sexta-feira, 27 de julho de 2018

O interior


A vida de cada um de nós tem, como tudo na vida, altos, baixos, maus e alguns bons momentos. No nascimento, os pais vaticinam o melhor para a criança.
O tempo passa, o menino vai crescendo, as espectativas, os sonhos vão-se esfumando, a realidade temporal de tantos sonhos, esperanças, goram-se.
As pessoas à medida que avançam na idade dão-se conta que os presságios iniciais transformam-se noutras realidades.
Com as comunidades acontece o mesmo.
Cito apenas a vila de São Vicente da Beira, outrora uma povoação importante, que apesar de ocupar uma grande área urbana, foi perdendo valor estratégico e aos poucos despojada de serviços fundamentais.
A última machadada aconteceu recentemente com o fechamento das portas da CGD que servia alguns milhares de pessoas e que agora têm que se deslocar a Castelo Branco, Fundão ou Alcains, para resolverem os assuntos relacionados com as suas finanças.
Com o avanço das tecnologias, a mão-de-obra manual torna-se cada vez mais desnecessária.
Capelas, convento, tudo desapareceu, mas a principal machadada foi a extinção do concelho.
A extinção do hospital também foi um duro golpe para as nossas gentes e por aí fora.
E quando tudo estiver entregue às máquinas, como é…
A máquina fez-se para servir o Homem e não o contrário.
Culpo os responsáveis pelo estado a que o interior chegou.
Culpo os responsáveis pelo despovoamento do interior.
Culpo os responsáveis pelo esvaziamento das instituições públicas deixando as populações ao deus dará.
Culpo os responsáveis, em vez de remendos atribuam medidas positivas que atraiam as pessoas para o interior.
Impostos mais baratos, portagens nas auto-estradas do interior mais levezinhas.
Conceder incentivos aos empresários que os animem a investir nas nossas terras.
A qualidade de vida não tem comparação com o litoral atafulhado de pessoas.
Boas águas, bom ar, boas vias de comunicação, nada de engarrafamentos, pessoas acolhedoras e trabalhadoras.
Senhores governantes, não tenham medo, Lisboa vai continuar a ser a nossa bela capital. Se os serviços e empresas estiveram distribuídas pelo território, todos ganharemos e a população não sairá para fora como acontece.
Essa de nos situarmos na periferia já não cola; as tecnologias, as estradas, os meios aéreos… Num instante, está-se num determinado lugar.
A Holanda, a Bélgica, países muito mais pequenos que o nosso, têm uma qualidade de vida enorme.
Portugal é o país do risco ao meio, para o lado do mar, engarrafamentos, indústria…
Para o lado da Espanha, desertificação, abandono, matagais…
Como dizia o grande poeta Camões, o mundo é feito de mudança…
Chegou a hora de sairmos da cepa torta.

J.M.S

3 comentários:

M. L. Ferreira disse...

Não será a única razão, mas, se calhar, se não fôssemos um país de cepa torta que obrigou tanta gente e emigrar, teríamos as nossas ruas e praças cheias de gente durante o ano todo, e não apenas durante o mês de agosto, quando os emigrantes vêm passar alguns dias de férias. E há muitos que já nem vêm todos os anos, que faria se viessem!...

medronheira disse...

Ó Zé Manel vai ser difícil mudar o risco ao meio, agora que Portugal está na moda. Acham-no tão lindo, que não vai querer desiludir...tanto admirador.
Depois ouvem mal e não compreendem o que é isso do interior e porque é que essa gente se queixa tanto, se lá se vive tão bem... e depois há coisas mais interessantes para ouvir. Já te esqueces-te que a madona foi viver para a Lapa?
Os nossos políticos tem os olhos postos no mar, não para novas aventuras, mas para ver os cruzeiros chegar...que são quem traz o dinheiro, que os vai fazer engordar.
Vou-me calar que isto já parece uma letra de intervenção dos tempos revolucionários.
Anima-te Zé.
FB

Anônimo disse...

O perigo da descentralização ainda está presente em S. Vicente da Beira, que nos próximos anos poderá ter a ameaça de perder os bombeiros, a escola e até a gnr, são tempos complicados os que estamos a passar.