Padre Leonardo Nunes
VIDA E OBRA
- Nasceu em São Vicente da Beira, em 1509 ou 1518.
- Era filho de Simão Álvares e Isabel Fernandes.
- Aderiu à Companhia de Jesus, em 1548.
- Partiu para o Brasil na primeira missão jesuíta chefiada por Manuel da Nóbrega, em 1549, na armada do Governador-Geral, Tomé de Sousa.
- Fixou-se na capitania de São Vicente, onde foi o primeiro missionário e edificou a igreja e o colégio.
- Foi incansável na doutrinação dos índios e dos colonos portugueses. Aprendeu as línguas dos nativos e defendeu-os da escravidão dos portugueses.
- O Padre José Anchieta escreveu: “...a vida do Padre Leonardo Nunes era muito exemplar e convertia mais com obras que com palavras.”
- Os índios chamaram-lhe Abarebebê (o padre que voa), por se deslocar muito depressa de uns locais para os outros.
- Faleceu num naufrágio ao largo de Santos, em 1554, em viagem com destino a Portugal e Roma.
Ruínas da capela da Conceição de Nossa Senhora, a primeira igreja construída no Brasil, pelo padre Leonardo Nunes, em Peruíbe.
São Vicente, Março de 1554
«Num lugar de índios convertidos, que formou o Padre Nóbrega, dez léguas pela terra dentro (Piratininga, embrião da futura vila e cidade de São Paulo), temos uma igreja e uma casa mui pequena e pobre, feita de barro e paus, e coberta de palha, que é, ao mesmo tempo, escola, enfermaria, dormitório, refeitório, cozinha e despensa, construída pelos próprios índios para uso dos nossos; está nela o Padre Nóbrega e mais sete irmãos.»
(Carta do Padre Leonardo Nunes, em “Abarebê” Tão rápido como um Beija-Flor, de José Miguel Teodoro, Edição da Câmara Municipal de Castelo Branco, 2004)
José Teodoro Prata
5 comentários:
Um nosso ilustre desconhecido, mas importante na História das zonas do Brasil por onde andou.
Já aqui escrevi, mas o município de São Vicente, no extremo Sul da costa brasileira, chama-se assim, não devido à presença do padre Leonardo Nunes nessa região, mas porque os portugueses chegaram lá no dia de São Vicente (de 1501), quando fizeram o reconhecimento de toda a costa brasileira pela primeira vez.
Às vezes ando perdido por vários sítios e não venho aqui. E ainda me dizem que os ciganos é que são saltimbancos!
Em todo o caso, para fazer um comentário sobre 'O vinho' (post anterior), não vale a pena, porque a Libânia já disse tudo!
Resta-me, potanto, o post atual sobre os vicentinos ilustres. Para dizer que, há tempos, encontrei na minha casa de S. Vicente da Beira o livro "Abarebebê" do JM Teodoro, sobe o padre Leornardo Nunes, nosso conterrâneo, que percorreu o Brasil no séc. XVI. Um homem que está ao nível (pelo menos comungou do mesmo ideário) de um Anchieta, um Nóbrega ou um Vieira (embora este último deva também a sua fama à arte da literatura). Mas todos defenderam os ameríndios contra os interesses europeus oficiais. Veja-se o filme "A Missão", com Robert de Niro e Jeremy Irons (e, já agora, ouça-se a banda sonora "Gabriel's Oboe" de Enio Morricone - "O Bom o Mau e o Vilão", lembram-se? - falecido há pouco tempo).
Mas, por falar em vicentinos ilustres, não há muito tempo, soube que foram atribuídos nomes de pessoas a ruas novas de S. Vicente da Beira. E então fiquei muito admirado! O Leonardo Nunes, eles nem sabem quem foi! Nem se informam junto de quem estuda a história! Portanto, adiante! Infelizmente é o que temos!
Há uns anos, mandei um e-mail à Junta de Freguesia, sugerindo que fosse dado o nome de D. Sancho I à praceta nova ao fundo da igreja. Como se sabe, não há na Vila uma única referência ao rei que criou o concelho de S. Vicente da Beira no séc. XII !! Não soube mais nada...
Mas, em relação à toponímia, parece que deram o nome de "João Duarte" a uma rua, "Dr. Figueiredo Alves" a outra, "Robles Monteiro" a outra. Creio que já há mais tempo, "Padre Branco" e "Joaquim Morão" foram outros nomes dados a ruas, avenidas ou alamedas públicas na Vila. São os que me lembro agora. Nestes assuntos, há sempre quem concorde e quem discorde. Concorco com todos, excepto dois: "João Duarte" e "Robes Monteiro"! O primeiro porque nunca fez nada pela terra nem nunca deu emprego aos vicentinos (com exceção, ceio eu, do sobrinho, Vítor); o facto de ter dinheiro, não dá a ninguém o direito de ter uma rua com o seu nome! O segundo, porque foi ator, mas se limitou a nascer em S. Vicente da Beira; não consta que alguma vez tenha feito alguma referência à terra em que nasceu! Gostava de ler as atas da Junta de Freguesia e ver o resumo do memorando que serviu de base para atribjuição destes dois nomes a duas ruas da Vila. Mas, enfim, é sempre possível remediar os erros!
Hoje, como dantes, continuamos a fazer coisas espantosas nesta terra! É o destino! Nós, afinal, não temos emenda! Portanto, também não podemos queixar-nos!
Abraços, hã!
JB.
Ainda bem que é aqui abordada a questão dos nomes das ruas novas de São Vicente. Passo por elas muitas vezes e, salvo o Padre Branco que, com todos os seus pecados fez muito pela nossa terra, olho para aqueles nomes e penso sempre, cá com os meus botões, o mesmo que o José Barroso diz agora. Nunca comentei com ninguém porque achava que podia ser ignorância minha.
Sobre todos os padres portugueses que foram evangelizar os povos das regiões descobertas durante as viagens marítimas, o que sabemos (ou pensamos saber) é que tiveram uma atuação bem mais humanizada que os espanhóis, de quem se diz que cometeram verdadeiras chacinas junto de quem se lhes opunha. Bem sei que eram outros tempos, mas que bom que teria sido se aquele Código de Direito Canónico que diz que não é lícito obrigar os homens a aderir à doutrina católica contra a sua consciência tivesse sido publicado alguns séculos antes. O que se teria evitado em mortes e torturas de tanta gente, incluindo mesmo os judeus e os árabes.
Obrigado, meu caro por esta memória.
Agora, pessoas importantes para nomes de ruas? "Quem construiu Tebas, a das sete portas?...", perguntava o B.Brecht, dando a resposta a seguir... Olha, podiam ter-se lembrado do padre Sebastião Fernandes, clérigo de missa e prior da igreja de São Vicente, que em Maio de 1501 teve legitimadas (Chancelaria de D. Manuel I) três filhas suas e de Maria Afonso, a Ana, a Juliana e a Eva (posso dar referências sobre o homem!). Numa futura cruzada toponímica, talvez.
Quanto à suposta bondade das nossas colonizações, versus as sanguinárias dos vizinhos, com o devido respeito, esta história tem que se lhe diga.
Cumprimentos e obrigado por manterem acesa a chama.
JMT
Zé Miguel: boa saúde!
Eu também acho que as colonizações foram todas muito próximas no que concerne à atuação dos conquistadores. O objetivo era tomar terras e dominar povos em benefício do rei europeu mandante. Mas, justamente, quando se diz próximas, diz-se semelhantes, mas em tudo. Havia violência, visto que era necessário submeter tudo o que se opusesse à vontade rei. E era no meio dessa violência que apareciam certos homens (sobretudo missionários) que, no contacto concreto com os nativos, espalhavam a sua humanidade, vedadeiro cerne do cristianismo. Isto é bem visível no filme "A Missão".
A estas duas formas de estar da mesma instituição (Igreja Católica), tenho chamado "Igreja oficial" e "Igreja popular". E também se sabe como a "Igreja popular" teve muitas vezes problemas com a "Igreja oficial", devido a uma espécie de "raison d'Éta". Mas, é claro que o mal de tudo isto e algum bem, aconteceu com todas as colonizações e não apenas com a portuguesa. Daí que, como digo, concorde que é um facto que todas elas foram idênticas.
Relativamente aos nomes das ruas novas de S. Vicente da Beira (questão também abordada por ti e pela Libânia) e todas essas questões que dizem respeito à terra, não vejo outra forma senão discuti-las num forum para ficarmos um pouco de consciência tranquila... Pois, a solucão do problema, essa, está apenas, pelo menos em parte, no investimento. Como sabemos.
Abraços, hã!
JB.
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