Mostrando postagens com marcador convento das religiosas franciscanas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador convento das religiosas franciscanas. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Vicentinos ilustres

José Pires Lourenço

VIDA E OBRA

- Nasceu na Póvoa da Atalaia, em 1891.

- Era filho de António Lourenço e Maria Vitória, naturais e residentes na Póvoa da Atalaia.

- Entre 1905 e 1909, trabalhou como ajudante de feitor agrícola, nas Zebras, em casa de Albano Caldeira.

- Aos 14 anos, a antologia «Poesias Selectas» revelou-lhe a paixão da sua vida: a poesia.

- Em 1920, casou com Palmira Ribeiro de Azevedo, natural de S. Vicente da Beira.

- De 1909 a 1926, viveu na Borralha, na casa mãe dos condes da Borralha.

- No ano de 1926, fixou-se em S. Vicente da Beira, como feitor da Casa Conde.

- Viveu na rua do Convento, em solar de 1888, construído no local do antigo convento das Religiosas Franciscanas.

- Foi poeta durante toda a vida, mesmo depois de cegar, em 1957. Ditava os versos ao filho António Lourenço Azevedo ou a quem lhos pedia. Reuniu a sua poesia em dois volumes que nunca publicou.

- Colaborou nos jornais «Voz do Santuário», «Beira Baixa» e «Pelourinho».

- Faleceu em S. Vicente da Beira, no ano de 1970. Lá por eu em S. Vicente / Não ser nado nem criado, / Espero sinceramente / De ser aqui sepultado.



 

Ao meu livro

(petição)

 

Ó livro dos meus amores,

Ó meu leal companheiro,

Alívio p´ras minhas dores,

Meu amigo verdadeiro.

 

Encontro em ti as doçuras

Que não tem qualquer amigo,

Quantos dias de amarguras

Eu só distraio contigo.

 

Tu és o meu confidente

Só em ti encontro calma,

Tens, em teus versos, pendente

Aos pedaços a minha alma.

 

Quantas vezes refletindo

Em tristes horas desertas

Me vai o pranto caindo

Nas tuas folhas abertas!

 

No teu conteúdo se encerra,

N´uma grande saudade,

Os sonhos de alta quimera

Que sonhei na mocidade

 

Toda a tua cantilena

Foi feita por minha mão,

Tendo, no bico da pena,

O meu próprio coração.

 

Como amigo que sou teu

Pedir-te um favor queria,

Se eu fosse livro e tu eu,

Eu também te atenderia.

 

Peço me não desampares

(Somos amigos diletos)

Se eu morrer e tu ficares

Diz cá meu nome aos meus netos.

 

Fazes-me isso, ora diz?

Prometes de assim fazer?

O nome deste infeliz

Só tu lho podes dizer.

 

E p´ra estares mais lembrado

Dou-t´o nome por extenso

Do teu muito afeiçoado

Amigo José Lourenço.

 

José Teodoro Prata

sábado, 1 de julho de 2017

O prazo da Paradanta

Rua e casas da Paradanta; foto do Carlos Matos

Em 1836, realizou-se o "Inventário dos Bens e Acções do Extinto Convento das Religiosas Franciscanas", de São Vicente da Beira. A dado passo escreveu-se:


«Um prazo que consta do Casal do Povo da Paradanta, freguesia desta vila de São Vicente da Beira, que parte com a divisa do termo em outro tempo da Covilhã e hoje do Fundão, águas vertentes, e do outro lado com fazenda da antiga religiosa Ângela do Céu e com fazenda de Manuel Antunes do povo dos Boxinos, cujo casal as religiosas do Convento de São Francisco desta vila de São Vicente da Beira aforaram em "fathoerim perpetuo", enquanto o Mundo durar, aos moradores do dito povo da Pradanta, a saber, Brás Leitaõ e sua mulher, a Manuel Mendes e sua mulher, a João Antunes e sua mulher, a Mateus Fernandes e sua mulher, a Iria Francisca viúva e aos mais moradores, pelo foro anual de cinquenta e um alqueires e meio de centeio, meados de trigo, em cada ano, e mais um carneiro vivo e um bode capado, três galinhas e duas dúzias de ovos, tudo pago em dia de Nossa Senhora de Agosto de cada ano, por escritura feita nas Notas do Tabelião Manoel de Andrade Azevedo desta vila, em doze de abril de mil setecentos e vinte e três. Cujo contrato foi avaliado pelos louvados fazendeiros deste inventário, abatido o foro, em trezentos e oitenta e sete mil e seiscentos réis.»

Vocabulário:
aforar - arrendar
águas vertentes - águas que correm encosta abaixo; neste caso, a propriedade ia do vale até ao cume do monte, cume que era o limite do concelho de S. Vicente da Beira com o concelho do Fundão
alqueire - medida de capacidade, neste caso para sólidos, correspondente a 15,48 litros, em S. Vicente da Beira (a medida variava de concelho para concelho).
bode - macho caprino adulto
foro - renda; os moradores da Paradanta pagavam 51,5 alqueires meados de trigo e centeio; considerando que um foro correspondia a um oitavo do que a propriedade podia produzir, o prazo da Paradanta produziria cerca de 400 alqueires, o que correspondia a mais de 6.000 litros de semente.
louvado - testemunha
Nossa Senhora de Agosto - dia 15 de agosto, em que se comemora a Assunção de Nossa Senhora; neste dia é que se pagavam quase todas as rendas, nesta região
prazo - propriedade arrendada
tabelião - notário

José Teodoro Prata

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

As pedras do convento

Sempre me disseram que as pedras do antigo convento são as do muro da Quinta da Casa Cunha, ao longo da Rua de São Sebastião.
Agora encontrei a ata da sessão da Junta da Paróquia em que as pedras foram vendidas. Foi no dia 24 de Agosto de 1845, sendo presidente o Reverendo Vigário Manuel Marques Leite e vogais José Henriques Sénior e João da Conceição, este também escrivão do regedor, Francisco Rodrigues Lobo.
Antes de dar a notícia, tenho de informar que o convento foi extinto em 1835 e, na altura, já estava parcialmente arruinado, residindo nele apenas a Madre Abadessa. Dez anos depois, 1845, nem todo o convento estava na posse da Junta da Paróquia. Parte dele já fora comprado por um particular, o Pe. Joaquim Castanheira (a ata que o refere não indica qual a parte). Mas a Igreja de São Francisco mantinha-se pública e de pé, havendo até diligências no sentido de ser reconstruída nas partes a necessitarem de obras. Assim, a pedra vendida era a que resultava da demolição da parte do convento administrado pela Junta da Paróquia, com exclusão da igreja.


Nesse 24 de Agosto, às 11 horas da manhã, o presidente da Junta ordenou ao vogal João da Conceição que dissesse ao pregoeiro da Câmara, Manuel Francisco, para pôr a lanço, a quem mais desse, «…a pedra das paredes demolidas do extinto comvento desta Villa pertencente aesta Parochia, a Vinte reis cada carrada…».
O pregoeiro apregoou várias vezes e depois veio informá-lo que «…perante elle tinhaõ comparecido o Ill.mo Joaõ Robalo da Cunha, Joaõ Pereira de Carvalho, e Joaõ da Silva Lobo por si e como arrematante em nome da Ex.ma D. Anna de Brito Coelho de Faria todos desta Vila eque todos unanimamente tinhaõ coberto olanço da Junta com hum real, eque nada houvera quem lhe cobrisse este Lanço de Vinte ehum reis por cada carrada…».
Informado disto e não havendo quem desse mais, o presidente mandou entregar o ramo aos quatro arrematantes, pegando nele João da Silva Lobo a rogo dos outros. Foram depois todos ter com o presidente à sacristia da Igreja Matriz, sede da Junta da Paróquia, onde ele lhes disse que levassem a pedra que precisassem, arrematando-se a restante, novamente, caso não a gastassem toda.

sábado, 21 de março de 2009

Coutos e mais enxidros


Cerejeiras em flor, no Ribeiro de D. Bento. Ao fundo, os Enxidros (Cabeço do Pisco).

Este blogue iniciou-se com a apresentação dos Enxidros, nome próprio por que era designada a zona baldia da encosta da Gardunha acima de S. Vicente da Beira.
Por esses dias, encontrei, na Internet, nova referência aos nossos enxidros, mas desta vez a palavra era usada como nome comum.
Foi no sítio Ius Lusitaniae. Fontes Históricas do Direito Português, da Faculdade das Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
O endereço é: www.iuslusitaniae.fcsh.unl.pt
O sítio publica legislação antiga e o Alvará de 27 de Janeiro de 1680 refere-se à decisão judicial relativa a um conflito entre a Câmara Municipal de S. Vicente da Beira e o Convento das Religiosas Franciscanas, a propósito do uso das pastagens concelhias por parte do rebanho do convento. O poder real decidiu a favor das Religiosas do Convento Franciscano.
Devem ler a contenda judicial, mas fica aqui um resumo:
O Convento mandava apascentar o seu rebanho nos enxidros e nos coutos baldios, mas os oficiais da Câmara expulsavam de lá as ovelhas e multavam as religiosas.
Estas queixaram-se ao poder central, alegando que a vila não tinha açougue onde se abastecessem de carne e por isso precisavam de um rebanho, de pelo menos 100 cabeças, para sua alimentação.
O Príncipe Regente, futuro rei D. Pedro II, mandou ouvir a Câmara e depois decidiu que o rebanho podia pastar livremente nos coutos e nos enxidros, com a condição de, no tempo da castanha (Outono), pastar só nos coutos e, no tempo em que as vinhas estivessem com a novidade (Primavera e Verão), ir só para os enxidros.

Desconheço o significado de enxidros, mas a ideia que me surge, sempre que leio esta palavra, é de uma encosta de onde escorre a água que enche, provoca enchentes, enxurradas. Um dos ribeiros afluentes da margem direita da Ocreza, que desce da serra na zona da Oles, chamava-se ribeiro do Enxidro, no passado.
O termo couto designa, neste caso, uma terra que se fechava por algum tempo à livre circulação dos gados. Os coutos das Vinhas, que brevemente apresentarei, à semelhança do que fiz com os Enxidros, eram terras baldias, situadas desde a Fábrica e do casal do Pisco para sul, até abaixo do Valouro. No meio destes coutos, existiam muitas vinhas, cujos donos apenas detinham a sua posse entre S. Tiago e S. Miguel (de Maio a Setembro). No meio dos coutos, existia um poço concelhio, em vinha particular, para uso livre de pastores e vinhateiros.


O rebanho do Ângelo, o rendeiro do Casal do Aires, a pastar junto à Fábrica, onde começavam os Coutos das Vinhas. Primavera de 2007.