Recebi duas mensagens, via e-mail, de Leonor Gama, uma estudiosa da família Gama nesta nossa região. A sua mensagem veio na sequência da minha publicação, neste blogue, sobre a guerrilha da Enxabarda (Invasões Francesas 7).
Porque sei que há pessoas interessadas no assunto, nomeadamente na Partida (sem falar no nosso Pedro Inácio Gama), pedi autorização e aqui deixo as informações que trocámos. A minha parte está em itálico.
Relembro que a mãe de Hipólito Raposo, Maria Adelaide Gama, era natural de Janeiro de Cima.
Sou descendente dos Gama de Maxial da
Ladeira e tenho estado a pesquisar sobre a família, tendo-me
deparado com a história das invasões francesas. Depois de pesquisar,
cheguei à conclusão que existem contradições na tradição oral que gostaria de
lhe expor e confrontar com os dados que tem.
Refere que a tradição oral indica Manuel
Joaquim Gama como o estratega do ataque aos franceses. Manuel Joaquim Gama
nasceu em 1801 teria 10 anos em 1811, não podendo ser o estratega que a
tradição oral refere. E, de facto, ele viveu em Bogas de Baixo, ao contrário
dos restantes Gama, mas a sua mulher, Rosália dos Santos, era de Bogas de Baixo
e a sua casa seria, provavelmente, de seus pais, a qual herdou,
beneficiando Manuel Joaquim Gama, enquanto seu marido. Manuel Joaquim Gama foi
o primeiro da família com esse nome, tendo havido outro, seu filho,
nascido em 1835.
Mas a tradição oral refere sempre,
segundo tenho lido, o nome Manuel e o apelido Gama. Essa é a única
constante em todos os relatos.
Todos os Gama do Maxial descendem de
Maria Martins da Gama, natural de Rochas de Cima, dos "da Gama" de
Almaceda, que casou com Manoel Gonçalves Branco que adotou o apelido Gama, de
sua mulher. O casal teve cinco filhos, Maria Teresa, Domingos, Ana, João e
Manuel, todos nascidos entre 1752 e 1773 (aproximadamente).
Assim sendo, a tradição confrontada com
os factos parece remeter-nos para Manuel Martins Gama, nascido cerca de
1773 e que teria sensivelmente 38 anos de idade na altura da
batalha.
Por alguma razão, a informação vai sendo
deturpada e um Manuel Joaquim Gama, excessivamente jovem na época, passa a ser
apontado no séc. XX como o "estratega".
Dizem na tradição oral que esse Manuel
Gama teria tido um filho que casou em Janeiro de Cima, o que nunca aconteceu,
pois todos os Gama com o nome João se casaram em Bogas de Baixo, embora um
deles se tenha casado com uma mulher natural de Janeiro de Cima, precisamente o
irmão de Manuel Gama. O pai de ambos, Manuel Martins Branco, nascido em 1732,
seria demasiado velho para ser o "estratega", para além de que o
apelido Gama que usava não era seu, como já referi, era de sua mulher.
Tenho andado a fazer o levantamento dos
registos paroquiais da freguesia de São Vicente da Beira, cerca de 1800, e
têm-me aparecido muitos Gamas da freguesia de Almaceda a casar na freguesia de
São Vicente. Por eles já concluíra que a informação do professor Carlos Gama e
que publiquei neste blogue de que todos os Gamas da região descendiam do Gama
que comandara a guerrilha, casado após as Invasões, estava errada, pois
encontrei Gamas de Almaceda anteriores à invasão.
Ainda estou em fase de pesquisa e à
medida que for obtendo informações posso enviar-lhe, se desejar. De facto, os
Gama do Maxial parecem descender todos de Maria Martins da Gama, nascida
em Rochas de cima em 1733 e casada com Manoel Gonçalves Branco, natural do
Maxial, nascido em 1732; este último acabaria por ser conhecido por Manoel
Gama. Seriam eles os pais do Manoel Gama, que penso ter sido o estratega do
Maxial.
Há uma tradição que fala em dois irmãos
e de que um teria roubado as moedas de ouro ao outro. Não encontrei nenhuma
evidência, tão pouco, de terem existido moedas de ouro, nem de diferenças
económicas entre os Gama do Maxial. Creio que a estória foi crescendo com o
tempo. Eram todos proprietários, lavradores, o que indica que seriam donos das
casas onde viviam e dos campos que exploravam, sem grandes riquezas.
Para completar o quadro, há também
os Gama de Janeiro de Cima, que descendem de um sobrinho de Maria, Domingos
Martins Gama, que casou em Janeiro de Cima.
Todos os Gama da zona têm o mesmo
tronco, que começa em Almaceda.
A ascendência de Almaceda também me
intriga, porque creio ser resultante do mesmo tipo de situação da do
Maxial, ou seja, um natural de Almaceda casou com uma Gama que veio de
fora e criam geração. Há uma Catherina da Gama, nascida cerca de 1623, que
penso estar na origem de toda a descendência Gama daquela zona. Casou com
António Freire. Penso que os Gama virão ainda de outro local. Se souber da
existência de "Gamas" em regiões próximas, agradeço a sua
ajuda. Parece que na zona de Amieira do Tejo, Gavião e Vale da Gama (este nome
também me intriga...) há alguns. Será que existem outros mais próximo?
José Teodoro Prata