quarta-feira, 5 de junho de 2024

25 de Abril - 50 Anos

 Um democrata assumido

Discurso do Pe. José Hipólito Jerónimo, na festa do 25 de Abril, no Tortosendo, a 27 de abril de 1974. Fonte: Jornal do Fundão, de 5 de maio de 1974 (agradece-se partilha nas redes sociais)

Estamos aqui por uma razão muito simples, mas muito importante, estamos aqui porque estamos contentes. O dia 25 de Abril trouxe-nos a primeira alegria limpa, sã, expontânea, de todo o bom povo português nos últimos 48 anos. Estamos a viver a aventura de sermos livres pela primeira vez, de podermos mostrar abertamente, sem medo, o que somos, o que pensamos, o que queremos. Numa palavra: estamos a viver a felicidade de nos sentirmos, finalmente, homens no verdadeiro sentido da palavra.

Amigos! Permiti que vos dê conta de mais uma razão para o meu contentamento e para a minha presença aqui. Eu, como cristão e como padre, estou feliz porque caiu um regime anti-cristão, anti-democrático e anti-humano. Porque um regime         que à mentira chamava verdade, às trevas chamava luz, e, sobretudo, à opressão chamava liberdade, não era um regime cristão, não era um regime humano.

Aliás, como cristão que sou, e estou certo que muitos outros cristãos pensam como eu, não quero um regime cristão para Portugal; quero sim um regime que represente todo o povo português porque só assim poderá servir a todo o povo português.

Amigos! Não olhemos mais para o passado. Não nos deixemos tomar do ódio nem da vingança, mesmo que tenhamos sido - e todos fomos – agravados durante tantos anos. Sejamos generosos! Mostremo-nos dignos da liberdade que o Movimento das Forças Armadas nos conquistou, mas que nós próprios temos agora de consolidar através do nosso trabalho, do nosso civismo, da nossa capacidade de escolha e das nossas opções! Olhemos para a frente, demo-nos as mãos e, unidos, construamos todos um Portugal mais justo, o Portugal do Futuro!

José Teodoro Prata

2 comentários:

José Teodoro Prata disse...

No dia 25 de Abril todos os portugueses eram democratas, mas no dia 24, os democratas eram uma espécie rara e em constante perigo. Daí o mérito do Pe. Jerónimo, que se assumiu democrata quando amadureceu as suas ideias políticas e era perigoso fazê-lo. O caso dos democratas pós-25 faz-me lembrar uma canção do Sérgio Godinho, por esses dias (O Meu Compadre).

Curiosa a nossa memória, aliás há semanas o Pacheco Pereira alertava para os erros de memória e por isso os documentos são fundamentais.
Pensava ter estado na festa do 25 de Abril, no Tortosendo, mas não me lembro deste discuro e possivelmente só estive na do 1.º de Maio, onde de facto as pessoas nos perguntavam pelo Pe. Jerónimo, pois o queriam a festejar com eles.

M. L. Ferreira disse...


Já li o texto algumas vezes e de todas fico com o coração ainda mais contente por haver um padre (haveria mais, mas não seriam muitos, como sabemos), nosso conterrâneo, que soube falar daquele dia 25 de Abril como o fez o Padre Hipólito. Nem a Sophia no seu poema.
E o melhor é que são bem visíveis as sementes que deixou em muitos dos que privaram com ele no seminário e fora dele.
Merece mesmo ser muito divulgado!