Domingos
Lourenço
Domingos Lourenço nasceu
na Partida, a 11 do mês de junho de 1895. Era filho de Manuel Lourenço,
cultivador, e de Maria Ana, natural de Rochas de Cima.
Era analfabeto e tinha a
profissão de jornaleiro, quando se alistou, no dia 29 de junho de 1915.
Assentou praça, em 13 de maio de 1916, sendo integrado no 2.º Batalhão do Regimento
de Infantaria 21, de Castelo Branco.
Mobilizado para a guerra,
embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917, integrado na 4.ª Companhia
do Regimento de Infantaria 21, como soldado, com o n.º 612 e a chapa de
identificação n.º 9776. Foi vacinado.
Do seu boletim individual
consta apenas o seguinte:
a) Baixa ao
hospital, a 15 de setembro de 1917; alta em 18 do mesmo mês;
b) Punido
pelo Comandante do Batalhão, em 5 de novembro de 1917, com cinco dias de
detenção, por ter faltado à instrução sem motivo justificado;
c) Embarcou
para Portugal, com o Regimento de Infantaria 21, no dia 25 de fevereiro de 1919,
e desembarcou em Lisboa, no dia 28.
Passou à reserva ativa, no
dia 11 de abril de 1928, e à reserva territorial, em 31 de dezembro de 1935.
Condecoração: Medalha de
bronze comemorativa da participação de Portugal na Grande Guerra, com a
inscrição França 1971-1918.
Família:
Domingos Lourenço casou em
Aldeia de Joanes, passado pouco tempo de ter regressado de França. Desse
casamento terão nascido dois filhos (Adelino e Mercês?), mas não foi possível
confirmar esta informação.
Enviuvou poucos anos
depois e, em fevereiro de 1935, mudou o domicílio para o Fundão, onde voltou a
casar com Maria das Dores, também já viúva. Não terá tido filhos deste
casamento, mas também não foi possível confirmar este dado.
Para além do trabalho no
cultivo de uma quinta que tinham e onde moravam, o casal teria também um forno
comunitário. O sobrinho José da Silva (José “Marau”) diz que, ainda criança, se
lembra de ir com o pai, a pé, da Vila até ao Fundão e, no regresso, traziam de
lá uma bolsa cheia de pão que o tio lhes arranjava. Voltavam durante a noite, às
escondidas, não só porque tinham medo de ser assaltados e ficar sem comer por
uns tempos, mas também porque naquela altura era proibido transportar assim
tanto pão. Estava-se no princípio dos anos 40 e havia muita fome por causa do
racionamento imposto durante a 2.ª Guerra Mundial.
Filomena, uma das
sobrinhas que vive na Partida, conta que tem poucas memórias deste tio, mas se
recorda de o ter visto numa altura em que foi com os pais à feira do Fundão e
dormiram em casa dele. Lembra-se que era um homem muito bonito e de ouvir dizer
à mãe que toda a gente, na família, gostava muito dele, talvez por ser o único
rapaz entre os cinco irmãos. Falavam também das lágrimas que tinham chorado
quando ele abalou para a guerra e depois do desgosto quando o viram, no
regresso: «Contava a minha mãe que só trazia a pele e o osso, de tanta fome que
por lá passou. Nem parecia ele. Toda a gente dizia que não escapava. Foi preciso
mais que tempos para arribar e voltar a ter forças para fazer qualquer coisa.»
(a sobrinha Filomena)
Domingos Lourenço terá
passado os últimos tempos de vida em Lisboa, provavelmente em casa de algum dos
filhos. Foi lá que faleceu, na freguesia da Pena, no dia 13 de Agosto de 1966.
Tinha 71 anos.
(Pesquisa feita com a
colaboração dos sobrinhos José da Silva, Aurélio da Silva e Maria Filomena)
Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"