leiria ao Destacamento Expedicionário quando da partida da Força Expedicionária para Macau. Cavada na rocha, uma gruta de aspecto propositadamente rude, concebida pelo talento artístico de Osseo Acconci, serve como de engaste para um pequeno retábulo, donde emerge a Imagem na sua esplêndida beleza. Uma pequena grade de bronze, a meia altura, e alguns lavrados junto ao tecto, onde se distingue o emblema da Artilharia, dão com a sua singeleza um timbre branco de boas-vindas a quem se aproxima. Num dístico à porta lê-se: "Portugal, terra de Fé" e, à esquerda, um lampadário sempre acesso que foi oferecido pelo Bispo de Macau, D. João de Deus Ramalho, simboliza a crença viva de quantos militares vivem naquele quartel, onde se encontram quatro unidades expedicionárias de Artilharia e Infantaria. A inauguração da gruta que se deu a 13 de Novembro, teve a assistência de Governo, das restantes autoridades e de todas as pessoas qualificadas da Colónia além de muito povo.
in revista Mosaico em 1950

Em:
Nota: O meu Avô Jaime Craveiro era primo em 4.º grau de Dom João de Deus Ramalho.


Jaime Gama

3 comentários:

Anônimo disse...

Este Homem era uma fonte de energia inesgotável! Correu Seca e Meca, indómito, para prosseguir os seus objetivos pessoais, mas sempre em prol da sua finalidade última que era o cuidado com o seu semelhante. Vem referido quase em todas as enciclopédias e lá consta o nome da sua terra natal, S. Vicente da Beira. Quando vinha à vila (a casa do Padre Tomás) eu ouvia dizer às minhas vizinhas: "Vem cá o Sr. Bispo, vamos lá beijar o anel!"
Quando ele morreu, tinha eu 6 anos. Há pessoas que tinham 5 anos (menos uns meses que eu) que se lembram de lhe beijar o anel na urna! Eu explico (e disto lembro-me perfeitamente): a urna estava aberta na Igreja para as cerimónias de corpo presente. Portanto, ele estava à vista de toda a gente, paramentado com as vestes de bispo.
Desde que me conheço, nunca vi, em S. Vicente da Beira, um movimento tão grande de pessoas (que para mim parecia gente tão importante!). Bispos de todo o lado (alguns com barbas brancas quase até à cintura!), padres de batina preta eram aos montes, enfim, muita gente da Igreja. "Os Vadios" do Colégio de S. Fiel vieram numa camioneta de carga e saltavam para a praça com os seus fardamentos de ganga azul, como a tropa. E, depois, era uma multidão de leigos que não vos digo nada!... No céu, aviões sobrevoavam a vila, enquanto se realizava o funeral!
Já agora: a minha avó paterna também era prima direita do D. João.
Um Homem há tantos anos na presença de Deus! Como dizia um pequeno folheto com uma fotografia sua, publicado aquando da sua morte (julgo que ainda anda lá em casa): "Fiat voluntas tua." (Faça-se a Tua vontade).
Abraços.
ZB

Anônimo disse...

Pode não ser exatamente assim, mas, pelo que sei, o casal João José Ramalho e Antónia do Carmo terão tido uns nove ou dez filhos, mas muitos deles morreram na infância. Dos sobreviventes, dois terão sido padres (Tomás e Inácio), outro bispo e uma das raparigas foi freira. Provavelmente só o pai ou mãe da menina Maria de Jesus se terá casado e deixado descendência.
Lembro-me de muitas coisas de quando tinha três ou quatro anos, mas não me lembro da morte do Bispo João Ramalho, talvez porque nessa altura o meu pai trabalhava na fábrica da resina, em Castelo Branco, e nós vivíamos lá com ele.
Mas tenho ideia de ouvir falar do bispo desde muito pequena, sobretudo por uma história que se contava na minha família: Enquanto D. João Ramalho esteve em Macau passaram por lá muitos militares portugueses, alguns de S. Vicente. O meu tio Joaquim também lá andou no final da década de quarenta ou princípio da de cinquenta do século passado. Diz que quando abalou, a família do bispo lhe pediu que levasse uma encomenda, e que lha entregasse o mais cedo possível para as coisas não se estragarem (naquele tempo a viagem de barco demorava três meses). O meu tio, assim que chegou, fez questão de ir visitar o senhor bispo e levar-lhe a encomenda. Esteve uma tarde inteira à espera de ser recebido e quando, já noite, a pôde entregar, nem um copo de água lhe ofereceu. Quando chegou ao quartel o rancho já tinha sido servido. Por causa disso passou a noite toda às voltas, cheio de fome.
M. L. Ferreira

Anônimo disse...

Recuperando o final do comentário do Zé Barroso: por que carga de água o padre Tomás terá enviado a Salazar um exemplar do dito «santinho» - ad majorem Dei gloria?
Dá-se um queijo.
José Miguel Teodoro