O
que mais me agrada, nos passeios pedestres que temos organizado, aquando das
feiras de gastronomia e artesanato, é o convívio entre os participantes. Por
exemplo, este ano, o António Craveiro, chegado há poucas horas de França, ainda
mal dormido, recordava partes da sua vida a cada passo que dávamos. Já palmilhara
todo aquele espaço e lembrava histórias que ele ou outros tinham vivido em
cada sítio, por onde passávamos.
Também
se contaram histórias. O EH contou esta, das muitas que sabe. Não resisto a
partilhá-la convosco, temperada numa prosa um pouco mais longa.
Aparecem luzes, à
noite, na zona dos Aldeões, na Cruz da Oles e na encosta para o Casal da Serra, desde há
muitos anos. Já aqui demos notícia dos aparecimentos mais recentes. Na altura,
falava-se em óvnis, faróis de carros de caçadores noturnos, agricultores a
cuidar dos seus cultivos e até seres a sair de uma outra dimensão. A Gardunha dá
para todos os gostos.
Há uma data de anos, antes
de termos eletricidade, houve uma época em que apareciam muitas luzes à noite,
nesta encosta da serra. Talvez tenha sido cerca de 1968, pois lembro-me de, por
essa altura, as ficarmos a observar dos balcões das casas da Tapada, às vezes
horas a fio, a ver quando é que desapareciam. E, enquanto o sono não nos
vencia, ouvíamos histórias de almas penadas.
Depois da ceia, iam
grupos de pessoas da vila pela estrada da Oles, na tentativa de descortinar o
mistério. Um dia, a Menina Belinha, a Menina Russinha e a Maria Barqueira também
quiseram tirar a coisa a limpo e meteram-se ao caminho, de braço dado, para melhor
se ampararem no breu da noite.
Já iam chegando à Cruz
da Oles e nada, só cansaço nas pernas, a arfar de calor. Desacorçoadas, a pensar
em dar meia volta, avistaram finalmente uma luz em movimento, em direção a
elas, a sair do pinhal. Agarraram-se mais umas às outras e a Maria Barqueira
gritou:
“SE ÉS DEUS, APARECE!
SE ÉS O DEMÓNIO, ARREBENTA!!!
Apareceu. Era um
resineiro, de bicicleta, que regressava a casa, no fim de um longo dia de trabalho.
José Teodoro Prata