(…)
Sendo assim, vou continuar com os meus escritos para ir enchendo papel, o papel
só tem valor se tiver palavras, frases, desenhos, rabiscos…se não tiver nada,
não passa de uma folha em branco ou de outra cor. Não é sobre este assunto que
quero escrevinhar algumas palavras.
Vamos
a isto.
A vida de um ser humano tem uma duração
limitadíssima, o máximo cem anos mais dez, menos dez. A maior parte das pessoas
quando ultrapassam os noventa têm uma saúde muito frágil, estão limitadíssimos,
os reflexos já não são o que eram, passam as horas à espera…
É a regra, embora haja pessoas com uma
memória invejável, ainda se movimentam razoavelmente bem; não é a regra.
A qualidade de vida não acompanhou a longevidade,
os lares são um bom exemplo daquilo que estou a dizer. As funcionárias de manhã
levantam os velhinhos, muitos deles são transportados em cadeiras de rodas,
entram na sala, sentam-nos no sofá e ali ficam até à hora do pequeno-almoço.
Voltam novamente para o sofá até ao lanche e
assim sucessivamente. Findo o jantar, cama.
Quem se movimenta ainda se levanta e dá uma
volta pelo corredor, quem não se mexe…
Coitados deles, tanto lutaram, de repente
ficam incapacitados, à merce dos semelhantes.
O destino tem destas coisas, longevidade
igual a limitação. As pessoas acomodam-se, não têm outro remédio, os filhos
trabalham, vivem longe.
Precisam de muito carinho, muita atenção e
amor. Quantos há que foram “despejados” nos lares pelos familiares e nunca mais
lhes ligam, não querem saber deles, esqueceram-se depressa dos trabalhos, das
canseiras, dos sacrifícios que passaram para os criarem.
Um dia
terão a recompensa, alguém lhes fará o mesmo.
A vida
é feita de bons e maus momentos, é uma labuta diária e constante; impostos,
obrigações, problemas de toda a ordem, de vez em quando surge um dia de
alegria, de festa
O nascimento de um filho, o baptizado, a
licenciatura, uma promoção no trabalho, um aumentozito… coisa pouca em oposição
aos maus momentos.
Invejas, doenças, incompreensões, ódios, compromissos
assumidos… A vida é uma chatice, mesmo assim, julgo que a maioria gosta de cá
andar. De vez em quando há alguém…põe fim à vida, porquê? Só ele sabia. Um
desgosto, uma dívida que não conseguiu controlar… Quem termina bruscamente com
a existência lá terá as suas razões, não o podemos condenar, que tenha uma vida
mais favorável na outra…
Se houver alguém que consiga adivinhar
através de sinais o pensamento da pessoa com pensamentos suicidas que o
acompanhe e o demova a fazer tão tresloucado ato.
Tudo se remedeia desde que haja compreensão
entre os homens.
Uma casa centenária, velhinha, pode ser
reconstruida e durar outro tanto tempo, mas também pode ser destruída num
instante e nunca mais ninguém a torna a ver.
Com o suicida acontece a mesma coisa, se
alguém o amparar, salva-se, se ninguém lhe deitar a mão, num instante termina…
Todos sabemos que a vida são dois dias, é tão
frágil a vida; vela acesa exposta numa corrente de ar, uma aragem... A vida começa
num choro, tal como a fogueira começa por fumegar, depois vem o brasido, para
finalmente terminar em cinza.
Fiquem bem!
J.M.S
Um comentário:
Para além do enorme problema do fim da nossa vida, duas questões: suicídio e eutanásia. É sabido que sobre a primeira, dizia Pascal (mais ou menos isto): "Os que se vão suicidar também procuram a felicidade." Costuma-se ainda dizer-se que "Só não há remédio para a morte", porque, de resto, pode dar-se sempre a volta por cima. O problema é que, nestes casos, para essas pessoas, o único remédio parece ser a morte! Enigmas do homem! Mas o suicídio levanta situações curiosas do ponto de vista penal. Se for o próprio a cometer suicídio não há pena (porque o próprio morre!); mas mesmo se não morrer (tentativa de suicídio), também não há pena. Já, se pedir a alguém que o mate ou o auxilie a matar-se, aquele que o auxilia é condenado; seja na consumação, seja na tentativa.
A segunda questão do texto (eutanásia ou suicídio assistido) está, hoje, na ordem do dia. Em Portugal, decorrem debates sobre o assunto em vários fóruns. Mais tarde se verá se a comunidade (através da lei) aceita essa hipótese. A Igreja Católica e, de uma forma geral, a nossa cultura, condenam qualquer destas formas de extinção da vida. No caso em que é o próprio a fazê-lo, a lei não o penaliza e a Igreja, na prática, também já não o faz. Portanto, é possível que daqui a uns anos seja legalizado. Na moral da Igreja, porém, (mesmo que seja apenas na doutrina), ainda vai levar muitos anos!
Abraços.
ZB
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