Joaquim Inácio
Joaquim Inácio nasceu em São Vicente da Beira, no
dia 14 de setembro de 1895. Era filho de Joaquim Inácio, jornaleiro, e Mariana
dos Santos.
Fazendo parte do CEP, embarcou para França no
dia 21 de janeiro de 1917, integrando a 1.ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento
de Infantaria 21, como soldado com o n.º 467 e a placa de identidade n.º 48920.
Do seu Boletim Individual constam as seguintes
ocorrências:
a)
Baixa
ao hospital a 14 de Julho de 1917; alta em 24 do mesmo mês.
b)
Punido
em sete de agosto de 1917, com dois dias de detenção, por se ter ausentado da
instrução, no dia 6 de agosto, sem autorização.
c)
Punido
com dez dias de detenção, por ter faltado sem motivo justificado às refeições
de 12 de janeiro de 1919, apresentando-se algumas horas depois.
d)
Baixa
ao hospital no dia 18 de fevereiro de 1919 e alta em 28 do mesmo mês.
e)
Embarcou
de regresso a Portugal, no dia 6 de março de 1919, a bordo do vapor inglês Helenus.
Condecorações: Não foi possível consultar a
folha de matrícula de Joaquim Inácio, nem no Arquivo Geral do Exército nem no
Arquivo Histórico da G.N.R., pelo que não tivemos acesso a esta informação.
Joaquim Inácio casou em Lisboa com Gracinda
Gomes, de Couto do Mosteiro, Santa Comba Dão, no dia 19 de Novembro de 1921.
Sabe-se que tiveram filhos, mas já ninguém recorda os seus nomes.
Depois de regressar de França, ingressou na GNR
e esteve colocado em vários quartéis de Lisboa. Um deles terá sido o do Carmo,
onde, dizem, alguns conterrâneos o procuravam para lhe dar um abraço ou pedir
ajuda quando precisavam.
Conta o senhor José da Silva (Zé Marau) que um
dia, ainda rapaz novo, foi a Lisboa e passou pelo Palácio de São Bento onde
vivia o Salazar. Devem tê-lo confundido com outra pessoa, porque mal parou para
olhar para aqueles jardins tão bonitos, veio um polícia que o agarrou e levou preso
para o quartel do Carmo. Quando lá chegaram, encarou logo com o conterrâneo que,
depois de um grande abraço, pegou nele e foram os dois beber um copo numa
taberna que havia ali ao pé.
Joaquim Inácio voltava à terra sempre que podia,
e as Festas de Verão e a Senhora da Orada não se faziam sem ele. Parece que a
mulher e as filhas poucas vezes o acompanhavam, mas a guitarra trazia-a sempre
consigo. Era uma alegria quando se juntava com os amigos e corriam as ruas da Vila
a tocar e a cantar. Só paravam à porta das tabernas, para molhar a garganta. E
na Senhora da Orada, depois de comerem a merenda, punha a família toda a
dançar.
Os irmãos tinham um grande orgulho nele e
disputavam entre si quem é que lhe dava de comer e de dormir, sempre que vinha
à terra. Apesar de serem todos muito pobres, esmeravam-se nos mimos, cedendo-lhe
a enxerga mais macia e pondo-lhe na mesa o que de melhor tinham em casa. Conta-se
que um ano coube a um dos irmãos mais pobres recebê-lo. Como não tinham roupa
de cama à altura do que pensavam que ele merecia, foram pedir a outra das irmãs
os lençóis do casamento para lhe fazerem a cama. Dizem que ficou tão bonita que
até parecia um altar!
Joaquim Inácio faleceu no dia 19 de Maio de
1961. Tinha 65 anos. Dizem que nesse ano ninguém da família foi à Senhora da
Orada…
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
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