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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Escola Primária


A fotografia é do Pedro Gama Inácio, mas desconhece-se quem foi que fotografou todas estas crianças da Escola Primária. O pelourinho serve de palco e ao fundo vê-se o edifício da antiga Câmara, adaptado a Escola Primária. Frequentei-a entre Setembro de 1964 e Outubro/Novembro de 1967, guardo uma vaga ideia desta fotografia de grupo, mas não consigo identificar ninguém.
(Clicar na imagem para ver melhor)


Subíamos o balcão e estávamos na Escola. Éramos mais de cem, para 4 professores. Mas, coisa esquisita a Escola, tão diferente do nosso mundo de caminhos, leirões, cabras, mato, água… Coisas que não eram nossas e nem sabíamos imaginar: escrita, livros, SALAZAR, caminhos-de-ferro, cidades…
E a pedra, onde se escrevia com ponteiros? Apagávamos com um pano húmido, de cuspo às vezes, e servia de novo. E com aparos de arame rachado, molhados na tinta dos tinteiros, para a escrita no papel. Trabalho para mestres, que não eu.
E levávamos porrada. Por cada erro no ditado, uma reguada. Um problema mal, duas ou três. Em casa não queriam saber. A professora tinha sempre razão. Uma dupla temível!
O almoço era na cantina “Senhora da Orada”, obra da Igreja, situada nas traseiras da Matriz, onde hoje existe um mini-mercado. Além da comida, davam-nos uma colherada de óleo de fígado de bacalhau, no final do Outono. Um horror, atalhado a gomos de tangerina!
Mas era uma refeição certa, que nos dispensava correrias até casa, para engolir um caldo à pressa. Porque a hora do almoço era sagrada para as brincadeiras. Cada uma tinha a sua época, todas no terreiro da Praça: o pião, a mosca, o espeta, a apanhada e outras mais.
Quando o tempo ficava quente, os outros contavam as histórias dos mergulhos no Pelome. Um dia, à saída, eu e o meu primo João (João Prata Candeias) deixámo-nos tentar. Ainda passámos a Estrada Nova, mas nunca mais chegávamos e as cabras na loja, à espera…
No início da minha 4.ª classe, por volta dos santorinhos de 1967, mandaram-nos mudar para a nova escola. Já conhecia a Estrada Nova, do tempo das cerejas. Nas bordas da estrada, a intervalar com as tílias, havia cerejeiras bravas e a elas trepávamos, sumindo-nos na ramagem, com medo da Guarda. No chão, caíam cerejas para os menos afoitos.
Foi uma manhã de mudanças, um carreirinho de formigas entre a velha e a nova escola. A mim e ao meu primo João coube-nos guardar a porta da escola nova, do lado dos rapazes, a poente.
Mesas novas, direitas, a cheirar a resina, mas o campo era inclinado e a bola rebolava melhor para baixo do que para cima. A verdade desportiva, como hoje se diria, ficou comprometida. Que saudades do terreiro da Praça!