terça-feira, 10 de outubro de 2017

Interior

Naquele tempo…
Há muitos, muitos séculos, existiu um rei (Sancho I), em Portugal  que, quando subiu ao trono, encontrou vastas terras cheias de matagais, despovoadas, nomeadamente no interior, onde o diabo perdeu as botas. Depois de muitas lutas, conjuntamente com seu pai (D. Afonso Henriques), o reino atravessava um tempo bonançoso.
Tinha trinta anos, quando tomou as rédeas do poder, as fronteiras com os reinos cristãos, embora frágeis iam-se consolidando. O problema mantinha-se a sul, onde predominavam os Muçulmanos.
O rei de Portugal soube tirar partido desta acalmia e…
- Não pode ser! - disse um dia ao seu chanceler D. Julião - No meu reino tenho terras incultas que nunca mais acabam; contacte o deão de Silves (que entretanto tinha voltado novamente para domínio Muçulmano), ele que vá à sua querida Flandres e traga gente para os meus reinos!
- Não é mal pensado. - respondeu o chanceler.
O Deão Guilherme partiu para a Flandres onde engajou muitos colonos. Ao chegarem a Portugal, o rei ofereceu-lhes terras para se instalaram.
Adiante.
Trás-os-Montes, Beiras… locais onde as populações eram escassas. Covilhã, 1186; Viseu, 1187; 
São Vicente da Beira 1195… Restaurou, povoou, incentivou portugueses e colonos a morarem nessas terras, dando-lhes regalias através de forais.
Desta maneira conseguiu o rei, aos poucos, que todo o reino se fosse povoando.
Os povos arroteavam, trabalhavam e rezavam.
Um dia, um filho de rei (Infante D. Henrique) isolou-se no extremo sul de Portugal, onde fundou uma escola de marinharia. Começou a enviar marinheiros para que descobrissem novas gentes, aos poucos e poucos os habitantes mais expeditos iam abandonando suas terras, partiam à procura de melhor vida.

Os séculos foram passando, algumas povoações perderam importância, outras aumentaram-na.
Em 1976, no mês de Abril, realizam-se eleições livres em Portugal
Em São Vicente da Beira, estavam inscritos nos cadernos eleitorais 1833 eleitores; na vizinha freguesia de Almaceda, 1291; Louriçal do Campo, os eleitores inscritos totalizavam, 815; Sobral do Campo 532; Ninho do Açor, 381…
Os anos foram passando, os cidadãos, morrendo ou debandando outras paragens; eis que chegamos ao ano 2013.
Eleições autárquicas:

São Vicente da Beira, 1355 eleitores; 2017, 1161 almas com direito a votar.

Nas vizinhas freguesias de:
Almaceda, em 2013, estavam inscritos nos cadernos 804  eleitores; 2017, 657 eleitores

2013, Ninho do Açor/ Sobral do Campo, 841  eleitores; 2017, 738 eleitores

2013, Louriçal do Campo, 644 votantes; 2017, 540 eleitores

Desde 1976 até 2017 a freguesia de São Vicente da Beira perdeu 672 eleitores. Uma média de 16 cidadãos eleitores por ano.

A freguesia de Almaceda perdeu 634 eleitores. Durante estes anos perdeu, por ano, cerca de 15 cidadãos eleitores.

As freguesias Sobral do Campo e Ninho do Açor perderam 175 cidadãos eleitores.
Estas duas freguesias unidas perderam, por ano, uma média de 4 eleitores.

Louriçal do Campo perdeu 275 eleitores. Esta freguesia perdeu uma média de 6 eleitores por ano, durantes estes últimos 41 anos.

Desde 1976 até aos dias de hoje, estas quatro freguesias perderam 1756 almas; muitos cidadãos.
Por este andar, se os governantes não tomarem medidas sérias, todo o interior irá ser uma vasta coutada, terras de ninguém ou de meia dúzia de endinheirados que as transformam em vastíssimos coutos para gaudio de uns poucos.
Em 2013, estavam inscritos nos cadernos eleitorais da cidade de Castelo Branco 31 287 eleitores. Actualmente estão inscritos 30 719 cidadãos.  
Julgo, não será isto que os governantes quererão, para isso têm que ser tomadas medidas positivas, incentivos para que as pessoas regressem às suas origens, pondo fim às portagens, diminuindo a carga fiscal aos que queiram investir nestas paragens; incentivos à maternidade, atribuir regalias sociais para quem queira morar no interior, e por aí fora.
As nossas aldeias e vilas possuem melhor qualidade de vida que a existente nas grandes cidades. Ares e águas puríssimas, boas estradas. Para se fazerem trinta quilómetros numa grande cidade, demora-se uma hora, ou mais; nas nossas terras, meia hora basta. Nada de engarrafamentos, nem dores de cabeça. 
Se não se tomarem medidas sérias e justas, qualquer dia, era uma vez


J. M. S

3 comentários:

José Teodoro Prata disse...

Alguém me dizia, em vésperas das últimas eleições, que a quebra demográfica na nossa freguesia (nas outras ainda era maior) era tão grande que as previsões se tornavam quase impossíveis de fazer.
É de sublinhar que há interiores dentro do interior: pelos dados do José Manuel, as freguesias mais afastadas de Castelo Branco são as que perderam mais eleitores e, conforme nos vamos aproximando, as perdas diminuem. Nós já não funcionamos como dormitório de CB, ao contrário das povoações mais perto.

Anônimo disse...

Verdade, verdadinha; se não se estancar esta hemorragia um dia destes todo o interior se despovoa de nativos, com certeza outros povos com culturas, religiões e costumes tão dispares como dois e dois serem...
ocuparão as nossas terras
Em quatro anos; A freguesia de São Vicente da Beira perdeu 14,32%
Almaceda...................................................18,29%
A União Freguesias Ninho do Açor/Sobral do Campo...........12,25%
Louriçal do Campo..........................................16,15%
Cidadãos eleitores que estavam inscritos nos seus cadernos eleitorais

Todo o interior é tão bonito, as nossas terras têm atractivos e paisagens maravilhosas. Está a nascer em São Vicente da Beira o "maior" museu de arte sacra de toda a nossa região
Povos, cidadãos, venham residir para São Vicente; terra da Senhora da Orada, das águas Fonte da Fraga, Serra da Guardunha... Venham morar para o Louriçal do Campo, freguesia que se orgulha de possuir no seu seio o grande edifício onde outrora estudaram muitas personalidades do nosso país,"para mim o mais importante, foi o professo Egas Moniz", vizinha da Guardunha...
E o Sobral! Aldeia dos enchidos, dos queijos, da Santa Cruz. Ninho do Açor; com sua igreja altaneira, espaços abertos, terra de bom vinho.
Almaceda; com sua praia fluvial, gentes hospitaleiras, como são todos os habitantes das outras freguesias e de todos os lugares deste nosso Portugal profundo mas tão bonito.
J.M.S

Anônimo disse...

Há um ponto simples para a fixação de pessoas, chama-se espírito de sacrifício que muitos não têm nem fazem por ter, nomeadamente os jovens das aldeias/vilas, (até dos menos jovens), basicamente o pensamento é , "se trabalho em Castelo Branco tenho de lá viver", claro que dá sempre mais jeito, mas será que custa assim tanto continuar a fazer na terra natal, e dar-se ao tal "sacrifico" de fazer a viagem para o trabalho de manhã e de tarde?. Infelizmente existem muito jovens com empregos e vidas que lhes permitem continuar a viver nas suas terras, mas parece que alugar um apartamento fica mais fácil (pelo contrário acabam por ficar a gastar ainda mais dinheiro do que se vivessem na terra), mas é a tal ideia que se tem se de ir viver para a cidade, como se viver na terra fosse uma especie de fase menor da vida da qual se tem de evoluir. É claro que cada sabe da sua vida, mas ir viver para cidade é das tais modas de que esta juventude não para se quer para pensar. Se gostam da vossa terra e querem ajudar, façam dela parte da vossa, Castelo Branco não precisa de mais habitantes.