domingo, 19 de maio de 2013

A fonte da Senhora da Orada 8

Estes relatos de milagres relacionados com a água da Senhora da Orada, recolhidos por Albano de Matos e aqui divulgados pelo José Teodoro, aconteceram num tempo em que a medicina não tinha atingido o estado de desenvolvimento que hoje conhecemos e, principalmente, não estava acessível à maioria da população. Não admira, por isso, que as pessoas se agarrassem tanto à religião e encontrassem explicações sobrenaturais para muitos acontecimentos das suas vidas. Embora de forma intuitiva, acho que já se pode falar da crença defendida atualmente por muita gente, de que a fé, aliada à ciência, faz milagres. E não é apenas no campo da saúde…
Para além das situações descritas, quase todos conhecemos histórias parecidas que reforçam a ideia da importância da fé e confirmam os poderes milagrosos da água da Senhora da Orada. Aqui fica a minha:

Durante muitos anos os meus avós maternos trouxeram o Mato Branco à renda. No tempo frio viviam na Vila, mas na Primavera, numa espécie de transumância humana, rumavam à fazenda de onde só regressavam no final do Verão. Acho que era uma prática comum nessa altura.
Era durante esse tempo quente que a minha avó aproveitava para cumprir todas as promessas que fazia à Senhora da Orada durante o ano. E não deviam faltar-lhe motivos para promessas porque os filhos eram muitos, as dificuldades enormes e a fé na Senhora ainda maior.
Aproveitava a hora em que todos os outros dormiam a sesta e lá ia ela, descalça (fazia parte da promessa, mas se calhar porque também poupava as alpargatas), caminho acima até ao santuário onde rezava pela intenção devida. Depois dirigia-se à fonte e bebia a água que, acreditava, curava todas as moléstias do corpo. E era assim durante nove dias seguidos.
Normalmente as promessas eram por problemas com algum dos filhos, pela saúde do seu Guilhermino, pelo sucesso das colheitas ou malinas nos animais. Mas houve um ano em que foi por intenção da minha própria avó: já há algum tempo que andava a perder o ouvido e estava a ficar completamente mouca.
Durante oito dias lá foi ela, pela torreira do Sol, até à capela onde rezava as orações devidas. Depois, na fonte, lavava a cara com muita fé nos poderes milagrosos daquela água. Ao nono dia, último da novena, ao chegar ao fundo do terreiro, deu-lhe uma coisa e caiu redonda no chão. Não sabe quanto tempo esteve desmaiada, mas quando veio a si ouvia lindamente todos os sons que havia à volta.
Foi à capela agradecer a graça recebida e voltou para o Mato Branco em pranto e a gritar: Milagre! Milagre! A Nossa Senhora curou-me!

M. L. Ferreira

Nota: Não sei se já era nascida quando estes factos aconteceram, mas, em criança, lembro-me de ouvir a minha avó contar algumas vezes esta história. Agora foi-me recordada por uma tia que a contou mais ou menos pelas palavras com que a escrevi.

sábado, 18 de maio de 2013

A fonte da Senhora da Orada 7

Nos anos trinta deste século, Joaquina Mendes, do Casal da Serra, andava com muitas dores no peito, não podia trabalhar e mal podia respirar.
Foi à Senhora da Orada buscar "água santa", para beber e para se molhar, para se curar , prometendo à Senhora uma novena.
Começou a novena, bebeu água da bica e banhou-se até ao quarto dia. No dia seguinte, sentiu-se mal das pernas, não podendo andar atá à capela da Senhora. Falou com o Vigário de São Vicente da Beira e este mudou-lhe a promessa, o cumprimento do resto da novena, da porta da capela da Senhora da Orada para a porta da capela do Casal da Serra, continuando a beber e a banhar-se da água que trouxera da fonte da Senhora, numa lata. Dias depois da novena e dos banhos, sentiu-se curada o que diz ser milagre.


Informador: Joaquina Mendes (Casal da Serra)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999

José Teodoro Prata

sexta-feira, 17 de maio de 2013

A fonte da Senhora da Orada 6

Joaquina Mendes, do Casal da Serra, teve, nos anos trinta, um eczema, numa mão, sempre em ferida, por alguns meses. Os médicos não a curaram. Pegou-se com a Senhora da Orada. Foi à porta da capela, ajoelhou-se e pediu à Senhora que lhe curasse a mão. Fez uma novena de graças à Senhora. Durante nove dias, à porta da capela, rezou nove Glórias, nove Padre-nossos, nove Ave-marias e nove Santa-Marias, lavando a mão nas "águas santas" da fonte, indo a pé do Casal da Serra.
Ao fim de nove dias o eczema estava sarado. Esperou mais meia-dúzia de dias e, como o eczema não "rebentasse", fez outra novena, de agradecimento à Senhora, indo, a pé, rezar à porta da capela, de joelhos. Em casa tem sempre água da fonte da Senhora da Orada para qualquer necessidade que surja.


Informador: Joaquina Mendes (Casal da Serra)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999

José Teodoro Prata

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A fonte da Senhora da Orada 5

Uma mulher do campo, chamada Joana, estava despedida dos médicos, por causa de uma grave doença, corriam os anos trinta deste século [XX].
O seu homem, que era pastor, ouviu falar dos milagres da Senhora da Orada e disse-lhe:
- Ó mulher, tu não tens fé na Senhora da Orada?
- Tenho. Mas, se calhar, ela não gosta de mim!
- Vamos lá, que ela é nossa Mãe e tem poderes.
A senhora Joana foi com o homem, acompanhados por outra mulher, até à capela, para pedirem à Senhora uma cura. Depois de rezarem e da mulher tomar banhos na fonte, queriam ir embora, porque o homem tinha que guardar o gado. A mulher do ermitão disse-lhes que era melhor a senhora Joana ficar para uma novena. Ficou na casa do ermitão e o homem voltou a trazer-lhe comida.
A senhora Joana fez as rezas e tomou banhos na fonte santa. A princípio, piorou, mas, depois, começou a melhorar e foi-se embora para a terra. Bebeu água da fonte muitas vezes por dia.
No ano seguinte, no dia da festa, a senhora Joana veio, numa carroça, com mais pessoas, a agradecer à Senhora da Orada o milagre que lhe fez, pois estava despedida dos médicos.

Informador: Etelvina Teodoro (Casal da Fraga)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999

José Teodoro Prata

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A fonte da Senhora da Orada 4

Nos anos trinta deste século, um homem de nome António, do Juncal do Campo, encontrou-se surdo e pediu à Nossa Senhora da Orada para o curar.
Prometeu ir, a pé, do Juncal até à Senhora da Orada, durante nove domingos seguidos, uma novena aos domingos; ir de São Vicente e voltar, sem falar, somente, rezar; fazer o caminho, de joelhos, pelas pedras e pelo mato, desde a capela até à cruz, onde apareceu a Senhora, e da cruz até à fonte, onde acabava a reza e a penitência e se banhava.
No último domingo da novena, chegou à fonte e ficou de joelhos a rezar. Pôs a cabeça debaixo da bica, deixou correr sobre os ouvidos e começou a ouvir.
Todos os anos, até morrer, foi em romaria, no dia da festa, agradecer à Senhora da Orada que milagrosamente o curou.


Informador: Etelvina Teodoro (Casal da Fraga)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999

José Teodoro Prata

terça-feira, 14 de maio de 2013

A água da Senhora da Orada 3

Nos anos vinte, uma rapariga do campo encontrava-se paralítica há sete anos. Todos os anos ia com a família à Senhora da Orada pedir a cura. De lá, levavam água da fonte para banhar as pernas. Já desanimados, num ano passava-se o dia da festa e não foram à Senhora. Na hora do almoço, uma filha disse à mãe:
- Comemos primeiro ou vou levar a comida à doente?
- Comemos primeiro e depois vamos fazer-lhe companhia, enquanto ela come! - respondeu a mãe.
Quando comiam, o homem disse para a mulher:
- Fizemos mal não irmos à Senhora da Orada! É que tenho cá uma fé!
Quando o pai acabou de falar, a rapariga apareceu, na cozinha, curada. O pai gritou:
- Milagre da Senhora da Orada!

Informador: Etelvina Teodoro (Casal da Fraga)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999

José Teodoro Prata

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A água da Senhora da Orada 2

Nos inícios do século (XX), um homem do Casal da Serra, trabalhador da Câmara de Castelo Branco, sentiu uma grande dor nos olhos. Foi para casa e quando ali chegou já via mal. Foi ao médico de São Vicente da Beira, que o mandou para o Fundão, a outro médico. A caminho do Fundão, passou pela Senhora da Orada, onde rezou, à porta da capela, para que a Senhora o curasse. Sempre acompanhado por um familiar, foi à fonte da Senhora da Orada, pôs a cabeça debaixo da bica, com a água a cair sobre a vista, durante um pedaço de tempo. A dor foi abrandando. Ao levantar a cabeça, limpou os olhos e recomeçou a ver e a dor desapareceu. Já não foi ao Fundão e contam o facto como um milagre da Nossa Senhora da Orada.

Informador: José de Matos (Casal da Serra)
Estudo: Águas e Curas Milagrosas na Serra da Gardunha - A Fonte da Senhora da Orada
Autor: Albano Mendes de Matos (natural do Casal da Serra)
Publicação: Medicina na Beira Interior da Pré-História ao Século XX - Cadernos de Cultura, N.º 13, Novembro de 1999

José Teodoro Prata