Era um dia como todos os outros. O sineiro trazia a
vara do sino do concelho na mão e preparava-se para o badalar;
as portas dos paços da câmara abriram-se, na praça já havia cidadãos que
esperavam para resolverem assuntos pessoais
O meirinho chamou o carcereiro e disse-lhe para ir à
enxovia buscar o preso que tinha sido encarcerado na véspera, para ser presente
ao juiz de fora
Um pobre diabo que cometeu o erro de roubar uma
galinha ao senhor conde. A mulher estava muito mal, o boticário recomendou caldos
de galinha…
Coitado, dizia o povo em surdina. Quem rouba pouco é
ladrão, mas quem rouba muito é barão.
Era um dia outonal, o sol entrava por entre as grossas
grades da cadeia, o coitado estava sentado por detrás das grades, recebendo os
raios solares da manhã.
A noite tinha sido gélida, a palha lhe serviu de
cobertor, carcereiro chamou-o e levou-o à presença do juiz. A mulher
carregadinha de sezões tremia como se fosse uma cana agitada pelo vento, a
ninhada dos filhos agarrados à saia da mãe choravam copiosamente, as pessoas
pediam clemência, o vigário subiu as escadas do balcão da cadeia, entrou no
tribunal para interceder, já tinha ido falar com o senhor conde. O juiz
condenou-o a passar o dia no pelourinho e que não voltasse a fazer o mesmo; se
fosse apanhado a roubar, a forca seria o seu destino
Os condenados recebiam do juiz sentenças punitivas,
pecuniárias e condenatórias.
Nas punitivas, os réus eram expostos ao sarcasmo das
pessoas que passavam em frente ao pelourinho; à noite, soltavam-nos e seguiam
em paz para suas casas. Nas pecuniárias, o réu pagava uma coima ao tribunal e
ao queixoso e não passava pela vergonha de… Havia condenados, casos raros; ao
fim do dia eram desamarrados do pelourinho e levados para a forca que ficava na
Devesa, onde eram enforcados.
À frente, o pregoeiro anunciava o motivo da condenação,
atrás o vigário juntamente com o povo rezavam ladainhas para implorarem a
misericórdia divina, ao mesmo tempo abafavam a voz do pregoeiro…
Este ferro fazia parte da grade da cadeia,
situa-se numa propriedade no Valouro que pertence ao doutor Lino. (Não sei se
ainda lá se encontra).
J.M.S
4 comentários:
O ferro da foto seria de uma janela rasgada na horizontal, larga mas pouco alta, na enxovia dos presos. Aliás, se repararmos no atual edifício, dá para perceber que a parte inferior, onde agora é a sala de trabalho da Junta (não da receção), foi remendada.
O ferro da foto estaria na horizontal, a meio, e em cada buraco passaria um ferro na vertical, curto. É uma hipótese.
Do andar superior não era, pois as janelas tinham gradeamento, mas de pau.
Era garoto e sempre ouvi contar às pessoas idosas que a grade pertencia à porta onde outrora ficava a farmácia."Se anterior à porta existiu uma janela rasgada na horizontal, não sei"
Esta sala comunicava com o resto da cadeia e foi fechada. O espaço interior da prisão devidamente remodelado, faz parte actualmente do museu da misericórdia. Resta o postigo que mantém os dois ferros.
J.M.S
Triste sina, ser-se pobre! Então, como agora…
Mas aqui temos mais uma boa história para ser representada quando formos nós a fazer a nossa Feira Medieval. Depois das sugestões deixadas pelo José Teodoro na última publicação, não acredito que haja alguém que se negue…
M. L. Ferreira
De facto, existia a porta a que se refere o José Manuel e acho que ele tem razão, pois baseia-se na tradição oral e essa porta existia mesmo. A porta comunicava com a zona da cavalariça. É natural que fosse segura e por outro lado permitia ver os presos.
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