Tradicionalmente,
os preparativos para o Natal em São Vicente da Beira iniciam-se algum tempo
antes do dia 25 de Dezembro.
Os jovens que vão
à inspeção militar reúnem-se ao som de uma corneta, e munidos de imensa força,
coragem e ajuda de algumas máquinas, procuram nos pinhais e vales da Serra da
Gardunha, os melhores e maiores madeiros para acenderem a fogueira. O que
acontecerá no dia 24, antes da Missa do Galo.
A Missa é
celebrada à meia noite, mas, durante o dia e antes da ida à Missa, há que
preparar a Consoada e a Ceia de Natal.
É preciso amassar
as filhóses, deixá-las levedar e depois fritá-las à lareira, acesa com lenha de
oliveira, onde são colocadas as trempes e sobre elas a caldeira com o azeite ou
óleo. As filhoses são tendidas no joelho e ao fritar são viradas com espetos
feitos de paus de esteva.
Aproveitando o
calor da lareira, está uma panela de ferro com água, onde serão cozidas as
couves, as batatas e o bacalhau, que são servidos regados com o fino azeite e
acompanhados com o bom vinho da região.
Depois da
Consoada, vai-se à Missa, onde, no final, o Senhor Vigário dá o Menino Jesus a
beijar. Enquanto os vicentinos, e não só, cantam os cânticos de Natal.
Da vara, nasceu a
vara.
Da vara, nasceu a
flor.
Da flor, nasceu
Maria.
De Maria, o
Redentor.
Alegrem-se os céus
e a terra.
Cantamos com
alegria.
Que já nasceu o
Menino.
Filho da Virgem
Maria.
Ó meu Menino Jesus.
Ó meu Menino tão
belo.
Logo vieste
nascer.
Na noite do
caramelo.
Um
entre muitos outros cânticos, que continuam a ser cantados junto à enorme
fogueira, acesa no centro da Praça.
No regresso a casa
é a Ceia. Faz-se o gró, (chá com aguardente), comem-se as filhoses, as fatias
douradas e outras iguarias tradicionais nesta época.
Na manhã seguinte,
os mais novos procuram, junto à chaminé, os presentes que o Menino Jesus deixou
em cada sapatinho.
Ao longo dos anos,
algumas tradições foram-se renovando e/ou alterando, mas o espírito natalício e
a união familiar, mantêm-se vivos entre os vicentinos. Sempre!
M.ª da
Luz Candeias
Nota: Texto publicado no livro "São Vicente da Beira - Vila Medieval", de Maria do Carmo Prata, 2001