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quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Naquele tempo...

Daquele tempo lembramo-nos nós, os mais velhos. Foi o tempo da nossa infância. Depois tudo mudou, tanto que até as crianças acabaram nas terras abaixo referidas.

O texto que se segue é um trecho de um artigo publicado no jornal Gazeta do Interior da semana passada (13 de outubro). A sua autora chama-se Cesaltina Gilo, professora aposentada com ligações familiares a Monsanto, que ainda conheci na Escola Secundária Nuno Álvares. Antes de se licenciar em História, foi professora do Ensino Primário e esta história autobiográfica conta a sua experiência na primeira colocação que teve depois de concluir o Magistério Primário, precisamente nas Rochas de Cima.


José Teodoro Prata

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Os Sanvicentinos na Grande Guerra


Domingos Lourenço


Domingos Lourenço nasceu na Partida, a 11 do mês de junho de 1895. Era filho de Manuel Lourenço, cultivador, e de Maria Ana, natural de Rochas de Cima.
Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando se alistou, no dia 29 de junho de 1915. Assentou praça, em 13 de maio de 1916, sendo integrado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, de Castelo Branco. 
Mobilizado para a guerra, embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917, integrado na 4.ª Companhia do Regimento de Infantaria 21, como soldado, com o n.º 612 e a chapa de identificação n.º 9776. Foi vacinado.
Do seu boletim individual consta apenas o seguinte:
a)    Baixa ao hospital, a 15 de setembro de 1917; alta em 18 do mesmo mês;
b)    Punido pelo Comandante do Batalhão, em 5 de novembro de 1917, com cinco dias de detenção, por ter faltado à instrução sem motivo justificado;
c)    Embarcou para Portugal, com o Regimento de Infantaria 21, no dia 25 de fevereiro de 1919, e desembarcou em Lisboa, no dia 28.
Passou à reserva ativa, no dia 11 de abril de 1928, e à reserva territorial, em 31 de dezembro de 1935.
Condecoração: Medalha de bronze comemorativa da participação de Portugal na Grande Guerra, com a inscrição França 1971-1918.


Família:
Domingos Lourenço casou em Aldeia de Joanes, passado pouco tempo de ter regressado de França. Desse casamento terão nascido dois filhos (Adelino e Mercês?), mas não foi possível confirmar esta informação.
Enviuvou poucos anos depois e, em fevereiro de 1935, mudou o domicílio para o Fundão, onde voltou a casar com Maria das Dores, também já viúva. Não terá tido filhos deste casamento, mas também não foi possível confirmar este dado.
Para além do trabalho no cultivo de uma quinta que tinham e onde moravam, o casal teria também um forno comunitário. O sobrinho José da Silva (José “Marau”) diz que, ainda criança, se lembra de ir com o pai, a pé, da Vila até ao Fundão e, no regresso, traziam de lá uma bolsa cheia de pão que o tio lhes arranjava. Voltavam durante a noite, às escondidas, não só porque tinham medo de ser assaltados e ficar sem comer por uns tempos, mas também porque naquela altura era proibido transportar assim tanto pão. Estava-se no princípio dos anos 40 e havia muita fome por causa do racionamento imposto durante a 2.ª Guerra Mundial.
Filomena, uma das sobrinhas que vive na Partida, conta que tem poucas memórias deste tio, mas se recorda de o ter visto numa altura em que foi com os pais à feira do Fundão e dormiram em casa dele. Lembra-se que era um homem muito bonito e de ouvir dizer à mãe que toda a gente, na família, gostava muito dele, talvez por ser o único rapaz entre os cinco irmãos. Falavam também das lágrimas que tinham chorado quando ele abalou para a guerra e depois do desgosto quando o viram, no regresso: «Contava a minha mãe que só trazia a pele e o osso, de tanta fome que por lá passou. Nem parecia ele. Toda a gente dizia que não escapava. Foi preciso mais que tempos para arribar e voltar a ter forças para fazer qualquer coisa.» (a sobrinha Filomena)
Domingos Lourenço terá passado os últimos tempos de vida em Lisboa, provavelmente em casa de algum dos filhos. Foi lá que faleceu, na freguesia da Pena, no dia 13 de Agosto de 1966. Tinha 71 anos.

(Pesquisa feita com a colaboração dos sobrinhos José da Silva, Aurélio da Silva e Maria Filomena)

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

terça-feira, 26 de abril de 2016

Os Gama

Recebi duas mensagens, via e-mail, de Leonor Gama, uma estudiosa da família Gama nesta nossa região. A sua mensagem veio na sequência da minha publicação, neste blogue, sobre a guerrilha da Enxabarda (Invasões Francesas 7).
Porque sei que há pessoas interessadas no assunto, nomeadamente na Partida (sem falar no nosso Pedro Inácio Gama), pedi autorização e aqui deixo as informações que trocámos. A minha parte está em itálico.
Relembro que a mãe de Hipólito Raposo, Maria Adelaide Gama, era natural de Janeiro de Cima.

Sou descendente dos Gama de Maxial da Ladeira e tenho estado a pesquisar sobre a família, tendo-me deparado com a história das invasões francesas. Depois de pesquisar, cheguei à conclusão que existem contradições na tradição oral que gostaria de lhe expor e confrontar com os dados que tem.

Refere que a tradição oral indica Manuel Joaquim Gama como o estratega do ataque aos franceses. Manuel Joaquim Gama nasceu em 1801 teria 10 anos em 1811, não podendo ser o estratega que a tradição oral refere. E, de facto, ele viveu em Bogas de Baixo, ao contrário dos restantes Gama, mas a sua mulher, Rosália dos Santos, era de Bogas de Baixo e a sua casa seria, provavelmente, de seus pais, a qual herdou, beneficiando Manuel Joaquim Gama, enquanto seu marido. Manuel Joaquim Gama foi o primeiro da família com esse nome, tendo havido outro, seu filho, nascido em 1835.

Mas a tradição oral refere sempre, segundo tenho lido, o nome Manuel e o apelido Gama. Essa é a única constante em todos os relatos.

Todos os Gama do Maxial descendem de Maria Martins da Gama, natural de Rochas de Cima, dos "da Gama" de Almaceda, que casou com Manoel Gonçalves Branco que adotou o apelido Gama, de sua mulher. O casal teve cinco filhos, Maria Teresa, Domingos, Ana, João e Manuel, todos nascidos entre 1752 e 1773 (aproximadamente).

Assim sendo, a tradição confrontada com os factos parece remeter-nos para Manuel Martins Gama, nascido cerca de 1773 e que teria sensivelmente 38 anos de idade na altura da batalha.  

Por alguma razão, a informação vai sendo deturpada e um Manuel Joaquim Gama, excessivamente jovem na época, passa a ser apontado no séc. XX como o "estratega".

Dizem na tradição oral que esse Manuel Gama teria tido um filho que casou em Janeiro de Cima, o que nunca aconteceu, pois todos os Gama com o nome João se casaram em Bogas de Baixo, embora um deles se tenha casado com uma mulher natural de Janeiro de Cima, precisamente o irmão de Manuel Gama. O pai de ambos, Manuel Martins Branco, nascido em 1732, seria demasiado velho para ser o "estratega", para além de que o apelido Gama que usava não era seu, como já referi, era de sua mulher.

Tenho andado a fazer o levantamento dos registos paroquiais da freguesia de São Vicente da Beira, cerca de 1800, e têm-me aparecido muitos Gamas da freguesia de Almaceda a casar na freguesia de São Vicente. Por eles já concluíra que a informação do professor Carlos Gama e que publiquei neste blogue de que todos os Gamas da região descendiam do Gama que comandara a guerrilha, casado após as Invasões, estava errada, pois encontrei Gamas de Almaceda anteriores à invasão.

Ainda estou em fase de pesquisa e à medida que for obtendo informações posso enviar-lhe, se desejar. De facto, os Gama do Maxial parecem descender todos de Maria Martins da Gama, nascida em Rochas de cima em 1733 e casada com Manoel Gonçalves Branco, natural do Maxial, nascido em 1732; este último acabaria por ser conhecido por Manoel Gama. Seriam eles os pais do Manoel Gama, que penso ter sido o estratega do Maxial.

Há uma tradição que fala em dois irmãos e de que um teria roubado as moedas de ouro ao outro. Não encontrei nenhuma evidência, tão pouco, de terem existido moedas de ouro, nem de diferenças económicas entre os Gama do Maxial. Creio que a estória foi crescendo com o tempo. Eram todos proprietários, lavradores, o que indica que seriam donos das casas onde viviam e dos campos que exploravam, sem grandes riquezas.

Para completar o quadro, há também os Gama de Janeiro de Cima, que descendem de um sobrinho de Maria, Domingos Martins Gama, que casou em Janeiro de Cima.

Todos os Gama da zona têm o mesmo tronco, que começa em Almaceda.

A ascendência de Almaceda também me intriga, porque creio ser resultante do mesmo tipo de situação da do Maxial, ou seja, um natural de Almaceda casou com uma Gama que veio de fora e criam geração. Há uma Catherina da Gama, nascida cerca de 1623, que penso estar na origem de toda a descendência Gama daquela zona. Casou com António Freire. Penso que os Gama virão ainda de outro local. Se souber da existência de "Gamas"  em regiões próximas, agradeço a sua ajuda. Parece que na zona de Amieira do Tejo, Gavião e Vale da Gama (este nome também me intriga...) há alguns. Será que existem outros mais próximo?

José Teodoro Prata