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sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O Pelourinho

 Há dias, a propósito do artigo sobre a digitalização dos jornais pela Biblioteca de Castelo Branco, não respondemos à dúvida sobre se existiria o Pelourinho na Biblioteca Hipólito Raposo. De facto não existe. Há apenas um exemplar que foi doado, há tempos, pela Maria José (Alfaiate). É o número 2, publicado em 15 de setembro de 1960, era diretor o padre Sílvio.

Era bom que fosse possível reunir todos os números publicados (também de O Vicentino) e torná-los acessíveis através da digitalização. É que, dando-nos conta, mensalmente, dos acontecimentos mais importantes em cada uma das povoações da freguesia, foi um documento fundamental para ficarmos a saber quase tudo sobre a vida de São Vicente durante várias décadas: dados económicos, sociais, demográficos, culturais, costumes, valores, etc. que muitos vivemos e ainda recordamos, mas a maior parte da população mais jovem nem imagina.

Deixo algumas das notícias deste Nº2; acho-as significativas porque testemunham bem como estávamos todos irmanados nas alegrias, nas tristezas e nas necessidades mais básicas:

 - No Mourelo pedia-se às “Exmas. Autoridades” que fosse feito um chafariz para abastecimento de água à população, porque a única fonte disponível era ainda a Fonte de Mergulho, “pouco higiénica e muito distante”; realizara-se a festa de Santo António, “glorioso protector”, com missa e sermão feito pelo Padre Sílvio e cânticos dirigidos por um seminarista da Guarda; deu-se ainda conta da visita de várias pessoas aos seus familiares.

- Na Partida ansiava-se ainda pela chegada da estrada e pedia-se ajuda para o arranjo de alguns caminhos; a população viveu em festa, entre os dias 26 de agosto e 5 de setembro, pela presença de um grupo de seminaristas da Guarda que “… proporcionaram a todos momentos de inesquecível prazer espiritual”; também houve grande satisfação pela chegada de alguns conterrâneos vindos de França ou de Lisboa para passarem férias com a família; no dia 3 de setembro faleceu a senhora Amélia Bonifácio de Carvalho.

-Nos Pereiros festejava-se já a chegada da nova estrada que tanto iria beneficiar a população; mas chorava-se a morte de uma criança de 2 anos, num incêndio num palheiro, e queimaduras graves na mãe ao tentar salvar o filho; esteve de visita à família o senhor João António Varandas, sócio gerente da Fogás Lda.

 - Na Paradanta esperava-se com impaciência a construção da escola, tanto mais que a população estava disposta a ceder o terreno no local que as “Exmas. Autoridades” julgassem mais adequado; estavam ainda de férias alguns estudantes da terra (6, no total!), e também o “menino” Norberto Gomes Filipe tinha ficado bem no exame de admissão ao Liceu; o senhor António Gomes Filipe e esposa pediram, para seu filho, a mão de D. Maria Emília Ventura Russo “Professora Oficial”, filha do senhor Alfredo Ventura Russo e da senhora D. Trindade Diogo Ventura Russo; faleceu inesperadamente a esposa do senhor Álvaro Martins Faustino.

 - No Vale de Figueiras festejava-se o início das obras de alargamento do caminho de acesso à povoação; pedia-se a construção de uma fonte com “água pura”, em alternativa à dos poços e presas; deu-se também conta da participação de muita gente em algumas atividades e cerimónias religiosas realizadas pelos seminaristas da Guarda (na Partida) onde viveram uma “alegria sã e vida piedosa”.

- No Casal da Serra fora caiada a igreja e dourado o altar, que “ficou muito bonito”; continuava também em construção a estrada até ao Louriçal, que vinha encurtar o caminho de acesso à Estação e pediam-se também melhoramentos no caminho para a sede da freguesia; dava-se notícia da visita de várias pessoas, residentes fora, às suas famílias.

- No Violeiro pediam-se melhoramentos nos caminhos, autênticos lodaçais no inverno; festejava-se ainda os bons resultados nos exames dos estudantes José António Rato e Conceição de Jesus Rato e a partida de Francisco Magueijo para o seminário de Fátima; desejava-se boa viagem ao senhor José Roque, esposa e filhos, que regressavam a França onde residiam há sete anos.

 - No Tripeiro festejava-se a chegada do telefone com muita alegria porque “já podiam fazer-se ouvir ao longe sem a triste necessidade de percorrer longos caminhos lamacentos”; dava-se a notícia de que a escola estava quase pronta, pelo que se agradecia muito ao “Estado”; iam também ter água canalizada em breve, coisa para admirar porque outras terras maiores ainda não a tinham; dava-se também conta da vitória, num jogo amigável, entre a equipa da terra e a do Mourelo.

 - Em São Vicente iam realizar-se, nos dias 18, 19 e 20 as festas em honra do Santíssimo Sacramento, do Senhor Santo Cristo e de Nossa Senhora do Carmo; No dia 15 de Agosto tinha-se realizado “com grande fervor”, a festa em honra da nossa Padroeira: “… a imagem da «Senhora da Ordem» foi conduzida processionalmente até à Sua Capela. Subiu ao púlpito o Rev. Frei Crespo…”; estiveram em São Vicente, entre muitas outras pessoas, Amélia Rey Colaço Robles Monteiro e Mariana Rey Monteiro e filhos; esteve também a D. Aldina Caldeira com o marido e uma excursão, vinda de Lisboa, organizada pelo senhor Elias; estiveram na Vila os “montadores” do relógio novo para darem algumas instruções sobre o seu funcionamento e já havia quem tivesse contribuído para o seu “badalar”; no dia 21 de agosto a equipa de futebol “os Novatos de São Vicente da Beira” tinha ganhado à equipa da Partida (parece que pela primeira vez…); pelos “ Novatos” alinharam Chico, Martins (1 golo), Dias e Jaime, Nicolau e Ribeiro, L. Bruno, Quica (3 golos), Barroso, Inverno e Luís.

M.L. Ferreira


Nota: Há comentários novos na postagem anterior.

José Teodoro Prata

sábado, 1 de julho de 2023

Mãos

 O livro Alma da Terra, do Pedro Martins, é uma obra de arte que, para lá da beleza surpreendente das fotografias publicadas, nos faz sentir a impossibilidade de, mesmo com todos os sentidos bem apurados, observamos o mundo à nossa volta nos detalhes mais interessantes.

Esta, é uma das que elegeria, se tivesse que destacar alguma, talvez porque também é a única que apresenta o elemento humano.


É a fotografia das mãos do senhor Domingos, avô do Pedro Martins, quando tinha já 100 anos; tão iguais às dos avós de muitos de nós.

E fizeram-me lembrar o poema “As Mãos” do Manuel Alegre, principalmente nestes versos:

“Com as mãos se rasga o mar.

Com as mãos se lavra.

Não são de pedra estas casas,

Mas de mãos.

(…)  

E cravam-se no tempo como farpas

As mãos que vês nas coisas transformadas.”

Deve ser por isso que, com frequência, quando olho para tantas coisas à minha volta, me lembro ou ponho a imaginar as mãos calejadas dos artistas que as fizeram.

M.L. Ferreira

NOTA: O Pedro Martins é um fotojornalista, nascido no Vale de Figueiras

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Os nomes das nossas ruas

Terras de heróis anónimos. Quase sempre homens e mulheres de unhas encardidas e mãos calejadas assim que começavam a ser gente. Uma vida a trabalhar de sol a sol para tirar da terra o sustento dos muitos filhos que Deus lhes dava e tantas vezes lhes levava, mal eram postos no mundo ou no correr da infância, mortos de fome. A melhor fatia do que produziam mal dava para pagarem as rendas àqueles que, por uma ordem social e moral velha, que ninguém contestava, se diziam donos delas. Não ficaram para a História imortalizados no nome de uma rua ou de uma praça. É natural, não haveria ruas nem praças que chegassem para escrever os nomes de tanta gente.

Mas deixaram pegadas por todo o lado que são testemunhos da sua passagem por estas terras. Não precisamos de estender muito o olhar para descobrirmos a herança generosa que nos legaram. É por isso que, com frequência, sinto que os nomes das ruas e lugares das várias povoações da nossa freguesia, não sendo de gente ilustre, são memoriais ao trabalho heroico dos nossos antepassados, incluindo os nossos pais e avós, os que nos estão mais próximos.

Certamente porque a História e a Geografia, mas sobretudo o modo de vida, as necessidades, as ambições e as crenças são comuns, os nomes das ruas, repetem-se ou assemelham-se muitas vezes nas várias aldeias da Freguesia: Rua da Eira, Rua da Fonte, Rua do Forno, Rua do Lagar, Rua da Barroca, Ruas dos Olivais, Rua da Igreja… Constatei isso ao percorrê-las:

 

Casal da Serra

«A aldeia era uma rua inclinada de poente para nascente. Semelhava uma cobra rabiscada por mão de criança. Dela se separam algumas ruelas. Em maior número para norte. Para Sul apenas duas, porque o declive era abismal…» (Albano de Matos, em “A casa Grande”).

Esta rua chama-se agora Rua da Fonte. Registos antigos dizem que já se chamou Rua do Forno, por referência a um forno, propriedade da Casa Grande, gente rica, dona de quase todas as terras ali à roda. O forno era particular, mas, em alguns dias, estava ao serviço da população.

Dela, sobem agora a Rua do Forno, a Rua da Capela, a Rua da Barreira, a Rua da Barragem e a Rua do Lagar.

De todas, a Rua da Lagariça, também para norte, é a que melhor testemunha a presença humana, desde há muito tempo, naquele lugar. As lagariças eram pequenos lagares escavados na rocha, onde se espremiam as uvas e fazia o vinho de forma bastante simples. Terão existido muitas na região da Beira Baixa. Algumas desapareceram, mas as que restam são consideradas pontos de interesse para os locais onde se situam. A do Casal da Serra foi coberta por uma camada de cimento…

Para Sul, correm a Rua da Ribeira, a Rua da Graça e a Rua Da Eira.

Neste conjunto de casas, a construção mais pequena, ao centro, terá sido a primeira habitação da família Simão Candeias. Foi ali que, mais tarde, funcionou também a primeira escola do Casal da Serra.

 

A eira que dá nome à rua ainda existe, à direita das casas, e está capaz de receber uma malha. Assim haja trigo, centeio e cevada, e braços fortes para levantar o mangual.  

 

Paradanta


A origem do nome da povoação - pedra de anta, de acordo com informação do José Teodoro - sugere que o lugar será habitado desde há muito. Pouco mais que a Rua Principal, empoleirada na crista de uma elevação que corre no vale, de norte para sul. Meio escondida, surpreende quem por lá passa.

Nasceram-lhe outras duas, pequeninas, quase ao fundo: a Rua da Tapada, para oeste, e a Rua da Fonte, para leste. 

Até há relativamente poucos anos era esta fonte que abastecia a povoação. A água é tão boa, que mesmo quem já não mora na terra ainda lá vai bebê-la e levá-la para casa. O local, junto duma cascata na ribeira, vale uma visita, pela frescura da água e pela beleza e tranquilidade do lugar.

 

Vale de Figueiras

 

Conta-se que o primeiro habitante do Vale de Figueiras veio desterrado de longe por ter matado um pinto de uma mulher rica e avarenta. Já lá irão muitos anos, mas há quem afirme que ainda existem vestígios da casa onde viveu, perto da ribeira. Verdade ou não, as ruínas de algumas habitações e a arquitetura de outras que ainda se aguentam de pé, falam bem da antiguidade do Lugar. Infelizmente falam também do despovoamento.

 

  A justificar o nome da povoação estará o facto de ter nascido no vale da ribeira, num local onde cresceriam algumas figueiras. Trepou depois, encosta acima, como um presépio nos postais de natal; primeiro numa das margens, depois ao longo da outra (talvez nas duas ao mesmo tempo…).

Para além da Rua da Escola, a Rua da Capela, a Rua do Terreiro e a Rua da Ponte, passamos também pela Rua da Várzea, a Rua da Barroca e a Rua do Forno. Esta, que sobe a pique desde a ribeira até ao cimo do povo, já se chamou Rua da Eira, por, quase lá no topo, ter existido uma eira comunitária. O local está agora calcetado.

 

Pereiros

 

É também uma Rua Central, a mais antiga, por onde passavam os moradores do Mourelo ou do Violeiro quando vinham tratar das vidas a São Vicente. Corre o povo quase de Norte para Sul e nela nascem outras mais pequenas para ambos os lados: a Rua da Ribeira, a Rua do Forno, a Rua das Lameiras, a Rua do Barro, a Rua da Laje… todas a provocar a imaginação e a pedir que se contem as histórias de quem por lá andou.

De todas as ruas e recantos dos Pereiros o que mais me encantou foi o Pátio das Cancelas. Não encontrei quem me desse a razão deste nome, mas não custa imaginar que, em tempos passados, fechariam as entradas da povoação com cancelas para protegerem o gado que dormia nas lojas e currais, junto das casas, dos ataques dos lobos esfomeados. Era assim em muitas aldeias isoladas.

 

Foi numa destas casas, agora só paredes que mal se aguentam de pé, que funcionou a escola até aos anos 60 do século passado. Dizem que era uma sala acanhada, cheia de crianças sempre ansiosas pelo toque da campainha. Que animação a daquele Pátio na hora do recreio!

Esta casa, quase de brinquedo, é um exemplo de como se podem aproveitar estas construções antigas para passar uns dias a descansar. Evita-se a derrocada e as terras ficam mais lindas.

(Continua)

M. L. Ferreira 

domingo, 26 de junho de 2011

Vale de Figueiras

São bonitas as nossas aldeias de montanha: Casal da Serra, Paradanta e Vale de Figueiras.
A primeira aconchegada no colo da serra, a segunda estendida ao longo de um caminho de canseiras e a terceira metida num beco da montanha.
Sentado no penhasco do Castelo Velho, contei ao Ernesto Hipólito que visitara finalmente a única aldeia da freguesia que ainda não conhecia, Vale de Figueiras.
"Lá estás tu a dizer Vale de Figueiras. Já no blogue fazes a mesma coisa. É Vale de Figueira!"
De repente, alguém nos desviou a conversa para outro assunto e não concluímos este. Faço-o agora.
Primeiro, adorei conhecer o Vale de Figueiras. Da Partida, segue-se por um vale ribeirinho e de repente chegamos. É uma típica aldeia de montanha: vale estreito ajardinado por hortinhas bem cuidadas, casas alcantiladas nas encostas íngremes, o verde garrafa da vegetação salpicado pelo castanho das casas antigas e pelo branco das mais novas. Gente simpática, de cabelos loiros e olhos azuis. Perdeu-se aqui uma tribo de germanos, no seculo V! À entrada da povoação, termina o caminho fácil. Depois segue-se a pé ou de carro, mas com o credo na boca. O vale do ribeiro acaba um pouco mais à frente e por todos os lados a serra se empina. Caminhos bons para cabras e montanheses.
Vista dos meus enxidros, não se adivinham na serra encostas tão íngremes, para os lados da charneca. Pensava que só no Casal da Serra, do Cavaco para cima.
Segundo, o uso do plural no nome. Em toda a documentação em que tenho trabalhado, anterior a 1850, a povoação é sempre designada por Vale de Figueiras.
Tem lógica, pois o lugar tem as duas condições para ser abundante em figueiras: água com fartura e calor (o vento frio passa por cima). E haveria (há) muitas figueiras, pois uma não seria notícia neste nosso já sul mediterrânico.
Temo que a passagem do plural para o singular se deva a um lapso ou a uma decisão sem fundamento, como aconteceu recentemente com Cafede.
Sempre se escreveu Cafede, mas há anos o nome da povoação apareceu, nas placas das estradas, escrito com acento gráfico: Caféde. E pouco a pouco as pessoas interiorizaram que a palavra se escrevia assim e até os jornalistas da região passaram a escrever com acento. Agora já começam a emendar, mas as placas lá continuam, para baralhar.
E porque não leva acento agudo? Porque é uma palavra grave e estas não precisam de acento gráfico, para marcar a sílaba tónica, a que se lê com mais força. Há excepções, mas não para a palavra Cafede.

Nota: Estive em casa de uma sobrinha da Ti Mari´Zé Afonsa, daqui natural. Havia uma figueira enorme, que agora estará carregadinha de figos do Algarve.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Pedro Martins

É ainda jovem, mas o seu trabalho já extravasa o nosso país.
Fotógrafo freelancer, colabora com a National Geographic - Portugal e com o jornal El Mundo, entre muitas outras publicações.
Participou na criação da rota da Gardunha, sendo autor das imagens do livro "Geopark Naturtejo da Meseta Meridional - 600 milhões de anos em imagens".
Tem raízes no Vale de Figueiras e vive em Castelo Branco.
A sua exposição "Natureza das Paisagens" decorre na Sala da Nora - Cine-Teatro Avenida, em Castelo Branco, até final desta semana (dia 24).
Entre imagens de Monsanto, Espanha e Islândia, podemos admirar o seu torrão natal: a Praça de São Vicente, no crepúsculo da noite; o ribeiro da Senhora da Orada, no sítio da ponte de acesso à fonte; os bombos da Partida, na volta ritual à capela de São Tiago, em dia de romaria.



O endereço da sua página, na internet, é o: http://www.pmartins.net/
No seu blogue pessoal (www.pedrormartins.blogspot.com), podemos ver o filme desta exposição, nomeadamente as três imagens da nossa freguesia.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pneumónica 4

Conclusões
Apresentam-se algumas conclusões sobre a incidência da Gripe Pneumónica de 1918, na freguesia de São Vicente da Beira. Conclusões forçosamente parciais, pois o estudo ainda não está terminado.

1. A Gripe Pneumónica é a mesma que agora denominamos por Gripe A.

2. A Gripe Pneumónica atacou Portugal por três vagas: final da Primavera e início do Verão de 1918, Outono de 1918 e Inverno/Primavera de 1919, mas apenas a segunda provocou grande mortalidade.

3. A nível nacional, foi no mês de Outubro que se registou a maior mortalidade. Mas, na freguesia de S. Vicente da Beira, o mês de Novembro foi o mais mortífero.

4. A média dos óbitos de 1917-1919 foi de 4,8 mortes por mês, exceptuando os meses da Pneumónica, em que os óbitos subiram para 20, em Outubro, e 66, em Novembro.

5. Portugal Continental teve uma taxa de mortalidade de 1,08%, com um máximo de 7% em Benavente, Ribatejo. A freguesia de S. Vicente da Beira registou uma taxa de mortalidade de cerca de 2,40%, uma percentagem superior à média nacional.

6. A Gripe Pneumónica entrou na freguesia pelo Tripeiro, S. Vicente e Casal da Serra, povos onde se registaram mais óbitos, em Outubro. No mês seguinte, continuou a fustigar o Casal da Serra e S. Vicente, mas provocou enorme mortandade também na Partida. As restantes povoações, excepto o Tripeiro, a Paradanta e Pereiros, registaram poucas mortes.

7. Na época, S. Vicente, Partida e Casal da Serra eram as povoações maiores da freguesia (ver publicação “Curiosidade Demográfica”, do passado 31 de Outubro). Tal facto não justifica, só por si, uma maior mortalidade. Esta ter-se-á devido, também, ao facto de as pessoas estarem mais juntas e por isso transmitirem a gripe umas às outras, mais facilmente.

8. A Paradanta é a excepção que nos impede de concluir que a Gripe atacou as povoações maiores e localizadas em corredores viários. No entanto, este povo situa-se num corredor formado pelos vales de dois ribeiros, que eram locais de passagem. Um corre para oeste, para a Partida, onde, com outros, forma a Ribeira do Tripeiro, e o outro corre para nordeste, pelo Vale D´Urso e Castelejo.

9. O Vale de Figueiras não teve óbitos nestes meses, e o Violeiro e o Mourelo sofreram mortalidades muito aquém do que seria normal, em povos com da sua dimensão.

10. Durante a Gripe Pneumónica, as 10 camas do Hospital da Misericórdia só receberam doentes da Vila e a elite local não foi ali internada (terá pago consultas a domicílio). Desconhecemos se o internamento unicamente de pessoas de São Vicente se terá devido a uma proibição de deslocação de doentes ou se, simplesmente, os familiares optaram por não sujeitar os doentes a grandes deslocações, por falta de esperança na cura ou para não agravar o seu estado de saúde. A documentação do Hospital nada refere sobre uma proibição, interna ou externa, de internamento de doentes de fora da Vila.

11. Na povoação de São Vicente, o internamento no Hospital terá atenuado a mortalidade, pois dos 29 doentes ali internados com Gripe Pneumónica, apenas 4 faleceram. A excepção terá sido Maria de Jesus Hipólito, esposa do enfermeiro do Hospital, que possivelmente contraiu o vírus através do seu marido.

12. Em 1918, o único cemitério da freguesia era o de São Vicente, certamente sem capacidade para receber tantos mortos. Sabemos que, no Casal da Serra, foram sepultados num terreno à esquerda da antiga capela, localizada no início da Rua da Lagariça. Situações semelhantes terão ocorrido noutros povos.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Dia de Portugal...


A artista Luci Bento, natural do Vale de Figueiras e a viver, actualmente, na Partida, é um dos 10 finalistas ao concurso “Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa”.
No dia 8 de Junho, estará no Museu do Oriente, em Lisboa, onde participa num encontro entre candidatos finalistas vindos dos vários pontos do globo, entidades oficiais e empresas. As actividades serão encerradas pelo Senhor Presidente da República.
Depois segue para o Algarve, integrada na comitiva das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, este ano realizadas na cidade de Faro. No dia 10 de Junho, pela televisão, saberemos se foi uma das vencedoras.
Boa Sorte!

Nota: A imagem acima apresentada é um pormenor de uma fotografia tirada pelo Pe. José Leitão, numa exposição de pintura da artista, realizada em S. Tiago, Partida. A foto já foi publicada nos Enxidros e nela estão, além de Luci Bento, o Pe. Branco e os presidentes da Câmara e da Junta.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Os Museus de Luci Bento


As bonecas de Luci Bento

Toda a vida de Luci Bento é norteada pela concretização de um objectivo: a realização pessoal, o fazer aquilo de que gosta, que lhe dá prazer. Afinal, que melhor definição para uma artista?
Divide-se entre a Suiça e Portugal, as raízes e o país que lhe deu a oportunidade de descobrir a artista que vivia dentro de si.
Passa agora mais tempo entre nós e já se vêem os frutos dos seus projectos. As casas reconstruídas na Partida e no Vale de Figueiras destinam-se a expôr o produto do seu trabalho: as pinturas, as bonecas e as antiguidades.
Quer deixar aos netos as coisas que os avós usavam, para que eles percebam como foram esses tempos passados. Por isso, defende que nada se deite fora.
Uma mulher com três projectos: um Museu das Antiguidades, um Museu de Bonecas (tem cerca de 3 mil, muitas feitas por si) e um Museu da Pintura (a sua).
O seus quadros e as suas bonecas são os frutos do seu trabalho, já reconhecido internacionalmente. As antiguidades são as suas raízes.
Temos pedalada para esta mulher? Vão as associações, os poderes e a sociedade saber aproveitar aquilo que tão generosamente nos oferece? Oxalá!


Luci Bento e as suas velharias

Notas:
1. Fonte: Jornal Povo da Beira
2. Escrevo Vale de Figueiras, pois era esse o nome da povoação. Só recentemente, por erro de alguém, é que a passaram a denominar Vale de Figueira.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Luci Bento




Luci Bento (Lucília Maria Bento) é natural do Vale de Figueiras, mas reside na Suíça.
No seu ateliê, em Lausanne, crianças de várias nacionalidades descobrem o artista que há dentro de si. Luci Bento não lhes ensina pintura, ensina-os a pintar: «...mergulha imediatamente os pequenos no banho da pintura, fornecendo-lhes todo o material de que necessitam.»
São os trabalhos dos seus pequenos pintores que podemos admirar, em Castelo Branco, na Sala da Nora, até ao fim de Janeiro.