segunda-feira, 4 de julho de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 Joaquim Ramalho

Joaquim Ramalho nasceu em São Vicente da Beira, no dia 31 de julho de 1892. Era filho de João Ramalho e Maria Sabina, residentes na rua da Costa.

Assentou praça no dia 12 de julho de 1912, como recrutado, pertencendo ao contingente de 1912, a cargo do distrito de Castelo Branco. Foi incorporado no Grupo de Baterias de Artilharia de Montanha, em 14 de janeiro de 1913. Segundo a sua folha de matrícula, foi vacinado e não apresentava sinais de ter tido bexigas. Na altura sabia ler, escrever e contar corretamente e tinha a profissão de jornaleiro.

Pronto da instrução da recruta em 30 de maio de 1913, passou ao quadro permanente, em virtude de sorteio. Passou ao Regimento de Artilharia de Montanha, em 1 de novembro, e ao Regimento de Artilharia n.º 3, de Viana do Castelo, em 1 de março de 1914; voltou ao Regimento de Artilharia de Montanha, em 22 de agosto do mesmo ano.

Destacado para a província de Moçambique, seguiu viagem em 11 de setembro, com o posto de soldado condutor, integrando a 1.ª Expedição enviada para aquela província ultramarina. Após o cumprimento do tempo de serviço para que fora destacado, passou à Bateria Mista de Artilharia de Moçambique, por concessão do governo daquela província.

Condecoração:

Recebeu a medalha de cobre das campanhas do Exército Português na colónia de Moçambique.

Família:

Joaquim Ramalho casou com Maria de Jesus Cardoso e tiveram 4 filhos: Jaime Nascimento Ramalho (o único ainda vivo), Rita de Jesus Ramalho, Mário de Jesus Ramalho e Hermínia Ramalho.

Durante muitos anos, a família residiu em Moçambique, onde Joaquim Ramalho foi inspetor da Companhia de Caminhos-de-Ferro e depois chefe de estação. Seriam cargos de alguma importância que lhe permitiram ter uma vida confortável em termos económicos e sociais.

Passados alguns anos, provavelmente após a aposentação, Joaquim Ramalho regressou a São Vicente da Beira e fixou residência numa casa da rua do Convento. Foi aí que a esposa faleceu, no dia 5 de abril de 1956. Voltou a casar com Maria da Natividade Lino, em 10 de junho de 1957. Não tiveram descendência.

Joaquim Ramalho faleceu no dia 14 de abril de 1962. Tinha 70 anos de idade.

(Pesquisa feita com a colaboração do neto Carlos Ramalho)


Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 Joaquim Inácio 

 

Joaquim Inácio nasceu em São Vicente da Beira, no dia 14 de setembro de 1895. Era filho de Joaquim Inácio, jornaleiro, e Mariana dos Santos.

Fazendo parte do CEP, embarcou para França no dia 21 de janeiro de 1917, integrando a 1.ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, como soldado com o n.º 467 e a placa de identidade n.º 48920.

Do seu Boletim Individual constam as seguintes ocorrências:

a)    Baixa ao hospital a 14 de Julho de 1917; alta em 24 do mesmo mês.

b)    Punido em sete de agosto de 1917, com dois dias de detenção, por se ter ausentado da instrução, no dia 6 de agosto, sem autorização.

c)    Punido com dez dias de detenção, por ter faltado sem motivo justificado às refeições de 12 de janeiro de 1919, apresentando-se algumas horas depois.

d)    Baixa ao hospital no dia 18 de fevereiro de 1919 e alta em 28 do mesmo mês.

e)    Embarcou de regresso a Portugal, no dia 6 de março de 1919, a bordo do vapor inglês Helenus.




Condecorações: Não foi possível consultar a folha de matrícula de Joaquim Inácio, nem no Arquivo Geral do Exército nem no Arquivo Histórico da G.N.R., pelo que não tivemos acesso a esta informação.

Joaquim Inácio casou em Lisboa com Gracinda Gomes, de Couto do Mosteiro, Santa Comba Dão, no dia 19 de Novembro de 1921. Sabe-se que tiveram filhos, mas já ninguém recorda os seus nomes.

Depois de regressar de França, ingressou na GNR e esteve colocado em vários quartéis de Lisboa. Um deles terá sido o do Carmo, onde, dizem, alguns conterrâneos o procuravam para lhe dar um abraço ou pedir ajuda quando precisavam.

Conta o senhor José da Silva (Zé Marau) que um dia, ainda rapaz novo, foi a Lisboa e passou pelo Palácio de São Bento onde vivia o Salazar. Devem tê-lo confundido com outra pessoa, porque mal parou para olhar para aqueles jardins tão bonitos, veio um polícia que o agarrou e levou preso para o quartel do Carmo. Quando lá chegaram, encarou logo com o conterrâneo que, depois de um grande abraço, pegou nele e foram os dois beber um copo numa taberna que havia ali ao pé.

Joaquim Inácio voltava à terra sempre que podia, e as Festas de Verão e a Senhora da Orada não se faziam sem ele. Parece que a mulher e as filhas poucas vezes o acompanhavam, mas a guitarra trazia-a sempre consigo. Era uma alegria quando se juntava com os amigos e corriam as ruas da Vila a tocar e a cantar. Só paravam à porta das tabernas, para molhar a garganta. E na Senhora da Orada, depois de comerem a merenda, punha a família toda a dançar.



Os irmãos tinham um grande orgulho nele e disputavam entre si quem é que lhe dava de comer e de dormir, sempre que vinha à terra. Apesar de serem todos muito pobres, esmeravam-se nos mimos, cedendo-lhe a enxerga mais macia e pondo-lhe na mesa o que de melhor tinham em casa. Conta-se que um ano coube a um dos irmãos mais pobres recebê-lo. Como não tinham roupa de cama à altura do que pensavam que ele merecia, foram pedir a outra das irmãs os lençóis do casamento para lhe fazerem a cama. Dizem que ficou tão bonita que até parecia um altar!

Joaquim Inácio faleceu no dia 19 de Maio de 1961. Tinha 65 anos. Dizem que nesse ano ninguém da família foi à Senhora da Orada…


Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

segunda-feira, 27 de junho de 2022

O São João na Etnografia da Beira

 

Lembro-me da nossa banda tocar a música desta canção. Vem na Etnografia da Beira, II Volume, tal como a da Marcelada, que acrescentei agora à publicação A marcela do São João, de 23 de junho.

Segundo Jaime Lopes Dias, o autor da Etnografia da Beira, nos festejos do São João, por toda a Beira Baixa, queimam-se rosmaninho, alecrim e marcela, para que o cheiro e o fumo afugentem a bicharada que prejudica as pessoas, os animais, as casas e os campos. Em Outeiro da Lagoa (Sertã) até se esfumam com eles as casas, para evitar o horror das trovoadas, e os currais, para que as doenças não ataquem os animais.

Outra tradição celebra-se em volta das fontes, onde os ranchos de folgazões vão beber à meia noite a água de São João. Em certas povoações de Oleiros e Sertã ia-se de seguida regar as hortas. A água de São João era talismã para o todo o ano.

Em Tinalhas, na noite de São João, os rapazes iam às hortas colher flores e frutas e roubavam os vasos floridos das janelas das casas para os levarem para o campanário.

São também nossas estas tradições: as fogueiras de rosmaninho e marcela, a ida à fonte  (Velha e de São João de Brito na Praça) beber água, o roubo de frutas (a ti Rita a atirar ginjas às crianças) e o enfeitar das fontes com os vasos roubados (tradição que passou depois do São João (na fonte da Praça) para a festa da Inspeção (na Fonte Velha). E ainda as cabeleiras, sementeiras de cereais em local escuro de que resultavam lindos vasos com uma cabeleira de fios de um amarelo esbranquiçado. E claro, os folguedos.

Não encontrei no Youtube a canção acima apresentada, que nos é familiar, mas não resisti a estas duas:

https://www.youtube.com/watch?v=UtsdNMiIhS4

https://www.youtube.com/watch?v=XxFhSWUBOj4

(a música desta última tem parecenças com a das nossas Janeiras)

José Teodoro Prata

sábado, 25 de junho de 2022

O nosso Festival

Em 2019, o nosso Festival Água Mole em Pedra Dura realizou-se neste fim de semana do São João. Lembro-me de meses antes do Festival de 2020 ter estado com o Carlos Semedo e termos conversado sobre alguns eventos a realizar, nomeadamente a recuperação das nossas tradições do São João. Depois veio a pandemia e ficou tudo adiado.

Entretanto, as Sarzedas já tiveram a sua Festa no fim de semana passado e em Castelo Branco realiza-se o evento Terras Templárias no próximo fim de semana. Nós saímos do mapa? 

Deixo-vos algumas fotos dos Festivais de 2018 e 2019, em que tivemos connosco artistas de projeção nacional.



O Serafim, contador de histórias




Chapitô, espetáculo de dança e luz


As Sopa de Pedra, celestial!

José Teodoro Prata

quinta-feira, 23 de junho de 2022

A marcela do São João


Marcela no Ribeiro de Dom Bento, caminho para a Senhora da Orada.
Os participantes na caminha do dia 10 de junho passaram por ela, numa altura em que ainda estava na sua máxima floração. Neste momento as flores já secaram

Esta é a popular marcela ou macela, tão usada nas fogueiras de São João, a par com o rosmaninho, duas plantas fortemente aromáticas que inundavam as nossas ruas com os seus cheirinhos.

As informações que encontrei na net, todas brasileiras, não se referem especificamente à nossa marcela, pois descobri que há uma enorme variedade de plantas com esse nome popular, por exemplo as camomilas.

Por isso vou seguir um livro em papel (Pour un jardin sans arrosage, de Olivier Filippi), que tem fotos da planta coincidentes com o aspeto da nossa marcela. Embora nem isso seja totalmente pacífico, pois o livro refere várias marcelas, a Helichrysum italicum (Imortal de Itália) e a Helichrysum orientale (Imortal do Oriente), esta das ilhas gregas e a primeira de toda a bacia mediterrânica. Existe ainda a stoechas, originária da Península Ibérica e da França mediterrânica e atlântica.

As três têm caraterísticas muito parecidas. Mas a italicum floresce em junho, enquanto a orientale desabrocha em junho-julho. Por outro lado, a italicum tem flores de amarelo de ouro, que libertam um odor a caril e a mel, enquanto na orientale as flores são de um amarelo pálido com reflexos prateados e odor apenas a caril. O livro nada adianta sobre as flores da stoechas, mas, pela origem geográfica, pode ser esta a nossa marcela, embora a hipótese da italicum não seja de excluir.

A net informa-me que as marcelas têm efeitos analgésicos, calmantes, anti-inflamatórios e antisséticos, que ajudam a amenizar os sintomas de ansiedade, stress e insónia.

Há que tempos que não as cheiro na noite de São João, mas temo-las abundantemente no seu habitat, por esses campos fora.

Deixo-vos com uma canção de Monsanto, cantada ao som de adufes, cujo tema é a marcela. Vem na Etonografia da Beira, II Volume, de Jaime Lopes Dias.

E ouçam-na aqui: https://www.youtube.com/watch?v=U15ruBo-DRc

José Teodoro Prata

segunda-feira, 20 de junho de 2022

O mal já vem de longe...

 A propósito do lamento da falta de investimentos na nossa terra, de que muitas vezes nos lamentamos, partilho este documento que encontrei há tempos no Livro de Registos de Leis e Ordens do Concelho de São Vicente da Beira:

Trata-se de uma Provisão da Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação, na qual o Rei D. João VI manda ao Juiz de Fora de São Vicente que averigúe o número e natureza de todas as fábricas existentes neste distrito(?) e a comunique, com a maior brevidade, à mesma Real Junta. Este procedimento deveria ser feito anualmente.

Relevante, a justificar um pouco a situação atual, é a nota do escrivão Bernardo António Robles (na margem à esquerda do documento, quase ao fundo), onde me parece ver que, na resposta, se terá dito que não existia qualquer fábrica neste distrito.

Pelos vistos o mal já vem de longe…

 

M. L. Ferreira 

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Alindar a vila

 

Logo que tomou posse, a atual junta de freguesia empenhou-se especialmente em lavar a cara às entradas da nossa terra (só vi a entrada sul, mas presumo que não tenha sido a única contemplada). Cortaram-se ervas, silvas e matos, limparam-se as valetas de vários anos de entulhos e pintaram-se muros (na Oriana).

Aqui, nas Poldras, aproveitou-se a largura excessiva da berma para fazer uma pequena exposição ajardinada e colocar um placar promocional da nossa terra.

A estrada que sobe das Poldras para o Marzelo e depois de prolonga pela Corredoura (antiga estrada romana (?)) também ficou limpinha.

José Teodoro Prata