José
Joaquim dos Santos
José Joaquim dos Santos nasceu no Ninho do Açor, no dia 1 de outubro de 1893.
Era o filho mais velho de Joaquim dos Santos e de Rosa Maria. Terá sido nessa
localidade que viveu toda a sua infância e juventude.
Assentou praça em 8 de julho de 1913, como recrutado,
pertencendo ao contingente de 1913, a cargo do distrito de Castelo Branco.
Presente no Regimento de Infantaria 21, foi incorporado no 2.º batalhão em 12
de janeiro de 1914.
Ficou pronto da recruta em 30 de abril 1914 e regressou
ao Ninho do Açor.
Tomou parte na Escola de Recruta. Presente em
16 de setembro de 1915, foi licenciado novamente em 2 do mesmo mês.
Em 5 de maio de 1916 voltou a apresentar-se, para
marchar a caminho de Tancos, onde recebeu alguma instrução militar antes de
partir para França. Embarcou a 21 de janeiro de 1917, integrando a 1.ª
Companhia(?) do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21. Era o soldado n.º
69, com placa de identidade n.º 9866 do C.E.P.
Terá seguido no primeiro comboio de navios de transporte
para França, saído do cais de Alcântara, que terá iniciado a viagem apenas a
23. Todavia, outras fontes indicam que foi somente a 30 de janeiro de 1917 que
zarparam do Tejo três vapores britânicos levando a bordo a 1.ª Brigada do CEP,
comandada pelo general Gomes da Costa. Estes navios chegaram ao porto de Brest
três dias depois. Em 8 de fevereiro chegaram à Flandres francesa e em 4 de abril
de 1917 as primeiras tropas portuguesas ficaram entrincheiradas.
No seu boletim individual do CEP constam as
seguintes informações:
a)
Punido
com 10 guardas, em 16 de fevereiro de 1917, por ter comparecido com meia hora
de atraso à chamada para o café e ração fria;
b)
Baixa
ao Hospital em 23 de abril; alta a 28 do mesmo mês;
c)
Aumentado
ao efetivo do Depósito Disciplinar 1, em 26 de setembro de 1918, onde ficou com
o número 616 porque, «encontrando-se com
prevenção de marcha para um novo acampamento mais avançado em relação à frente
do inimigo insubordinou-se, recusando a desarmar as barracas e a entrar na
formatura, ameaçando de matar com granadas de mão e a tiros de metralhadora
todo aquele que tal fizesse, como também se recusando a entrar em ordem às
intimações que lhe foram feitas pelos seus superiores»;
d)
Diligência
do Depósito Disciplinar 1 para o Tribunal de Guerra de Base, em 22 de fevereiro
de 1919, ficando à disposição do mesmo tribunal;
e)
Condenado
na pena de 7 anos de presídio militar e mais na pena acessória de igual tempo
de deportação militar.
f)
Foi repatriado com o Serviço de Adidos, a 5 de
junho de 1919. Desembarcou em Lisboa a 9 junho de 1919, e passou ao presídio militar
de Santarém, em 25 de julho, a fim de cumprir a pena que lhe foi aplicada. Foi
amnistiado pela Lei 1198 de 2 setembro de 1921 e libertado.
Durante o tempo que passou na prisão terá aprendido
a ler e escrever, uma vez que na sua folha de matrícula militar consta a
informação de que era analfabeto. Terá também aprendido a profissão de
alfaiate, embora, de acordo com os registos, demonstrasse pouca aptidão para o
ofício.
Licenciado em 11 de janeiro de 1922, voltou
para o Ninho do Açôr. Passou ao Regimento de Infantaria de Reserva 21, em 31 de
dezembro de 1923, e à reserva ativa, em abril de 1928. Passou às tropas
territoriais e ao Distrito de Recrutamento e Reserva 21, em 31 de dezembro de
1934, e ao Distrito de Recrutamento e Mobilização, a 15 em 30/11/1939, nos
termos das instruções para a execução do decreto n.º 29957 de 24/10/1939. Teve
baixa de todo o serviço militar, em 31/12/1942, por ter terminado a obrigação
de serviço.
Condecorações:
·
Medalha
militar de cobre comemorativa com a legenda: França 1917 1918" (segundo o neto Hugo Martins, José Joaquim
nunca terá visto ou ouvido falar nesta medalha).
Família:
De regresso ao Ninho do Açor, José Joaquim dos
Santos casou com Carmina de Jesus Martins, natural do Tripeiro, no dia 19 de fevereiro
de 1922. Foi ali que o casal ficou a viver, e lá nasceram os três filhos que
tiveram:
1.
António
Martins dos Santos, que casou com Maria Joaquina Martins dos Santos e tiveram 2
filhos;
2.
Isabel
Martins da Conceição, que casou com Artur Afonso e tiveram 2 filhos;
3.
Aurora
de Jesus Martins, que casou com José Joaquim Varanda e tiveram 2 filhos.
Carmina de Jesus veio a falecer com tuberculose
pulmonar, no dia 6 de maio de 1939, e José Joaquim dos Santos voltou a casar com
Maria Joana Lourenço, em 15 de novembro do mesmo ano. Deste casamento nasceu
uma filha: Maria de Deus Faustino, que casou com Adelino de Jesus Faustino e
tiveram 4 filhos.
Maria Joana Lourenço faleceu de parto, em outubro
de 1940, e José Joaquim continuou a viver no Tripeiro, onde foi sempre muito
respeitado por todos.
«Passou a
vida a trabalhar no campo e vivia do que a terra lhe dava. Também foi ganhão e
quando havia menos trabalho no campo acarretava lenha para os fornos da telha,
no Freixial do Campo.
Sempre
foi muito temente a Deus e quando falava no tempo em que tinha andado na guerra,
não se cansava de dizer que, se estava vivo, o devia à proteção da Nossa
Senhora, porque às vezes as balas eram tantas a passar-lhe rentinhas ao
capacete que só mesmo um milagre é que o tinha salvado.
E foi mesmo
um milagre porque, apesar de tudo o que por lá passou, não trouxe moléstia
nenhuma, como tantos outros companheiros que lá andaram com ele, que vieram
cheios de doenças, fora os que por lá ficaram.
Nunca recebeu
nenhuma pensão pelo tempo que passou na Guerra porque diziam que, como tinha
terras, não precisava.» (testemunho da filha Maria de deus)
José Joaquim faleceu no dia 8 de julho de 1970.
Tinha 77 anos. Está sepultado no cemitério de São Vicente da Beira.
(Pesquisa feita com a a colaboração da filha
Maria de Deus Faustino e do bisneto Hugo A. dos Santos Gomes Martins)
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra