terça-feira, 18 de agosto de 2020

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

 

Domingos Nunes (Partida)

 

Domingos Nunes, filho de António Nunes e Jacinta Ana, proprietários, nasceu na Partida, a 1 de Novembro de 1894, e aí viveu até à idade adulta. 

Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando assentou praça, no dia 9 de Julho de 1914. Foi incorporado em 13 de Janeiro de 1915, na 7ª Companhia de Saúde. Foi vacinado. Pronto da instrução da recruta, em 9 de Julho de 1915, domiciliou-se na Partida.

Foi mobilizado para a guerra e, fazendo parte do CEP, partiu para França no dia 22 de fevereiro de 1917, como soldado maqueiro, integrado no 1.º Grupo da 7.ª Companhia, Serviço de Saúde, Ambulância n.º 2. Tinha o n.º 476 e a placa de identidade nº 19128- séria A.

No seu boletim individual são pouco legíveis as ocorrências no teatro de guerra, mas podem ver-se algumas movimentações entre diferentes serviços de ambulância, durante o tempo que permaneceu em França.

Consta ainda uma hospitalização, entre 24 de Dezembro de 1917 e 20 de Janeiro de 1818, e um castigo de 10 dias de prisão disciplinar, por se ter recusado a descarregar alguns caixotes trazidos por um camião, dizendo que, como estava de faxina a três oficiais, não era obrigado a fazer mais nada. Foi amnistiado por este comportamento.

Regressou a Portugal, no dia 5 de 1919, a bordo do navio inglês Helenus. Passou à reserva ativa, em 11 de Abril de 1928, e à reserva territorial, em 31 de Dezembro de 1935.

Condecoração: Recebeu a Medalha comemorativa da Vitória.

 

Família:

Regressado a Portugal, Domingos Nunes casou com Maria Ana, em Outubro de 1919. Tiveram 3 filhos:

1.    Maria dos Anjos, que casou com Joaquim Duarte e tiveram 5 filhos;

2.    Maria do Patrocínio, que casou com Francisco Ivo e tiveram 4 filhos;

3.    Francisco Nunes, que faleceu ainda jovem. 

«O meu avô não era pessoa de falar muito dos tempos que passou em França, mas lembro-me de ele contar que esteve uns poucos de dias à espera de embarcar em Lisboa, porque diziam que não havia transporte, mas também se constava que era porque o Comandante da Companhia não queria embarcar. E que por lá tinham sido tempos muito difíceis. Era maqueiro e andava sempre nas ambulâncias, a acarretar os soldados apanhados pelas balas do inimigo. Havia dias que os bombardeamentos faziam tantos mortos e feridos que não davam vazão a socorrer tanta gente e muitos corpos ficavam para trás. Era isso o que mais lhe custava, muito mais do que a fome, o frio e o medo que também eram de morrer.

Quando regressou à terra, continuou a trabalhar na agricultura, nas terras que eram dele, onde semeava e colhia de tudo, para ter uma casa farta de pão e o resto que era preciso.

Passados muitos anos, ainda conseguiu que lhe dessem uma pensão pelo tempo que andou na guerra, mas gozou-se já dela por pouco tempo» (testemunho do neto José Ivo).

Domingos Nunes faleceu, no dia 19 de Novembro de 1983. Tinha 89 anos de idade.

(Pesquisa feita com a colaboração do neto José Ivo)

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

Um comentário:

José Barroso disse...

Homens como o tio Domingos Nunes da Partida ou de outro lugar da freguesia ou de qualquer zona do interior rural de Portugal, eram, na sua época, só por viverem nas condições em que viviam, uma espécie de heróis. Já tenho escrito que esses homens e essas mulhares tinham até uma espécie de auréola de santidade, visto que nada pediam e nada reivindicavam; apenas arrostavam estoicamente com a vida, num mundo cheio de dificuldades.
Mas, reportando-me ainda ao comentário da Libânia no post enterior, no que concerne à nossa terra, a questão é de tal ordem que merecia uma reflexão profunda. E mesmo assim, não sei se conseguiríamos perceber todas as razões por que chegámos até aqui. Sabemos que essas razões são históricas, sociológicas, geográficas, etc. O "Jornal do Fundão" organizou, há uns anos, as "Jornadas da Beira Interior". Houve conclusões, mas as soluções tardam ou nunca virão.
O investimento na nossa terra resolvia muitos problemas. Mas desse mal se queixa todo o Interior!
Abraços, hã!
JB