João, bom camarada, amigo do seu amigo; até do inimigo,
desde que visse alguma necessidade premente, estava no terraço
a preparar um churrasco para presentear as visitas que tinham chegado durante a
tarde. Estes aproveitaram e fizeram uma carpool.
Aproximava-se a noite, o dia fora abrasador. O sol
tinha metido alguns cavacos a mais na fornalha, fazendo com que aumentasse a
temperatura solar seguramente mais um ou dois graus. A ajudar à festa, os
terráqueos, cada vez mais sabedores das ciências e do desconhecido, contribuem com
sua cota parte para que a temperatura suba ainda mais através das indústrias, automóveis…
e outras máquinas sujadoras.
Com temperaturas tão elevadas, a humidade do ar quase
inexistente, os matos e as árvores, potenciais
matérias inflamáveis, num instante, por incúria ou malvadez, se transformam
em pasto de chamas que o fogo devora sem dó nem piedade.
Nesse
dia, a comunicação social televisionada não mostrou nas pantalhas qualquer
ocorrência; apesar disso, o dia tinha sido insuportável, bom para veraneantes e
hoteleiros. Os primeiros molhavam-se nas águas quentes do sul; os segundos faturavam.
Vénus já se via no céu ainda azul; a noite, ao invés
do dia, prometia ser fresca e agradável. João desceu as escadas que davam
acesso à garagem, pegou no saco do carvão, de seguida foi buscar o barbecue que se encontrava numa pequena
arrecadação que fica debaixo das escadas que dão acesso à cozinha.
Depois de o montar, espalhou o carvão, acendeu uma
pinha, pouco tempo depois estava transformado num verdadeiro brasido. Quando
estava a abanar o carvão, aparece junto dele o António, cabisbaixo.
- Precisas de ajuda?
- Vens mesmo na hora certa, sobe as escadas, vai ao
frigorífico e traz umas jolas… conta-me a tua vida que a minha sei eu.
- Deixa-me cá, estou metido num grande sarilho.
- Mau, o que é que se passa?
Aqui há tempos, estava numa esplanada em Castelo
Branco, de repente apareceu, surgindo do nada, uma garina que eu já não via há
mais de dez anos. Sentou-se numa cadeira, entabulámos conversa…puxa conversa; passado
algum tempo, levantámo-nos e dirigimo-nos à pensão onde passámos o resto da
tarde e noite. Ao outro dia, partiu cada um para seu lado. Passados três meses,
aparece à minha frente com a barriga saliente, pediu para falar comigo e me disse
que se encontrava grávida, que o pai da criança era eu. Um affaire…
- Que azar o teu!
- A minha namorada nem sonha, já viste a minha vida?
- Pode estar a fazer bluff só para te agarrar!
- Vi-lhe a barriga mais crescida.
- Se fosse a ti, tirava isso a limpo…
- Vai lá dentro à cozinha buscar as carnes e de caminho
traz três jolas.
O barbecue estava
pronto para receber os assados, na cozinha as mulheres azafamavam-se com os
tachos que ferviam no fogão com as iguarias que acompanhariam as febras, chouriças,
morcelas, salsichas…
- No passado fim de semana, participei numa running wonders, fiz a meia maratona. - atalhou
Vicente, que entretanto tinha chegado junto deles - Participaram umas quatro
mil pessoas. Algumas centenas correram meia maratona; outras, dez quilómetros;
a maioria, caminhou durante cinco mil metros. O tempo estava agradável, nem
frio, nem calor. Não fui dos primeiros a chegar, mas também não fui dos
últimos, recebi uma medalha de cortiça bastante bonita. De seguida, eu e a
Inácia fomos a um shopping, entrámos
numa hamburgueria, comemos um hamburger com batatas fritas. Fast food. Aproveitámos a tarde e visitámos
a exposição temporária que se encontra no Centro de Arte Contemporânea. Estavam
a entrar muitas pessoas para o auditório, fomos ver e entrámos também. Na mesa,
três palestrantes, eis senão quando começaram um Workshop sobre alterações climáticas. Marketing. Quando saímos, descemos ao parque de estacionamento,
entrámos no automóvel, passámos por umas bombas de combustível, atestei o
carro, entrei na zona do market e
paguei. Como tinha em meu poder um voucher,
rumámos ao Lugar do Ainda, que se situa num local bastante aprazível, perto da
barragem do Pisco, em São Vicente da Beira, onde pernoitamos. Pela manhã, os
passarinhos chilreavam alegremente; não muito longe, marulhavam as águas da
ribeira da Senhora da Orada, o atendimento não podia ser melhor. Atenciosos os
proprietários! Tomámos o breakfast, agradecemos
a maneira cordial e simpática como nos receberam e partimos em direcção à nossa
casa.
O churrasco, acompanhado de uma pinga de estalo,
estava uma maravilha, a noite serena, estrelada, envolvia-nos,
como a querer dizer: -Está na hora de irem para a cama, daqui a nada cantam os
galos e chega a aurora…
J.M.S
2 comentários:
Com tantos estrangeirismos, siglas, e abreviaturas, por vezes sinto-me uma autêntica analfabeta. O pior é quando isto acontece em discursos e documentos oficiais. Às vezes até parece que estão a “fazer pouco” de nós…
M. L. Ferreira
Vivem num mundo paralelo a quem os elegeu. É desprezo, mesmo. Pelos portugueses e pela nossa língua.
Postar um comentário