Há oito dias, vésperas das eleições autárquicas, fui surpreendido com a ausência do Vitor Louro da lista do Partido Socialista.
Ele integra a equipa que guiou os destinos da nossa freguesia, nestes últimos quatro anos.
A minha primeira reacção foi escrever aqui o quanto lamentava a sua saída, mas decidi esperar até falar com ele.
Encontrei-o hoje e soube que as razões são do domínio da dignidade e da verticalidade.
Mais lamento a sua saída, mas também a acho mais natural, pois é bom não perdermos a dignidade e a verticalidade. Elas não têm preço!
O Vitor é um dos melhores da minha geração. Muito inteligente, com um sentido crítico desarmante, sem ser ofensivo, e uma enorme sensibilidade para as questões sociais.
Recordo uma conversa que tivemos após as eleições de há quatro anos. A preocupação que ele revelava em ajudar a resolver os problemas concretos das pessoas, mesmo das que tinham apoiado a lista adversária.
É uma sorte para S. Vicente ter o Vitor a residir na nossa terra, ele que a adoptou como sua. E é um desperdício não aproveitar todo o seu podencial intelectual e humano!
Um abraço para ele.
Nota: Não vale especular sobre esta publicação. A minha conversa com o Vitor durou um minuto. Fiquei a saber o essencial, apenas, e chegou-me. Segundas leituras, nem eu tenho dados para as fazer, não tenho de ter, nem interessam.
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
sábado, 17 de outubro de 2009
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Experiência Autárquica
As eleições para a Assembleia de Freguesia trouxeram-me à lembrança a minha experiência autárquica.
Estávamos no início da década de 80 e a lista ganhadora era a do PSD+CDS, encabeçada pelo Ernesto Hipólito, pois o Francisco Alves, anterior Presidente da Junta, candidatava-se à Câmara.
Eu concorri pela APU, antiga CDU, tentando juntar numa única lista os votantes da UDP, de que eu saíra recentemente, e do Partido Comunista. Elegemos dois elementos, eu e o Sr. Artur, o taxista de S. Vicente, naqueles tempos.
No primeiro ano, procurei cumprir as minhas obrigações de representante do povo: falava com as pessoas e levava as suas propostas às reuniões da Assembleia de Freguesia.
Num desses encontros, em casa do Sr. Adriano, na Rua de S. Sebastião, fiquei a saber que, em pleno Verão Quente de 1975, só não levara uma sova à porta do Barracão porque era filho do meu pai.
Havia uma reunião de pessoas de S. Vicente com funcionários do Ministério da Agricultura, a fim de tratar da criação de uma cooperativa para explorar o cabeço do Padre Teodoro. Mas outras pessoas estavam interessadas na divisão do terreno em lotes, para cultivo individual. Essas foram à reunião e boicotaram-na antes de começar. E eu, que fora arregimentar alguns amigos para irmos apoiar a Reforma Agrária, só cheguei a tempo de cobrir de insultos os reaccionários. Valeu-me ser filho do povo, como se dizia nesse tempo do PREC.
Mas voltemos à Assembleia de Freguesia. Na reunião de Setembro, o jovem Tó Zé(António José Macedo) do Caldeira, então funcionário do Partido Comunista, pediu-me para apresentar à Assembleia uma moção contra as armas nucleares. Falou comigo, mas não com o Sr. Artur. Eu é que o informei da proposta do Partido, minutos antes da reunião, sentados no Pelourinho.
Apresentei a moção e fez-se a votação: 1 voto a favor (o meu), 1 contra (do Sr. Artur) e os restantes abstiveram-se. A moção não foi aprovada.
No final da reunião, o Tó Zé nem queria acreditar. O Sr. Artur, militante do Partido Comunista, não ia em pacifismos, mesmo que retóricos, e queria era uma URSS forte, para enfrentar o Mundo Capitalista!
Em finais de Dezembro, fez-se a reunião de balanço de um ano de mandato da Junta de Freguesia.
Não sei se li algures ou se me disseram, mas cheguei e pedi o relatório e contas do ano que terminava. O Presidente da Junta, o meu amigo Ernesto Hipólito, olhou-me com sincera surpresa, pelo pedido que eu acabava de fazer, pegou no dossier de facturas e outros papéis e passou-mo para as mãos. Eu folheei-o e, como não sabia o que fazer com ele, devolvi-lho, sem mais. Estava feito o balanço, com base na confiança mútua. Assim aprendemos a viver em democracia!
No ano seguinte, as coisas complicaram-se para mim. Fixara residência no concelho de Vila de Rei e, quando vinha de fim de semana, ficava em Cebolais de Cima e pouco vinha a S. Vicente. Perdi o contacto com a realidade local e faltei a algumas reuniões. Pedi para ser substituído, mas a CDU nunca o fez, não percebi porquê.
Assim acabou a minha experiência autárquica, sem honra nem glória. Mas não deixou de ser uma experiência positiva, que me trouxe alguns ensinamentos valiosos.
Estávamos no início da década de 80 e a lista ganhadora era a do PSD+CDS, encabeçada pelo Ernesto Hipólito, pois o Francisco Alves, anterior Presidente da Junta, candidatava-se à Câmara.
Eu concorri pela APU, antiga CDU, tentando juntar numa única lista os votantes da UDP, de que eu saíra recentemente, e do Partido Comunista. Elegemos dois elementos, eu e o Sr. Artur, o taxista de S. Vicente, naqueles tempos.
No primeiro ano, procurei cumprir as minhas obrigações de representante do povo: falava com as pessoas e levava as suas propostas às reuniões da Assembleia de Freguesia.
Num desses encontros, em casa do Sr. Adriano, na Rua de S. Sebastião, fiquei a saber que, em pleno Verão Quente de 1975, só não levara uma sova à porta do Barracão porque era filho do meu pai.
Havia uma reunião de pessoas de S. Vicente com funcionários do Ministério da Agricultura, a fim de tratar da criação de uma cooperativa para explorar o cabeço do Padre Teodoro. Mas outras pessoas estavam interessadas na divisão do terreno em lotes, para cultivo individual. Essas foram à reunião e boicotaram-na antes de começar. E eu, que fora arregimentar alguns amigos para irmos apoiar a Reforma Agrária, só cheguei a tempo de cobrir de insultos os reaccionários. Valeu-me ser filho do povo, como se dizia nesse tempo do PREC.
Mas voltemos à Assembleia de Freguesia. Na reunião de Setembro, o jovem Tó Zé(António José Macedo) do Caldeira, então funcionário do Partido Comunista, pediu-me para apresentar à Assembleia uma moção contra as armas nucleares. Falou comigo, mas não com o Sr. Artur. Eu é que o informei da proposta do Partido, minutos antes da reunião, sentados no Pelourinho.
Apresentei a moção e fez-se a votação: 1 voto a favor (o meu), 1 contra (do Sr. Artur) e os restantes abstiveram-se. A moção não foi aprovada.
No final da reunião, o Tó Zé nem queria acreditar. O Sr. Artur, militante do Partido Comunista, não ia em pacifismos, mesmo que retóricos, e queria era uma URSS forte, para enfrentar o Mundo Capitalista!
Em finais de Dezembro, fez-se a reunião de balanço de um ano de mandato da Junta de Freguesia.
Não sei se li algures ou se me disseram, mas cheguei e pedi o relatório e contas do ano que terminava. O Presidente da Junta, o meu amigo Ernesto Hipólito, olhou-me com sincera surpresa, pelo pedido que eu acabava de fazer, pegou no dossier de facturas e outros papéis e passou-mo para as mãos. Eu folheei-o e, como não sabia o que fazer com ele, devolvi-lho, sem mais. Estava feito o balanço, com base na confiança mútua. Assim aprendemos a viver em democracia!
No ano seguinte, as coisas complicaram-se para mim. Fixara residência no concelho de Vila de Rei e, quando vinha de fim de semana, ficava em Cebolais de Cima e pouco vinha a S. Vicente. Perdi o contacto com a realidade local e faltei a algumas reuniões. Pedi para ser substituído, mas a CDU nunca o fez, não percebi porquê.
Assim acabou a minha experiência autárquica, sem honra nem glória. Mas não deixou de ser uma experiência positiva, que me trouxe alguns ensinamentos valiosos.
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terça-feira, 13 de outubro de 2009
Eleições Autárquicas
Assembleia de Freguesia
Resultados:
PS: 541 votos (57,01%) - 6 mandatos
PSD: 355 (37,41%) - 3 mandatos
Eleitores inscritos: 1.605
Votantes: 949 (59,13%)
Nota: Os três primeiros da lista do PS saem da Assembleia de Freguesia e formam a Junta de Freguesia, sendo substituídos pelas pessoas que ocupam as posições 7.ª, 8.ª e 9.ª da mesma lista.
Fonte: www.noticias.rtp.pt
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sábado, 10 de outubro de 2009
Canuto
O Paulo Duarte Almeida, autor do comentário na publicação “Gosto de figos”, de 10 de Setembro, diz-se descendente de João Leitão Canuto, que viveu em finais do século XVIII e inícios do século XIX, referido na publicação “Invasões Francesas 5”, de 26 de Setembro.
É filho de Maria de Jesus e de Francisco Nicolau. Mas este Francisco Nicolau não é cunhado do P.e Jerónimo, como eu julguei, na resposta ao comentário do Paulo.
A sua mãe era irmã de Basílio Moreira, casado com Maria Libânia, uma das irmãs do P.e Branco.
A minha tia Maria de Jesus Nicolau, casada com João Teodoro, o irmão do meu pai, era sua tia-avó.
A genealogia de Maria de Jesus, a mãe do Paulo Almeida, pode ser consultada no site de genealogias: http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=280140.
Neste site, existem informações sobre outras famílias da nossa terra.
Também a obra em três volumes “Famílias da Beira Baixa”, de Manuel da Silva Rolão, recentemente editada e que pode ser consultada, pelo menos, na Biblioteca Municipal de Castelo Branco e na Torre do Tombo, em Lisboa, tem inúmeras referências a famílias de S. Vicente da Beira.
É filho de Maria de Jesus e de Francisco Nicolau. Mas este Francisco Nicolau não é cunhado do P.e Jerónimo, como eu julguei, na resposta ao comentário do Paulo.
A sua mãe era irmã de Basílio Moreira, casado com Maria Libânia, uma das irmãs do P.e Branco.
A minha tia Maria de Jesus Nicolau, casada com João Teodoro, o irmão do meu pai, era sua tia-avó.
A genealogia de Maria de Jesus, a mãe do Paulo Almeida, pode ser consultada no site de genealogias: http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=280140.
Neste site, existem informações sobre outras famílias da nossa terra.
Também a obra em três volumes “Famílias da Beira Baixa”, de Manuel da Silva Rolão, recentemente editada e que pode ser consultada, pelo menos, na Biblioteca Municipal de Castelo Branco e na Torre do Tombo, em Lisboa, tem inúmeras referências a famílias de S. Vicente da Beira.
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sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Autárquicas 2009
Depois de amanhã, domingo, na freguesia de S. Vicente da Beira, defrontam-se duas listas encabeçadas por homens já experientes na política.
Pelo PS, recandidata-se o actual Presidente da Junta de Freguesia, João Benevides Prata. Concorre ao terceiro mandato.
Depois dos anos passados em Castelo Branco, como professor na Escola Secundária Amato Lusitano, a qual dirigiu durante vários mandatos, regressou à sua terra para instalar a Escola Básica Integrada, ele que já dirigira o processo da sua criação.
Reformou-se das lides escolares e virou-se para as autárquicas.
Pelo PSD, concorre Francisco Alves. Não é um novato nestas andanças. No final da década de 70, presidiu à Junta de Freguesia, que depois trocou pela vereação na Câmara Municipal, integrando a equipa de César Vila Franca, no início dos anos 80.
É engenheiro de formação e reformado da Portucel - Vila Velha de Ródão.
Vive em Castelo Branco, mas continua intimamente ligado a S. Vicente, pela família e pelo saudável vício da agricultura.
Que ganhe o melhor!
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sábado, 3 de outubro de 2009
Invasões Francesas 7
A guerrilha dos populares na Estrada Nova
Notas prévias:
1. Devem consultar-se as imagens das publicações de 26 de Setembro (Invasões francesas 5) e de 3 de Setembro (Estrada Nova), a fim de perceber melhor esta publicação.
2. Ontem, sexta-feira, foi publicada a primeira parte da presente publicação.
Em 2008, os meus alunos recolheram, junto dos seus familiares, as histórias das invasões francesas que ainda persistem na nossa tradição oral. Duas delas eram relativas às lutas dos povos dos lugares próximos da Estrada Nova contra os contingentes franceses que por lá passavam.
O professor e maestro Carlos Dias Gama, natural de Bogas de Baixo, mas descendente dos Gamas do Maxial da Ladeira, contou assim ao seu filho Luís:
«Chegou ao Maxial da Ladeira a notícia de que um pelotão de franceses vinha dos lados do Fundão e seguiria a Estrada Nova até Abrantes.
Se imediato se organizou a resistência, liderada por alguns habitantes do Maxial que pediram às aldeias vizinhas toda a gente disponível. Juntaram-se mais de 1 000 homens.
Durante dois dias e duas noites, fizeram uma armadilha que consistiu na abertura de um fosso profundo e comprido, no caminho por onde iriam passar os franceses. Depois cobriram-no com traves de madeira e mato e finalmente reconstituíram o caminho com terra, voltando a ficar como dantes, mas com o fosso por baixo. Quando os franceses ali passaram, enfiaram-se no buraco com carros e cavalos e poucos se salvaram.»
A narrativa continua, em duas versões. Numa, a esposa de um oficial morto casou com um dos chefes da resistência, Manuel Joaquim Gama, tetravô do meu aluno Luís Gama.
Na segunda versão, não há casamento, mas as riquezas dos franceses foram divididas pelos chefes da resistência, tendo Manuel Joaquim Gama ficado com muitas moedas de ouro. Com esse dinheiro se fez a casa da família Gama, em Bogas de Baixo.
O texto termina com a informação de que são descendentes deste Manuel Joaquim Gama muitas pessoas de apelido Gama a viver no distrito de Castelo Branco, incluindo os Gamas de S. Vicente da Beira.
Alberto e Engrácia Antunes da Foz do Giraldo contaram à sua neta, Marisa Santos:
«Ainda hoje se podem ver buracos no solo dum caminho, nos arredores da Foz do Giraldo, que antigamente eram bastante profundos, com estacas afiadas e tapados no topo por ramos, muito bem disfarçados. Quando os cavaleiros franceses passassem no Vale da Aveleira, cairiam nos buracos».
Estes dois testemunhos da tradição oral dos povos da Gardunha referem-se possivelmente ao ataque à coluna do General Foy, o regimento 30, a 1 de Fevereiro de 1811, coordenado pelo Tenente-Coronel Grant. Este, na sua carta de 4 de Fevereiro, informou que a luta se travou no espaço de 4 léguas, sensivelmente a distância da Enxabarda à Foz do Giraldo, e, na carta de 2 de Fevereiro, escreveu que mandou picar a frente e a retaguarda da coluna militar inimiga, mas que só tinha com ele 80 ordenanças de Alpedrinha. Ora 80 militares eram insuficientes para atacar e vencer uma coluna militar, numa extensão de mais de 20 quilómetros.
É provável que, nesta luta de guerrilha de 1 de Fevereiro, tenham participado homens dos lugares da freguesia de S. Vicente da Beira mais próximos da Estrada Nova: Paradanta, Partida, Vale de Figueiras e Violeiro. Se se arrebanharam os homens dos povos da vertente norte da Gardunha, para atacar os franceses, é normal que o mesmo se tenha feito nos povos da vertente sul.
Quanto à participação das nossas ordenanças, isso é mais duvidoso, por três razões: elas eram comandadas pelos mais poderosos do concelho e estes raramente gostam (em todos os tempos) de correr riscos; não se conhecem referências à sua participação, nos documentos da época; a nível nacional, esta luta de guerrilha contra os franceses teve quase sempre um cariz popular, embora geralmente o comando pertencesse a poderosos locais, nomeadamente clérigos.
Notas prévias:
1. Devem consultar-se as imagens das publicações de 26 de Setembro (Invasões francesas 5) e de 3 de Setembro (Estrada Nova), a fim de perceber melhor esta publicação.
2. Ontem, sexta-feira, foi publicada a primeira parte da presente publicação.
Em 2008, os meus alunos recolheram, junto dos seus familiares, as histórias das invasões francesas que ainda persistem na nossa tradição oral. Duas delas eram relativas às lutas dos povos dos lugares próximos da Estrada Nova contra os contingentes franceses que por lá passavam.
O professor e maestro Carlos Dias Gama, natural de Bogas de Baixo, mas descendente dos Gamas do Maxial da Ladeira, contou assim ao seu filho Luís:
«Chegou ao Maxial da Ladeira a notícia de que um pelotão de franceses vinha dos lados do Fundão e seguiria a Estrada Nova até Abrantes.
Se imediato se organizou a resistência, liderada por alguns habitantes do Maxial que pediram às aldeias vizinhas toda a gente disponível. Juntaram-se mais de 1 000 homens.
Durante dois dias e duas noites, fizeram uma armadilha que consistiu na abertura de um fosso profundo e comprido, no caminho por onde iriam passar os franceses. Depois cobriram-no com traves de madeira e mato e finalmente reconstituíram o caminho com terra, voltando a ficar como dantes, mas com o fosso por baixo. Quando os franceses ali passaram, enfiaram-se no buraco com carros e cavalos e poucos se salvaram.»
A narrativa continua, em duas versões. Numa, a esposa de um oficial morto casou com um dos chefes da resistência, Manuel Joaquim Gama, tetravô do meu aluno Luís Gama.
Na segunda versão, não há casamento, mas as riquezas dos franceses foram divididas pelos chefes da resistência, tendo Manuel Joaquim Gama ficado com muitas moedas de ouro. Com esse dinheiro se fez a casa da família Gama, em Bogas de Baixo.
O texto termina com a informação de que são descendentes deste Manuel Joaquim Gama muitas pessoas de apelido Gama a viver no distrito de Castelo Branco, incluindo os Gamas de S. Vicente da Beira.
Alberto e Engrácia Antunes da Foz do Giraldo contaram à sua neta, Marisa Santos:
«Ainda hoje se podem ver buracos no solo dum caminho, nos arredores da Foz do Giraldo, que antigamente eram bastante profundos, com estacas afiadas e tapados no topo por ramos, muito bem disfarçados. Quando os cavaleiros franceses passassem no Vale da Aveleira, cairiam nos buracos».
Estes dois testemunhos da tradição oral dos povos da Gardunha referem-se possivelmente ao ataque à coluna do General Foy, o regimento 30, a 1 de Fevereiro de 1811, coordenado pelo Tenente-Coronel Grant. Este, na sua carta de 4 de Fevereiro, informou que a luta se travou no espaço de 4 léguas, sensivelmente a distância da Enxabarda à Foz do Giraldo, e, na carta de 2 de Fevereiro, escreveu que mandou picar a frente e a retaguarda da coluna militar inimiga, mas que só tinha com ele 80 ordenanças de Alpedrinha. Ora 80 militares eram insuficientes para atacar e vencer uma coluna militar, numa extensão de mais de 20 quilómetros.
É provável que, nesta luta de guerrilha de 1 de Fevereiro, tenham participado homens dos lugares da freguesia de S. Vicente da Beira mais próximos da Estrada Nova: Paradanta, Partida, Vale de Figueiras e Violeiro. Se se arrebanharam os homens dos povos da vertente norte da Gardunha, para atacar os franceses, é normal que o mesmo se tenha feito nos povos da vertente sul.
Quanto à participação das nossas ordenanças, isso é mais duvidoso, por três razões: elas eram comandadas pelos mais poderosos do concelho e estes raramente gostam (em todos os tempos) de correr riscos; não se conhecem referências à sua participação, nos documentos da época; a nível nacional, esta luta de guerrilha contra os franceses teve quase sempre um cariz popular, embora geralmente o comando pertencesse a poderosos locais, nomeadamente clérigos.
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sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Invasões Francesas 6
A guerrilha do Tenente-Coronel Grant
Notas prévias:
1. Devem consultar-se as imagens das publicações de 26 de Setembro (Invasões francesas 5) e de 3 de Setembro (Estrada Nova), a fim de perceber melhor esta publicação.
2. Amanhã, sábado, será publicada a conclusão da presente publicação.
Durante a terceira invasão francesa, o Regimento 30 do Exército Francês, comandado pelo General Foy, passou pela Estrada Nova, em direcção ao Ribatejo e à Estremadura, a fim de ajudar Massena a transpor as Linhas de Torres.
O ambiente no Reino de Portugal era então de sublevação total contra os franceses. O grosso do exército anglo-luso encontrava-se a defender as Linhas de Torres, mas o Tenente-Coronel Grant permanecia na retaguarda, com a missão de dificultar a chegada de reforços ao Exército Francês, que se encontrava num impasse, sem capacidade de abrir caminho para Lisboa.
Segue-se a transcrição de duas cartas do Tenente-Coronel Grant, nas quais relata o ataque de 1 de Fevereiro de 1811 à coluna militar do General Foy, na Estrada Nova.
Carta do Tenente-Coronel J. Grant ao coronel D´Urban. Enxabarda, 2 de Fevereiro de 1811:
«Sede servido referir a S. Ex.ª o comandante em chefe que ontem uma coluna do inimigo, debaixo do comando do General Foy, consistindo em três mil cavalos e infantes de Ciudad Rodrigo, passou pela Estrada Nova, para se unir a Massena. Pernoitou aos 31, em Alcaria, junto do Fundão.
No 1.º deste mês tomei posto em um outeiro junto a esta aldeia, por onde o inimigo devia passar, tendo comigo oitenta ordenanças de Alpedrinha. Fez-se-lhe um bem dirigido fogo por duas horas e terminou somente com a noite.
O resultado foi dezoito mortos na estrada, grande número de feridos e dez prisioneiros. Vários feridos acharam-se mortos esta manhã pela extrema inclemência do tempo.
Também se tomaram diversos carros de trigo e considerável número de bois.
Tendo mandado partidas para picar a frente e a retaguarda do inimigo, tenho razão para pensar que ele deve ter sofrido consideravelmente antes de deixar a estrada nova.
Nós perdemos somente um homem, com poucos cavalos feridos, entre eles o meu.»
Carta do Tenente-Coronel L Grant ao Coronel D´Urban. Fundão, 4 de Fevereiro de 1811:
«Tende a bondade de referir a S. Ex.ª o marechal, que o resultado da acção do 1.º do corrente, junto à Enxabarda, foi mais completo do que eu ao princípio referi.
Acharam-se mortos duzentos e sete do inimigo, aos 2 do corrente, no espaço de quatro léguas, parte dos quais morreu em consequência das feridas e da inclemência do tempo. Estão também em meu poder dezoito prisioneiros (…).
Tenho também que dizer que o coronel do regimento francês 30 e o quartel mestre do mesmo regimento foram achados entre os mortos. O inimigo perdeu a maior parte da sua bagagem e gado.»
Cartas publicadas em Apontamentos para a História do Concelho do Fundão, de José Germano da Cunha, Lisboa, 1892, páginas 87 a 89. O autor extraiu as cartas de Claudio Chaby, Excerptos históricos e collecção de documentos relativos á guerra denominada da península.
Notas prévias:
1. Devem consultar-se as imagens das publicações de 26 de Setembro (Invasões francesas 5) e de 3 de Setembro (Estrada Nova), a fim de perceber melhor esta publicação.
2. Amanhã, sábado, será publicada a conclusão da presente publicação.
Durante a terceira invasão francesa, o Regimento 30 do Exército Francês, comandado pelo General Foy, passou pela Estrada Nova, em direcção ao Ribatejo e à Estremadura, a fim de ajudar Massena a transpor as Linhas de Torres.
O ambiente no Reino de Portugal era então de sublevação total contra os franceses. O grosso do exército anglo-luso encontrava-se a defender as Linhas de Torres, mas o Tenente-Coronel Grant permanecia na retaguarda, com a missão de dificultar a chegada de reforços ao Exército Francês, que se encontrava num impasse, sem capacidade de abrir caminho para Lisboa.
Segue-se a transcrição de duas cartas do Tenente-Coronel Grant, nas quais relata o ataque de 1 de Fevereiro de 1811 à coluna militar do General Foy, na Estrada Nova.
Carta do Tenente-Coronel J. Grant ao coronel D´Urban. Enxabarda, 2 de Fevereiro de 1811:
«Sede servido referir a S. Ex.ª o comandante em chefe que ontem uma coluna do inimigo, debaixo do comando do General Foy, consistindo em três mil cavalos e infantes de Ciudad Rodrigo, passou pela Estrada Nova, para se unir a Massena. Pernoitou aos 31, em Alcaria, junto do Fundão.
No 1.º deste mês tomei posto em um outeiro junto a esta aldeia, por onde o inimigo devia passar, tendo comigo oitenta ordenanças de Alpedrinha. Fez-se-lhe um bem dirigido fogo por duas horas e terminou somente com a noite.
O resultado foi dezoito mortos na estrada, grande número de feridos e dez prisioneiros. Vários feridos acharam-se mortos esta manhã pela extrema inclemência do tempo.
Também se tomaram diversos carros de trigo e considerável número de bois.
Tendo mandado partidas para picar a frente e a retaguarda do inimigo, tenho razão para pensar que ele deve ter sofrido consideravelmente antes de deixar a estrada nova.
Nós perdemos somente um homem, com poucos cavalos feridos, entre eles o meu.»
Carta do Tenente-Coronel L Grant ao Coronel D´Urban. Fundão, 4 de Fevereiro de 1811:
«Tende a bondade de referir a S. Ex.ª o marechal, que o resultado da acção do 1.º do corrente, junto à Enxabarda, foi mais completo do que eu ao princípio referi.
Acharam-se mortos duzentos e sete do inimigo, aos 2 do corrente, no espaço de quatro léguas, parte dos quais morreu em consequência das feridas e da inclemência do tempo. Estão também em meu poder dezoito prisioneiros (…).
Tenho também que dizer que o coronel do regimento francês 30 e o quartel mestre do mesmo regimento foram achados entre os mortos. O inimigo perdeu a maior parte da sua bagagem e gado.»
Cartas publicadas em Apontamentos para a História do Concelho do Fundão, de José Germano da Cunha, Lisboa, 1892, páginas 87 a 89. O autor extraiu as cartas de Claudio Chaby, Excerptos históricos e collecção de documentos relativos á guerra denominada da península.
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