sábado, 1 de agosto de 2020

Civilidade

Na semana passada dei por um monte de vidros no cruzamento do Cabeço do Pisco. Hoje parei, fotografei e trouxe-os para o contentor.
Pensei que tinham sido ali colocados recentemente, mas não, por baixo deles nasceu erva que cresceu acamada e agora está seca, à espera de uma vaga de calor de 45º para despoletar um incêndio.
O meu primeiro pensamento foi que tivessem sido ali deixados com esse objetivo, mas agora penso que foi mesmo ignorância e falta de civilidade, que significa desrespeito pelas regras de convívio entre os membros da comunidade.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Cresta, 2020

Tenho três colmeias. No ano passado, tinha duas e tirei 8 quadros de mel de uma delas, pois a outra nada produziu. No Outono, tirei mais três quadros.
Este ano prometia, pois o período de floração foi muito longo. Mas com dois perigos: choveu muito e nesses dias as abelhas comem mel, mas não o produzem; a abundância de pólen despoletou nas abelhas o desejo da multiplicação e enxamearam.
Desconhecia esta e por isso nada fiz quando encontrei a alça carregada de pólen e muitas realeiras (ovos/larvas de futuras rainhas). Era precisamente a colmeia em que depositava mais esperanças, pois era a mais forte. Passados uns tempos, comecei a ver poucas abelhas à entrada do ninho e fui ver: metade das obreiras tinham partido com uma das rainhas. Deveria ter feito um desdobramento, que me garantia uma nova colmeia.
Não achei piada ao que me fizeram, fiquei até magoado com elas (estavam tão bem comigo!), mas é precisamente aí que está o maravilhoso da coisa: ai de nós se conseguíssemos controlar completamente a Natureza!
Este ano colhi 11 quadros de mel e a colheita de outono promete, pois deixei muitos quadros em meio.  Não desfaço os favos de novembro, ficam para ir comendo no inverno (mastiga-se um pedacinho de favo, engole-se o mel e deita-se fora a cera).
Dizem que uma colmeia deve dar entre 10 a 16 litros de mel, mas nos apiários de transumância e de apicultores especializados chegam a dar 60 litros. Transumância é a movimentação periódica das abelhas para zonas onde a floração é mais forte, nas diferentes épocas do ano.
Estou ainda muito longe dos 10 litros mínimos, mas é uma festa!

Nota: uso sempre o termo colmeia para designar as caixas e as abelhas. É como nós dizíamos no passado, mas é incorreto agora: colmeias são as caixas onde estão as abelhas e ao conjunto das caixas e respetivas abelhas chama-se colmeia enxameada.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Os Sanvicentinos na Grande Guerra


Domingos Mendes


Domingos Mendes nasceu no Mourelo, a 8 de julho de 1892. Era filho de Gonçalo Mendes, sapateiro, e Joaquina Maria.
Assentou praça no dia 12 de julho de 1912 e foi incorporado no Grupo de Baterias de Artilharia de Montanha, em 14 de julho de 1913. Sabia ler e escrever e tinha a profissão de jornaleiro.
Pronto da recruta, em 30 de maio de 1913, passou ao quadro permanente, em virtude de sorteio. Embarcou para Angola, no dia 11 de setembro de 1914, integrando a 1.ª Expedição enviada para aquela província ultramarina, a fim de reforçar o contingente militar que já se encontrava no sul daquele território, ameaçado pelas tentativas de ocupação alemã.
De acordo com a sua folha de matrícula, participou no combate de Naulila, em 18 de dezembro de 1914, e fez parte do Destacamento do Humbe, onde entrou em 7 de janeiro de 1915. Pertencia ao destacamento que reconquistou e ocupou o Cuamato, de 12 a 27 de agosto, tendo tomado parte também na ação do Ancongo, em 13 de agosto de 1915, e no combate da Inhoca, em 15 do mesmo mês, dia em que o destacamento entrou no Forte do Cuamato.
Com o mesmo destacamento, avançou sobre Cunhamano, em 20 de agosto, a fim de restabelecerem as comunicações que haviam sido cortadas pelo inimigo. No dia 24, participou também no combate da “Chana da Mula”.
Foi licenciado em março de 1916, mas novamente incorporado passado pouco tempo, para integrar a 3.ª Expedição para a província de Moçambique. Embarcou em 27 de julho de 1916 e foi destacado para Namoto, uma das localidades do norte de Moçambique que, uns meses antes, tinham sido atacadas pelos alemães. Não se conhece mais nada sobre Domingos Mendes durante este período, mas sobreviveu aos muitos ataques e dificuldades por que passaram os militares portugueses envolvidos naquela expedição. Regressou a Lisboa no dia 23 de dezembro de 1917.
Passou ao Batalhão n.º 1 da Guarda-Fiscal, como soldado de Infantaria, em 24 de Dezembro de 1917, e ao Regimento de Artilharia de Montanha, em 24 de dezembro de 1921.
Licenciado em 25 de dezembro, foi domiciliar-se em Lisboa, na rua Vale de Santo António, e alistou-se na Polícia Cívica de Lisboa, em 1 de agosto de 1925. Abatido ao efetivo desde 1933, deixou de pertencer à Polícia e foi aposentado em 26 de Novembro de 1936.
Condecorações:
·      Medalha das Operações Militares na Província do Sul de Angola
·      Medalha das Operações Militares em Moçambique
·      Medalha da Vitória.
Família:
Domingos Mendes casou com Maria Gama, em Lisboa, no dia 6 de dezembro de 1920. Terá vivido naquela cidade e foi lá que faleceu a esposa, em 1959.
Não foi possível saber se deixou descendência, nem a data e local exatos do seu falecimento, mas terá sido também em Lisboa, já depois da morte da esposa.

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

terça-feira, 21 de julho de 2020

Vicentinos ilustres

D. Frei Fernando Rodrigues de Sequeira

Brasão da Ordem de Avis

VIDA E OBRA
- Nasceu em São Vicente da Beira, no ano de 1338.
- Era filho de Rodrigo Eanes Chim, tabelião, natural de São Vicente, e Maria Afonso, de Castelo Branco.
- Foi cavaleiro da Ordem de São Bento de Avis,.
- Tornou-se aio do infante D. João, futuro Mestre de Avis e depois rei D. João I. Lutou a seu lado no cerco de Lisboa e na Batalha de Aljubarrota (1385).
- Desempenhou o cargo de Mestre da Ordem de Avis (1386-1433; após D. João I; por eleição dos pares).
- Foi o Defensor do Reino, aquando da ida de D. João I a conquistar Ceuta (1415).
- Construiu a Igreja de Nossa Senhora das Neves, em Borba (1401).
- Faleceu em Avis, no ano de 1433.

Arco em ogiva, na Igreja Matriz de São Vicente da Beira.
Possivelmente, data da época em que Fernando Rodrigues de Sequeira aqui viveu.


Pintura representando o cerco de Lisboa, pelos Castelhanos.

Representação da Batalha de Aljubarrota.

Igreja Matriz de Borba, mandada edificar pelo Mestre D. Fernando Rodrigues de Sequeira.

Epitáfio do seu túmulo situado no batistério da Igreja Conventual em Avis:

«Aqui jaz em este moimento o Senhor, e Religioso D. Fernando Rodrigues de Sequeira, Mestre da Cavallaria da Ordem de Aviz, que criou o muy nobre Senhor Rey Dom Joaõ, a que o ditto Mestre succedeo depois que ElRey foy Rey, a prazimento de Deos, e seu e por eleiçom. O qual criou de idade de quatroze anos, e foy com el em seo serviço, logo primeiramente no cerco de Lisboa, onde foi cercado de ElRey de Castella, que matou o cavallo. E sendo el Mestre, e Regedor deste Reyno, o teve o ditto Rey de Castella cercado por mar, e por terra nove meses: e depois que o ditto Senhor Rey foi a terra de Mouros, e filhou a Cidade de Ceuta, leixou o ditto Mestre em o Reyno com sua Mulher a Rainha, com o Infante D. Joaõ, com o Infante D. Fernando, com a Infanta D. Isabel, seus filhos, por fazer o que delles mandassem, e por defensom do Reyno. O qual a Santa Trindade em que elle cre firmemente, e na Virgindade de Santa Maria, queiraõ perdoar todos seus pecados. Finou-se deste Mundo, era do Nascimento de Nosso Senhor Jesu Christo Filho de Deos, em que elle firmemente cre, e em sua morte, paixom, e Resurreiçaõ, que Elle padeceo por nos salvar, de 1433, postrimeiro dia de Agosto. Morreo depois de El Rey quatroze dias.»
(Agiologio Lusitano, Tomo IV, pp. 564 e 565)

José Teodoro Prata

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Os Sanvicentinos na Grande Guerra


Domingos Lourenço


Domingos Lourenço nasceu na Partida, a 11 do mês de junho de 1895. Era filho de Manuel Lourenço, cultivador, e de Maria Ana, natural de Rochas de Cima.
Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando se alistou, no dia 29 de junho de 1915. Assentou praça, em 13 de maio de 1916, sendo integrado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, de Castelo Branco. 
Mobilizado para a guerra, embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917, integrado na 4.ª Companhia do Regimento de Infantaria 21, como soldado, com o n.º 612 e a chapa de identificação n.º 9776. Foi vacinado.
Do seu boletim individual consta apenas o seguinte:
a)    Baixa ao hospital, a 15 de setembro de 1917; alta em 18 do mesmo mês;
b)    Punido pelo Comandante do Batalhão, em 5 de novembro de 1917, com cinco dias de detenção, por ter faltado à instrução sem motivo justificado;
c)    Embarcou para Portugal, com o Regimento de Infantaria 21, no dia 25 de fevereiro de 1919, e desembarcou em Lisboa, no dia 28.
Passou à reserva ativa, no dia 11 de abril de 1928, e à reserva territorial, em 31 de dezembro de 1935.
Condecoração: Medalha de bronze comemorativa da participação de Portugal na Grande Guerra, com a inscrição França 1971-1918.


Família:
Domingos Lourenço casou em Aldeia de Joanes, passado pouco tempo de ter regressado de França. Desse casamento terão nascido dois filhos (Adelino e Mercês?), mas não foi possível confirmar esta informação.
Enviuvou poucos anos depois e, em fevereiro de 1935, mudou o domicílio para o Fundão, onde voltou a casar com Maria das Dores, também já viúva. Não terá tido filhos deste casamento, mas também não foi possível confirmar este dado.
Para além do trabalho no cultivo de uma quinta que tinham e onde moravam, o casal teria também um forno comunitário. O sobrinho José da Silva (José “Marau”) diz que, ainda criança, se lembra de ir com o pai, a pé, da Vila até ao Fundão e, no regresso, traziam de lá uma bolsa cheia de pão que o tio lhes arranjava. Voltavam durante a noite, às escondidas, não só porque tinham medo de ser assaltados e ficar sem comer por uns tempos, mas também porque naquela altura era proibido transportar assim tanto pão. Estava-se no princípio dos anos 40 e havia muita fome por causa do racionamento imposto durante a 2.ª Guerra Mundial.
Filomena, uma das sobrinhas que vive na Partida, conta que tem poucas memórias deste tio, mas se recorda de o ter visto numa altura em que foi com os pais à feira do Fundão e dormiram em casa dele. Lembra-se que era um homem muito bonito e de ouvir dizer à mãe que toda a gente, na família, gostava muito dele, talvez por ser o único rapaz entre os cinco irmãos. Falavam também das lágrimas que tinham chorado quando ele abalou para a guerra e depois do desgosto quando o viram, no regresso: «Contava a minha mãe que só trazia a pele e o osso, de tanta fome que por lá passou. Nem parecia ele. Toda a gente dizia que não escapava. Foi preciso mais que tempos para arribar e voltar a ter forças para fazer qualquer coisa.» (a sobrinha Filomena)
Domingos Lourenço terá passado os últimos tempos de vida em Lisboa, provavelmente em casa de algum dos filhos. Foi lá que faleceu, na freguesia da Pena, no dia 13 de Agosto de 1966. Tinha 71 anos.

(Pesquisa feita com a colaboração dos sobrinhos José da Silva, Aurélio da Silva e Maria Filomena)

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Poupas e perdizes

A passarada já começa a rarear, partiu para outras paragens há procura de melhor pasto. Ficam os frugívoros. Aliás, aproveito para deixar uma correção: após o incêndio de 2017, escrevi aqui que os esquilos não tinham desaparecido, a julgar pelas nozes e amêndoas comidas. Infelizmente conclui que elas são comidas pelos pássaros, quando a casca ainda está suficientemente mole para eles a romperem.
Durante semanas, às 6 da manhã, encontrava-me com uma poupa no Carvalhal Redondo. Há dias que a não vejo. Deve ter partido também. Era parecida com esta, mas mais castanha.

Há um mês, também no Carvalhal Redondo, fui surpreendido por uma perdiz a passear os seus oito bebés. Foi assim:
https://youtu.be/4L0buUttDHw

E esta?! Mostra-nos a importância dos comedouros e bebedouros para os animais selvagens, nos tempos de escassez.
https://youtu.be/9Jwh1rUHyHE 

José Teodoro Prata

sábado, 11 de julho de 2020

Vicentinos ilustres

António de Azevedo Pimentel Galache

«Por agora, resta-me saudar e louvar a memória de António de Azevedo Pimentel, bom português e vassalo fiel, capitão-mór da minha vila natal, muito provàvelmente comandante militar de avoengos meus, soldados nas primeiras refregas com tropas castelhanas na fronteira beiroa, a lutar pela restauração de Portugal.»
(Hipólito Raposo, “Um Beirão restaurador” em Oferenda, 1950.

VIDA E OBRA
- António Pimentel nasceu em São Vicente da Beira, no ano de 1567.
- Era filho do 2.º casamento de Fernão de Azevedo, Moço Fidalgo da Casa Real, com Maria de Brito, natural de São Vicente da Beira.
- Foi Moço Fidalgo e Senhor de São Felices dos Galegos (Espanha), um morgado transmitido por sua avó paterna Isabel Ferrão Galache, de Castelo Branco.
- Casou com D. Maria de Lemos Pereira de Almeida e, em segundas núpcias, com a sobrinha Joana da Costa, de São Vicente da Beira. Com ela teve Tomás Fernando de Azevedo Pimentel, nascido no ano de 1642, em São Vicente da Beira.
- Ocupou o cargo de capitão-mor de São Vicente da Beira e, em Dezembro de 1640, foi o primeiro a proclamar D. João IV como rei de Portugal, nesta vila e em Castelo Branco.
- Com a Restauração, perdeu o Morgado de São Felices dos Galegos, no valor de 20 mil cruzados. Em 1641, pediu a D. João IV que, em compensação, lhe doasse um morgado existente na Guarda, propriedade de um espanhol de Cidade Rodrigo.
- Ofereceu-se para servir na Guerra da Restauração, com dois sobrinhos e cunhados.
- Faleceu em São Vicente da Beira, no ano de 1643.

 Casa seiscentista, na Rua Manuel Simões.

Painel / bandeira da Misericórdia, datado de 1628.
(Este quadro e a casa anterior são da época em que António Pimentel viveu na nossa terra e aqui foi capitão-mor da ordenanças do concelho)

José Teodoro Prata