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quinta-feira, 13 de junho de 2024

No tempo das cerejas

Ao lado da casa dos meus avós, no Casal, havia duas cerejeiras. Todos os anos carregavam tanto que às vezes até esnocavam alguns ramos. Eram tão altas que só os rapazes conseguiam trepar por elas, mas, para nós, o meu avô arrumava-lhes uma escada, mal as cerejas começavam a ficar encarnadas, e só a tirava muito tempo e grandes barrigadas depois, quando até as passas já tínhamos comido, a meias com os pardais.

Era um tempo farto, e em que até as raparigas também ficavam mais bonitas, enfeitadas com os brincos novos todos os dias.

Contam que a Amália Rodrigues, que terá nascido no Fundão, não foi registada logo à nascença por falta de meios dos pais. Tempos mais tarde, quando a mãe a quis registar e lhe perguntaram a data de nascimento da menina, terá respondido: «Foi no tempo das cerejas». Isto prova que vem de longe a importância da cereja na economia da região.

ML Ferreira

Fotografia de Diamantino Gonçalves

domingo, 15 de maio de 2011

O nosso falar: pencas

Uma ida a São Vicente é um manancial para os Enxidros.
Ainda no domingo de Páscoa, encontrei-me com o Francisco Alves Barroso, pois as festas são momentos especiais pelo reencontro de amigos.
Conversámos sobre as nossas agriculturas, claro está!
"Então as tuas cerejeiras já dão prova este ano?"
"Já. Tinham bastantes cerejas, mas muitas não engrossaram, ficaram pencas, como diz a minha mãe."

Lamentou-se o Chico, desejoso de provar as cerejas da plantação que fez com o cunhado, lá para os Enxidros.
"É do frio. Também já me aconteceu o mesmo: num ano tinha as cerejeiras carregadas e depois deram poucas."
Do frio e da juventude da árvore, amigo Chico.


É curiosa esta palavra pencas, usada pela Ti Maria dos Anjos Alves.
O termo designa uma realidade exatamente oposta à deste caso concreto.
Penca é um nariz grosso, uma couve tronchuda, uma folha grossa e carnuda. Aqui, refere-se a uma cereja que mirrou, pele seca colada ao caroço, numa altura em que se esperava dela que ficasse carnuda e rubra.
Paciência, a natureza lá sabe as linhas com que se cose. «...pró ano já são mai muitas!"