As casas, os
castelos, os palácios têm alma, guardam histórias, alegrias, tristezas, emoções
de quem as habita ou habitou, são sacras as casas.
Verdadeiros
alfobres, sejam ricas ou pobres, são beléns, ninhos de amor; carnal, filial,
locais de união familiar, recordações que nos trazem à memória a nossa
meninice, nossos pais e avós.
Todas as casas
são lugares sagrados, refúgio para os seus.
Quando terminam
o ciclo de darem guarida aos legítimos proprietários, outros as deviam
utilizar:- associações de carácter lúdico ou social.
Preferível será “vende-las
ou cede-las” a quem delas cuide e mantenha que deixá-las apodrecer, cair.
Porque não as autarquias criarem mecanismos que incentivem à recuperação das
casas degradadas através de regulamentação, apoiando no material: “areias, cimentos, tintas”…
As casas têm
alma, fazem parte da paisagem urbana ou rural onde se situam, representam uma
determinada época mais ou menos longa, se as pedras falassem, quantas
confidências, quantas histórias, aventuras, não contariam as casas.
Cada vez que
deixamos cair uma, o lugar fica amputado, pode nascer outra mais moderna,
funcional, mas a história da anterior caiu com ela. É um ciclo novo que nasce,
a alma daquelas pedras sagradas no momento da demolição desapareceu.
Há por aí tanta
gente a necessitar de uma habitação condigna, vivem nas ruas, em casebres, sem
qualquer conforto, sujeitos às intempéries.
Antes de caírem,
reconstruam-se, mantendo a fachada original, depois; aluguem-se por um preço
justo. É preferível, que abandoná-las como quem abandona um animal.
As casas têm
alma, ao olharmos para elas imediatamente nos vem à memória pessoas da nossa
geração que nelas habitaram, nossos pais e avós contavam-nos também nomes de
vizinhos que nunca vimos mas ficámos a saber que para além dos Antónios, Josés,
Marias… nossos e nossas contemporâneas outras e outros as habitaram.
Nesta existiu um
sapateiro; naquela, um latoeiro; mais acima um barbeiro; naquele portão
vendia-se vinho a copo, era uma taberna; um pouco mais abaixo nos baixios de um
solar havia grandes tonéis onde os taberneiros se abasteciam, era uma adega; na
mesma rua, comerciantes mercadejavam toda a espécie de mercadoria…
As casas têm
alma enquanto estão de pé, quando caem; adeus.
Não são gente,
mas deram e continuam a dar guarida às pessoas, a ser a pátria de cada um de
nós; por isso e por cada casa que desaparece do mapa digo:
- Réquiem.
- Réquiem.
J.M.S.