sábado, 5 de agosto de 2017

A poesia de Roque Lino




O TOQUE DOS SINOS

São tantos os toques que ecoam
Naqueles sinos da aldeia
Que até conseguiram cantar-me
Na data do meu nascimento
E também celebraram datas
Que a memória vai recordando
Como aquela do casamento.
Sentinela atenta aos fogos
Que crepitavam nos pinhais,
Os sinos eram alvorada,
E convocação para a missa
E chamamento à oração.
Cantavam as Avé Marias
Como o apelo às novenas
E acompanhavam procissões
A par do estralejar dos foguetes
Que explodiam preces no céu.
Curvados sob as enxadas
Vinham camponeses exaustos
E arrastavam-se almocreves
Ao toque do recolher
Que aqueles sinos tocavam
Com a perfeição de um clarinete.
Quero continuar a ouvir
Todas essas badaladas
Já que enquanto as sentir
Não oiço o toque final
Que nunca ouvirei afinal
Porque o sino é festa e é vida.

José Teodoro Prata

Um comentário:

Anônimo disse...

Mais um nome grande de um dos nossos! Foi pena que não tenha tido mais gente a aplaudi-lo, mas talvez porque o evento não tenha sido devidamente divulgado.
Ganhámos nós, os que lá estivemos. Eu ganhei duplamente por ter encontrado o meu amigo Ernesto que já não via há tanto tempo por estas andanças…
Ainda não tive tempo de fazer uma leitura atenta do livro, mas o poema que numa leitura breve me tocou mais, também foi este que o José Teodoro aqui deixou.
Apesar das mudanças nas rotinas e ritmos de vida atuais, o toque dos sinos continua a ser importante para a maioria de nós; umas vezes trazendo boas notícias, outras, nem tanto. Ainda hoje de manhã nos anunciaram a morte de alguém, mas à tarde tocaram a dar conta de um batizado. Pena que a balança esteja tão desequilibrada…

M. L. Ferreira