António Marques nasceu
em São Vicente da Beira, no dia 30 de março de 1895. Era filho de Francisco Marques
e Maria Bárbara.
Assentou praça no dia
19 de junho de 1916, como recrutado, e foi incorporado no 2.º Batalhão do
Regimento de Infantaria 21. Pronto da instrução da recruta, em 29 de abril de
1916, domiciliou-se em São Vicente da Beira. Era, na altura, analfabeto e tinha
a profissão de jornaleiro.
Mobilizado para a
guerra, embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917. Fazia parte da 1.ª
Companhia do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, como soldado, com o
n.º 437 e a placa de identidade n.º A-8893. Foi vacinado.
No seu boletim individual
apenas consta uma diligência a Paris, entre os dias 11 e 21 de junho de 1918.
Regressou a Portugal, no dia 28 de fevereiro de 1919, a bordo do vapor Helenus.
António Marques com a farda da GNR
Em fevereiro de 1920
ingressou na GNR, como soldado de 2.ª classe. Foi promovido a soldado de 1.ª,
em julho, e a aprendiz de corneteiro, em novembro do mesmo ano. Em agosto de
1921, foi promovido a 2.º Cabo Corneteiro, passando a integrar o Batalhão n.º 2
do Regimento de Infantaria 21. Em 16 de abril de 1922, por efeito de
reorganização, passou ao Batalhão n.º 2 da GNR. Licenciado em 2 de fevereiro de
1922, regressou novamente à terra.
Condecorações:
- Medalha Militar de cobre com a legenda: França 1917-1918;
- Esta medalha foi substituída pela Medalha Militar de cobre da classe de Comportamento Exemplar, pelo Decreto 6568, de 24 de abril de 1920. (O Comandante Interino do seu batalhão, numa informação de serviço com a data de 7 de março de 1922, faz referência ao cumprimento zeloso dos seus deveres e ao seu exemplar comportamento);
- Medalha da Vitória.
Família:
António Marques e Maria
de Jesus Paulino casaram-se, em maio de 1923, e tiveram quatro filhos:
- Felicidade de Jesus, que casou com José Ramos e tiveram 7 filhos;
- José Marques, que casou com Carlota Caio e tiveram 7 filhos;
- Deolinda de Jesus, que casou com Joaquim Paulino e tiveram 4 filhos;
- Maria Bárbara Marques, que casou com Manuel Mateus Jerónimo e tiveram 2 filhos.
António Marques com a esposa, filhos e netos
«Não gostava muito de falar dos tempos da Guerra, mas
quando lhe perguntávamos como é que era a França, respondia-nos que era uma
terra muito longe, de muita miséria, e tinham lá passado muita fome e muito
frio; que a única coisa que lá havia com fartura era piolhos.
Diz que às vezes andavam tão desacorçoados que só tinham
era vontade de chorar. Por causa disso até inventou uma cantiga que era assim:
Soldado
que vais p’ra guerra,
Vais
deixar a tua terra,
O
cantinho do teu lar;
Tantas
mágoas te consomem,
Mas
não choras porque és homem,
E é
feio um homem chorar.
Às vezes puxávamos por ele e contava-nos que um dia
passaram por um sítio onde viram umas raparigas muito bonitas. Eles, rapazes
novos, ficaram todos contentes e alguns saíram da formatura e deixaram-se ficar
para trás, para ver se arranjavam namoro com alguma delas. Pelos vistos não
conseguiram grande coisa, apesar de, como ele dizia, a mãe duma das mademóselas
dizer para a filha: «Leonilde, fé bisu à Antoane!». Mas nunca nos disse se
sempre tinha conseguido um beijinho. Diz que depois é que foram elas, porque se
perderam e viram-se e desejaram-se para encontrar os companheiros. E, claro,
quando chegaram foram castigados.
José da Silva Lobo (José Cipriano) e António Marques
Quando voltou da guerra, em 1919, entrou para a GNR e ficou
colocado em Lisboa. Andou por lá alguns anos, mas entretanto começou a namorar
a minha mãe e, como ela não quis abalar para Lisboa, ele fez-lhe a vontade:
deixou a Guarda e voltou para a terra.
Teve uma vida de muitas dificuldades, igual à da maior
parte das pessoas desse tempo, mas a verdade é que era do trabalho do campo que
ele gostava. Semeava de tudo um pouco, mas apesar de trabalhar muito, a fartura
não era grande, porque as colheitas às vezes mal davam para as rendas e as
sementes. Os tempos também eram difíceis, porque não havia dinheiro, mas também
havia pouco que comprar por causa das outras guerras que vieram a seguir àquela
em que ele tinha andado. Houve alturas em que, para se comprar um bocadinho de
açúcar ou um rabo de bacalhau, tínhamos que ficar horas numa bicha.
Ficou viúvo em 1962, e em 1968, quando eu fui para França, levei-o
comigo e viveu lá ainda durante dezasseis anos. Mal ele adivinhava que, passado
tanto tempo, havia de voltar àquela terra onde tanto tinha sofrido! Mas desta
vez as condições eram outras e ele viveu estes anos com alguma tranquilidade,
mas sempre com o pensamento em Portugal.
Em 1984, viemos passar férias e ele ficou doente e já não
quis voltar para França. Morreu passados poucos meses, na terra de que mais
gostava!»
(testemunho da filha Maria Bárbara).
António Marques faleceu
no dia 19 de maio de 1985. Tinha 90 anos de idade.
(Pesquisa feita com a
colaboração das filhas Felicidade Marques e Maria Bárbara Marques)
Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
Um comentário:
Este António Marques era filho de Francisco Marques e Maria Bárbara, que também eram os pais de Luzia de Jesus Marques, mãe do nosso P.e António Francisco Branco Marques.
Estes Pelados eram gente muito querida do meu pai, aliás ele viveu vários anos, em Marselha, na casa do José Pelado.
Há uns anos, fiz uma visita de estudo e um dos autocarros tinha como motorista o nosso António Marques, atualmente já reformado da Câmara Municipal. Eu não ia nesse autocarro, mas a certa altura do dia contei às minhas colegas que o motorista era meu conterrâneo. Elas disseram-me que já sabiam e que ele lhes dissera que o meu pai, falecido há poucos meses, fora um grande homem e um homem bom. Eram mesmo muito amigos!
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