sexta-feira, 12 de julho de 2013

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A dança das bruxas

Das muitas tabernas que existiram na nossa terra, já só resta a do Marcelino, no Casal da Fraga (hoje é da Amália, que a herdou do pai). Gosto de lá ir à tardinha ou à noite, principalmente agora no verão, porque é a hora em que param por lá bons contadores de histórias.
Quem contou esta foi a ti Trindade Marcelino que, diz, ainda se lembra do homem a quem aconteceu o seguinte:
Há muitos anos, se calhar mais de cem, havia um rapaz nos Pereiros que namorava uma rapariga das Rochas. Sempre que podia lá ia ele a pé, por montes e vales, até chegar à terra da namorada que ainda ficava a umas boas horas de caminho.
Uma vez, já a lua ia alta, ao chegar ao cimo da serra do Açor vê aproximarem-se uns pássaros pretos que traziam uma luz no bico. Poisaram todos num cruzamento que por ali havia e, ao tocarem no chão, transformaram-se em belas raparigas. A seguir chegou um pássaro ainda maior que se transformou num homem. As raparigas juntaram-se todas à volta dele, fizeram uma roda e puseram-se a dançar e, de vez em quando, chegavam-se ao meio e beijavam-no.
Ao fim dum bom bocado chega mais um pássaro que também se transformou em mulher e se juntou à roda, mas o homem, zangado, perguntou-lhe porque é que estava a chegar tão atrasada. Ela respondeu-lhe o seguinte:
“Quem tem filhos para dormir e homem para acalentar, da Sertã aqui não tem que tardar?”
E lá continuaram a dança até que, de repente, se transformaram de novo em pássaros e voaram cada um para seu lado.
O rapaz, que se tinha escondido atrás dumas giestas que por ali havia, assistiu a tudo com muito medo e bastante zangado, porque tinha reconhecido a namorada numa das raparigas. Apesar disso, resolveu continuar o caminho até às Rochas e tirar tudo a limpo. Quando lá chegou, a namorada já estava em casa. Ele contou-lhe o que tinha visto e quis que ela explicasse o significado daquela cena. A rapariga confessou que era bruxa e disse-lhe o seguinte:
“Agora que sabes a verdade, não és obrigado a casar comigo, mas ai de ti que, enquanto eu for viva, contes a alguém o que viste hoje! Se alguém souber, mato-te! Em paga do teu silêncio, vais receber todos os anos uma camisa e umas ceroulas de linho.”
O rapaz voltou para os Pereiros, arranjou nova namorada e passado pouco tempo estava casado. Todos os anos lhe aparecia em casa uma camisa e umas ceroulas e a mulher, desconfiada, fazia sempre a mesma pergunta:
“Ó homem, mas que diabo é que te manda todos os anos esta roupa tão fina?”
Ele respondia sempre o mesmo:
“Come e cala-te, mulher de Deus. Tu nem queiras saber…”
Foi assim durante muitos anos. Quando a encomenda deixou de chegar, o homem contou finalmente à mulher o que tinha visto naquela noite a caminho das Rochas e a história espalhou-se por toda a aldeia e arredores. Ainda hoje a contam…
O homem morreu de velho, cego, a caminhar com uma bengala pelas ruas.


M.L.Ferreira



José Teodoro Prata

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Ainda a biodiversidade da Gardunha






Libelilhas da Senhora da Orada e da Barragem do Pisco




Mosca(?) equilibrista

João Candeias

sábado, 6 de julho de 2013

Mais biodiversidade da Gardunha


Lembram-se da praga de gafanhotos não autótenes que tivemos na Gardunha, há uns tempos?
Há dois anos apareciam às centenas e estavam a tornar-se um problema sério para a agricultura.
Entretanto, no ano passado só vi um e este é também o único deste ano.
O inverno de 2012 (assim como a primavera) foi extremamente seco e isso deve ter levado à sua extinção.
Desapareceram como apareceram: de repente e de forma misteriosa!



Os melros já enchem o ninho.
Qualquer dia já ouço os seus pios rápidos nos arbustos do ribeiro.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Biodiversidade da Gardunha


Sei um ninho de melros
Mas não o vou ensinar
Quero ter muitos amigos
Para o pomar partilhar



A menina rã camuflada num charco do ribeiro



Castanheiro em flor

O senhor javali é um brutamontes
Cheirou-lhe a castanhas antes do tempo 
e desnocou uma grande pernada

José Teodoro Prata

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Festas de Verão



Circular
    PRENDA PARA A QUERMESSE

Decerto que Você, Vicentino, já saberá que, neste ano de 2013, se vão realizar, na Vila, as nossas Festas de Verão, nos dias 2 a 6 de Agosto próximo.

São Festas de tradição muito antiga que não queremos deixar acabar, porque fazem parte da nossa história comum e dos nossos antepassados.

Apesar de ser um ano de dificuldades económicas, por todos sentidas, é convicção da Comissão de Festas, 2013, que os nossos conterrâneos a residir cá ou fora, em Portugal, ou no estrangeiro, vão participar com grande vontade e entusiasmo. 

Esta Circular tem por finalidade sensibilizá-lo a si, Vicentino, e a si, que tem laços de família nesta Terra ou a si, Amigo de S. Vicente da Beira, para a importância de oferecer uma PRENDA PARA A QUERMESSE.

Uma simples lembrança que poderá ter pouco significado para quem dá, mas que, para nós, representa muito e cujo valor a Comissão de Festas procurará potenciar com a sua venda na QUERMESSE.

Por isso, é tão importante para nós a sua oferta! 

Não deixe de dar o seu contributo, fazendo o seu donativo e ajude um evento único na Nossa Terra!

Adira à oferta para a QUERMESSE e torne possível o nosso e o seu sonho de ver realizadas as Festas de Verão.

Pelo Senhor Santo Cristo!
Por S. Vicente da Beira!       
                                                                  A Comissão de Festas,


zb

terça-feira, 2 de julho de 2013

Embruxada

Ainda a propósito da Má Hora, contaram-me há muito tempo a seguinte história, passada na minha família:

Uma das minhas tias foi sempre enfezada e, como ela própria ainda diz, fraca da cabeça. Uma altura, já mulherzinha, andava mesmo muito doente: amarelenta, com fastio, sem vontade de trabalhar… Um tormento para ela e transtorno grande para a família!
Um dia passou por um homem que havia cá na terra e sabia muito destas coisas de Deus e do demónio e até tinha um livro sobre o diabo (seria o Livro de São Cipriano?). Só de olhar para ela, o dito homem fez logo o diagnóstico “Tu andas é embruxada, cachopa!”. E recomendou: “Olha, logo à meia-noite, pões uma panela ao lume, metes lá dentro uma peça de roupa tua e, quando começar a ferver, picas a roupa com um espeto com toda a força. Fazes isto até à uma. Vais ver que quem quer que seja que te anda a fazer mal vai entrar pela fechadura da porta toda encarrapata e, com a vergonha, vai deixar de te apoquentar”.
A minha tia que para além de enfezada e “fraca da cabeça” era muito medrosa, foi ter com a minha mãe e contou-lhe o que o tal homem lhe tinha dito. A minha mãe, mais velha e afoita, mas também muito crente nestas coisas do outro mundo, prontificou-se logo para ajudar.
Então, ainda nessa noite, quando todos já tinham ido para a cama, puseram a panela a ferver ao lume, meteram lá dentro uma combinação e, com toda a força que tinham, espicaçaram-na com o espeto de virar as filhoses durante bastante tempo. Já era quase uma da manhã quando, cansadas e desiludidas, mas se calhar também com medo, desistiram…
No dia seguinte, a minha tia voltou a encontrar o tal homem que lhe perguntou como é que as coisas tinham corrido. Quando ela lhe disse que não tinha aparecido ninguém, ele ficou admirado, mas disse que se calhar elas não tinham feito tudo como devia ser. E se calhar não…

M. L. Ferreira

Nota: Acho muito interessantes estas histórias da Boa e Má Hora, até porque foram delas que se alimentou o imaginário de muitos de nós durante a infância. Ainda hoje gosto de as ouvir… Mas, como sugeriu o Ernesto há dias, acho que prefiro a Hora das Loiras ou doutra coisa qualquer, principalmente se for em boa companhia!