VILA DA MEIA SERRA
Vagas verde-escuras dos
pinheirais,
Mar ameno de agulhas
fremente,
Levantado pela aragem
da Gardunha,
Meu olhar de menino,
Desfazendo-se a poente,
Onde, ao cair do dia,
O sol de ouro metálico
se punha.
Vale das encostas da
serra,
Em que fraldejam casas,
Assentes no granito
rijo e puro,
Casario a estender-se
pela terra,
Telhados vermelhos,
Paredes brancas de cal
e pedra alva,
Mescladas de sombras do
xisto escuro.
Do
ventre da guardiã granítica,
Nasceste quase na raia de Espanha,
Montes
por onde lutou o bravo lusitano,
Do
primeiro e do segundo reis, vila mítica,
Que
os ares gelados da estremenha,
Fustigam,
danados, no inverno,
Como
nos agrediu o soberbo castelhano.
Os olivais também
ondeiam pelas hortas,
Revirando as folhas no
gris dos dias de novembro,
Em maio exibes o imenso
amarelo das giestas,
Em janeiro, o branco da
neve e o negro das azeitonas,
No verão, as cerejas
rubras,
E os cachos de uvas
roxas em setembro,
Como bandeirinhas na praça pelas
festas.
Vila robusta, feita de pedra, até
à alma,
A ribeira rega-te, no verão, os
lameirais viçosos,
Enquanto no verde dos cômoros do
caminho,
Esvoaçam folhas, ao de leve, em
tarde calma,
Como o melro roça a asa nos olmos
frondosos,
Onde, furtivo, vai dar de comer
aos filhos,
No aconchego do arbusto em que
fez o ninho.
Terra de séculos, dos tempos idos
da história,
De muitíssimas gentes e grandes
eventos de outrora,
Mas também de desgraças e de
concelhos perdidos.
Destes, quero esquecer-me e
guardar, somente, na memória,
Os júbilos e contentamentos
antigos, as festas e romarias,
Porque as coisas vis e a má
fortuna, essas, lancei-as fora,
Como se tiram da lembrança os
maus instantes e se deixam esquecidos.
Joaquim Benedito
3 comentários:
Dita assim, ainda fica mais linda a nossa terra!
E que bem ficaria este poema junto ao D. Sancho I, na nova praça…
Oxalá as sugestões aqui deixadas a propósito dos últimos artigos não se percam pelo caminho!
M. L. Ferreira
Em verdade, em verdade te digo Benedito: isto é do melhor que já fizeste!
Por isso, após o ler, me saiu o título ao alto: Vila-poema.
O Benedito tem uma ligação muito romântica com a Vila, pela maneira como o seu coração a vê. O poema tem umas imagens muito belas o que faz que a Vila fique mais linda do que é, como diz a ML e como diz o ZT há um crescimento no do poeta e um feliz momento de inspiração.
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