sábado, 1 de julho de 2023

Mãos

 O livro Alma da Terra, do Pedro Martins, é uma obra de arte que, para lá da beleza surpreendente das fotografias publicadas, nos faz sentir a impossibilidade de, mesmo com todos os sentidos bem apurados, observamos o mundo à nossa volta nos detalhes mais interessantes.

Esta, é uma das que elegeria, se tivesse que destacar alguma, talvez porque também é a única que apresenta o elemento humano.


É a fotografia das mãos do senhor Domingos, avô do Pedro Martins, quando tinha já 100 anos; tão iguais às dos avós de muitos de nós.

E fizeram-me lembrar o poema “As Mãos” do Manuel Alegre, principalmente nestes versos:

“Com as mãos se rasga o mar.

Com as mãos se lavra.

Não são de pedra estas casas,

Mas de mãos.

(…)  

E cravam-se no tempo como farpas

As mãos que vês nas coisas transformadas.”

Deve ser por isso que, com frequência, quando olho para tantas coisas à minha volta, me lembro ou ponho a imaginar as mãos calejadas dos artistas que as fizeram.

M.L. Ferreira

NOTA: O Pedro Martins é um fotojornalista, nascido no Vale de Figueiras

5 comentários:

Anônimo disse...

As mãos, mormente, as mãos velhas e calosas retratam bem o cansaço de um homem ou de uma mulher. E quando são fotografadas ou pintadas numa tela, se o artista tiver génio, é capaz de captar, através delas, todo o trabalho e até quase a inquietação de um vida inteira. Vou mais longe: as mãos dizem muito do afeto que vai na alma de alguém. Isto não é Quiromancia que, essa, é uma pseudociência. Nem estamos a pensar nas mãos tantas vezes usadas para o mal. Estamos a falar de mãos de trabalho e da sua aparência; de cada gesto das mãos que tanta paz pode transmitir ao outro; das mãos que tanto carinho deixam adivinhar; dos afagos das velhas mãos do avô na face do neto ainda criança!
São as mãos dos simples que "constroem as cidades para os outros" (Sérgio Godinho). Os olhos dizem muito e o coração tem razões que a razão desconhece, mas
são as mãos que modificam o mundo! E que o façam sempre para o bem!
Abraços, hã!
J. Barroso

José Teodoro Prata disse...

Extraordinária a facilidade com que o José Barroso escreve sobre qualquer assunto sempre com a mesma desenvoltura!

Anônimo disse...

José Teodoro: desta vez não posso deixar de te agradecer! Mas já vi aqui coisas muito boas de qualquer dos que escrevem (ou escreveram) neste blog! Nomeadamente, da Libânia; e ainda, há dias, da tua irmã Tina (quando escreveu sobre a tua Mãe). Abraços, hã!
JB

M. L. Ferreira disse...

Que felicidade a nossa que associamos as mãos velhas e calosas, quase sempre, ao trabalho e aos afetos! Infelizmente não é assim para tanta gente, vítima da maldade humana: “Com mãos se faz a paz, se faz a guerra/Com mãos tudo se faz e se desfaz” como diz também o poema.
É verdade, é admirável a facilidade e sensibilidade com que o J. Barroso fala sobre qualquer assunto. E já temos (eu tenho) saudades das histórias que ele nos conta, onde muitas vezes nos sentimos personagens…

Anônimo disse...

Esta coisa dos livros tem os seus quês. Frustrações, também.
Pus-me em campo, é verdade, em busca do livro deste alma do diabo. Nem rasto: nem no catálogo da BN; no da Municipal de CTB, também não; nas Municipais de Lisboa, idem; na de SVB, não sei, não pude aceder ao catálogo. Fui ao Google e perdi-me, sem encontrac. Então, parei para escrever isto.
O livro é edição privada, fora dos circuitos do ISBN e do depósito legal, Libânia? Uma edição só para os amigos? Se é, põe lá o meu nome, sff, na lista dos amigos do senhor! Ou, se tens 2, aceitas uma troca?
Manda dizer - quem, quando, etc., as coordenadas da edição e distribuição. Volto aqui em breve.
JMT