segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Vicentinos ilustres

 

José Hipólito Vaz Raposo

 

VIDA E OBRA

- Nasceu em S. Vicente da Beira, no ano de 1885.

- Era filho de João Hipólito Raposo, cultivador e natural e S. Vicente da Beira, e de Maria Adelaide Gama, cujo pai era natural de Janeiro de Cima

- Estudou com o irmão Pe. Domingos Raposo, o tio Francisco, professor nos Escalos de Baixo, e o Pe. José David dos Reis, professor do Ensino Primário Complementar, em S. Vicente da Beira.

- Frequentou o Curso Teológico do Seminário da Guarda e formou-se em Direito na Universidade de Coimbra.

- Casou, em Lisboa, com Valentina Pequito Rebelo. O casal tive seis filhos.

- Foi um dos principais ideólogos do Integralismo Lusitano, um movimento conservador, católico e monárquico que se opôs ao regime da Primeira República e depois à ditadura de Salazar.

- Exerceu advocacia, foi professor e escritor, realizou conferências, fundou e colaborou em jornais e revistas…

- Participou na revolta monárquica de Monsanto, em 1919, contra a Primeira República, sendo preso, expulso da função pública e exilado para Angola.

- Em 1940, publicou a obra Amar e Servir, na qual fez um duro ataque à política de Salazar, o que lhe valeu nova demissão dos cargos públicos e a deportação para os Açores.

- Faleceu, em Lisboa, no ano de 1953.

Casa onde nasceu Hipólito Raposo: esquina da Rua Velha com a Rua Nicolau Veloso, à direita de quem desce.

Casa onde viveu Hipólito Raposo: fundo da Rua da Costa, à Fonte Velha.

Obras publicadas
Coimbra Doutora, 1910;
Boa Gente, 1911;
Sentido do Humanismo, 1914;
Caras e Corações, 1921;
Dois nacionalismos, 1925;
A Beira Baixa ao Serviço da Nação, 1935;
Aula Régia, 1936;
Pátria Morena, 1937;
Direito e Doutores na Sucessão Filipina, 1938;
Mulheres na Conquista e Navegação, 1938;
Amar e Servir, 1940;
D. Luísa de Gusmão – Duquesa e Rainha, 1947;
Oferenda, 1950;
Folhas do Meu Cadastro, 1911, 1925, 1926, 1940, 1952, 1986.

 

«Nas voltas da escola para casa, com a irrequieta curiosidade da puerícia, começava eu a soletrar as inscrições dos cruzeiros e das sepulturas, e diante dos Paços do Concelho, detinha-me a contemplar a pedra do escudo real, ladeado por duas esferas, ricamente doiradas pelo sol dos séculos.

Mas o meu interesse maior ia para o pelourinho da vila, coluna oitavada de granito, erecta sobre degraus circulares, coroada de robusto capitel em que pressentia residir um solene mistério de silêncio e sombras.»

(Hipólito Raposo, em “Lisboa Pequena”, Oferenda, 1950)

José Teodoro Prata

Um comentário:

José Barroso disse...

Hipólito Raposo, vale, na minha ótica, por ter sido um participante político, um profissional (competente, como creio) e por ter sofrido e ter sido prejudicado pelas causas que defendia; e ainda (o que para os vicentinos é mais grato), por ter um grande afeto à sua terra natal.
A sua obra escrita é importante, mas como não fez literatura romanesca de relevo, não é muito divulgado; existem as edições antigas e poucas recentes e a sua importância é sobretudo histórica e política.
À luz do pensamento de hoje, Hipólito Raposo apostou mal na política; mas isso tem a ver com cada um de nós, segundo a sua educação e forma de ver o mundo. O Integralismo Lusitano é (era) uma doutrina nacionalista antidemocrática que os seus cultores continuaram a defender mesmo depois da derrota do fascismo italiano e do nacional-socialismo alemão na II Guerra. Do mesmo modo que Salazar (que tivera sempre o retrato de Mussolini em cima da secretária), continuou a governar mais ou menos por deferência dos Aliados (porque teria praticado uma neutralidade colaborante?).
O curioso de tudo isto é que apesar de Raposo e o seu movimento (e também Rolão Preto) serem adversários de Salazar, a doutrina do Integralismo Lusitano era um dos pilares do salazarismo. Acho que a divergência maior seria na forma (república para Salazar, monarquia - absoluta? - para Raposo). Em todo o caso, contrária aos ventos da história. De facto, a democracia plural é a única forma de governo que tem capacidade de tolerar os que pensam de forma diferente; como se viu a seguir ao 25abr74, em que deixou de haver exilados políticos e em que as pessoas não são prejudicadas nos seus cargos e profissões.
Abraços, hã!
JB