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quinta-feira, 17 de março de 2016

Replantação



Já foram plantadas novas árvores na Estrada Nova, a substituir as que se cortaram no outono. 

Maria da Luz Teodoro

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A emboscada na Enxabarda


Aquele entardecer invernoso foi um dos momentos mais traumáticos vividos pelo exército francês, em Portugal. Muitos anos mais tarde, quando uma emigrante da Enxabarda se apresentou, para o serviço doméstico, na casa de um alto oficial francês, ele exclamou: “Enxabarda, a terra por onde os franceses tanto temiam passar!”.
Fez precisamente 200 anos, no passado dia 1 de fevereiro. O recontro militar da Enxabarda foi um episódio da 3.ª Invasão francesa. As tropas do General Massena venceram Almeida, passaram o Buçaco e desceram para Lisboa. Mas, na zona de Torres Vedras, foram travadas pelas famosas Linhas de Torres, fortificações militares em todos os pontos altos, entre o mar e o Tejo, prontas a metralhar os franceses na sua passagem pelos caminhos dos vales.
Massena sabia o que o esperava e não ousou avançar. Pediu reforços à retaguarda e de Ciudad Rodrigo veio em seu socorro o Regimento 30, composto por 3.000 cavaleiros e infantes, sob o comando do General Foy.
Atalhou caminho pela Estrada Nova, o percurso mais curto para o Ribatejo e a Estremadura, pelo Sabugal, Fundão e Abrantes. A Estrada Nova era de facto nova, nesse ano de 1811. Mandara-a construir o Marquês de Alorna, comandante militar da Beira, em 1801, durante a Guerra das Laranjas, travada contra o exército franco-espanhol. Ligava Cardigos à Enxabarda, pela Isna, Estreito, Foz do Giraldo, Alto do Ingarnal, sempre pelos cumes da Gardunha, até à Eira dos Três Termos (acima do Vale de Figueiras), onde descia para a Enxabarda. Daqui para o Fundão já havia estrada, tal como entre Abrantes e Cardigos.
Mas a notícia da passagem dos franceses chegou à Gardunha mais depressa do que o regimento. O Tenente-Coronel Grant, oficial inglês do exército luso-britânico, avançou para a serra apenas com 80 ordenanças de Alpedrinha. Na Enxabarda, preparou uma emboscada ao regimento francês. Vieram juntar-se-lhe centenas(milhares?) de populares dos povos das encostas da Gardunha. Entre a Enxabarda e a Foz do Giraldo, cavaram fossos na estrada, logo disfarçados com paus, mato e terra. Nalguns, colocaram estacas afiadas, no fundo.
As tropas francesas chegaram cerca das 4 horas da tarde e foram surpreendidas por um cerrado fogo dos portugueses escondidos atrás das moitas. Tiros, correrias, sofrimento, morte. A batalha só terminou quando a noite tudo envolveu no seu manto negro.
Ao amanhecer, fez-se o balanço: 207 franceses mortos, muitos deles ao longo da noite, dos ferimentos e de frio; 18 prisioneiros; bagagens; bois e carros de trigo. Longe das vistas do oficial inglês, os populares apoderaram-se de tudo o que lhes veio à mão. Contam-se histórias de um tesouro francês que fez a fortuna dos Gama do Maxial da Ladeira.

Notas:
Esta síntese foi elaborada a partir de documentos já apresentados nas seguintes publicações: “Estrada Nova” de 3 de Setembro de 2009; “Invasões Francesas 6” de 2 de Outubro de 2009; “Invasões Francesas 7” de 3 de Outubro de 2009.
As imagens e respetivas legendas são da edição impressa do Jornal do Fundão, deste 10 de fevereiro, em que ilustram um artigo do Professor Candeias da Silva, sobre o mesmo assunto.



sábado, 3 de outubro de 2009

Invasões Francesas 7

A guerrilha dos populares na Estrada Nova

Notas prévias:
1. Devem consultar-se as imagens das publicações de 26 de Setembro (Invasões francesas 5) e de 3 de Setembro (Estrada Nova), a fim de perceber melhor esta publicação.
2. Ontem, sexta-feira, foi publicada a primeira parte da presente publicação.


Em 2008, os meus alunos recolheram, junto dos seus familiares, as histórias das invasões francesas que ainda persistem na nossa tradição oral. Duas delas eram relativas às lutas dos povos dos lugares próximos da Estrada Nova contra os contingentes franceses que por lá passavam.

O professor e maestro Carlos Dias Gama, natural de Bogas de Baixo, mas descendente dos Gamas do Maxial da Ladeira, contou assim ao seu filho Luís:

«Chegou ao Maxial da Ladeira a notícia de que um pelotão de franceses vinha dos lados do Fundão e seguiria a Estrada Nova até Abrantes.
Se imediato se organizou a resistência, liderada por alguns habitantes do Maxial que pediram às aldeias vizinhas toda a gente disponível. Juntaram-se mais de 1 000 homens.
Durante dois dias e duas noites, fizeram uma armadilha que consistiu na abertura de um fosso profundo e comprido, no caminho por onde iriam passar os franceses. Depois cobriram-no com traves de madeira e mato e finalmente reconstituíram o caminho com terra, voltando a ficar como dantes, mas com o fosso por baixo. Quando os franceses ali passaram, enfiaram-se no buraco com carros e cavalos e poucos se salvaram.»


A narrativa continua, em duas versões. Numa, a esposa de um oficial morto casou com um dos chefes da resistência, Manuel Joaquim Gama, tetravô do meu aluno Luís Gama.
Na segunda versão, não há casamento, mas as riquezas dos franceses foram divididas pelos chefes da resistência, tendo Manuel Joaquim Gama ficado com muitas moedas de ouro. Com esse dinheiro se fez a casa da família Gama, em Bogas de Baixo.
O texto termina com a informação de que são descendentes deste Manuel Joaquim Gama muitas pessoas de apelido Gama a viver no distrito de Castelo Branco, incluindo os Gamas de S. Vicente da Beira.

Alberto e Engrácia Antunes da Foz do Giraldo contaram à sua neta, Marisa Santos:

«Ainda hoje se podem ver buracos no solo dum caminho, nos arredores da Foz do Giraldo, que antigamente eram bastante profundos, com estacas afiadas e tapados no topo por ramos, muito bem disfarçados. Quando os cavaleiros franceses passassem no Vale da Aveleira, cairiam nos buracos».


Estes dois testemunhos da tradição oral dos povos da Gardunha referem-se possivelmente ao ataque à coluna do General Foy, o regimento 30, a 1 de Fevereiro de 1811, coordenado pelo Tenente-Coronel Grant. Este, na sua carta de 4 de Fevereiro, informou que a luta se travou no espaço de 4 léguas, sensivelmente a distância da Enxabarda à Foz do Giraldo, e, na carta de 2 de Fevereiro, escreveu que mandou picar a frente e a retaguarda da coluna militar inimiga, mas que só tinha com ele 80 ordenanças de Alpedrinha. Ora 80 militares eram insuficientes para atacar e vencer uma coluna militar, numa extensão de mais de 20 quilómetros.
É provável que, nesta luta de guerrilha de 1 de Fevereiro, tenham participado homens dos lugares da freguesia de S. Vicente da Beira mais próximos da Estrada Nova: Paradanta, Partida, Vale de Figueiras e Violeiro. Se se arrebanharam os homens dos povos da vertente norte da Gardunha, para atacar os franceses, é normal que o mesmo se tenha feito nos povos da vertente sul.
Quanto à participação das nossas ordenanças, isso é mais duvidoso, por três razões: elas eram comandadas pelos mais poderosos do concelho e estes raramente gostam (em todos os tempos) de correr riscos; não se conhecem referências à sua participação, nos documentos da época; a nível nacional, esta luta de guerrilha contra os franceses teve quase sempre um cariz popular, embora geralmente o comando pertencesse a poderosos locais, nomeadamente clérigos.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Invasões Francesas 6

A guerrilha do Tenente-Coronel Grant

Notas prévias:
1. Devem consultar-se as imagens das publicações de 26 de Setembro (Invasões francesas 5) e de 3 de Setembro (Estrada Nova), a fim de perceber melhor esta publicação.
2. Amanhã, sábado, será publicada a conclusão da presente publicação.


Durante a terceira invasão francesa, o Regimento 30 do Exército Francês, comandado pelo General Foy, passou pela Estrada Nova, em direcção ao Ribatejo e à Estremadura, a fim de ajudar Massena a transpor as Linhas de Torres.
O ambiente no Reino de Portugal era então de sublevação total contra os franceses. O grosso do exército anglo-luso encontrava-se a defender as Linhas de Torres, mas o Tenente-Coronel Grant permanecia na retaguarda, com a missão de dificultar a chegada de reforços ao Exército Francês, que se encontrava num impasse, sem capacidade de abrir caminho para Lisboa.
Segue-se a transcrição de duas cartas do Tenente-Coronel Grant, nas quais relata o ataque de 1 de Fevereiro de 1811 à coluna militar do General Foy, na Estrada Nova.


Carta do Tenente-Coronel J. Grant ao coronel D´Urban. Enxabarda, 2 de Fevereiro de 1811:

«Sede servido referir a S. Ex.ª o comandante em chefe que ontem uma coluna do inimigo, debaixo do comando do General Foy, consistindo em três mil cavalos e infantes de Ciudad Rodrigo, passou pela Estrada Nova, para se unir a Massena. Pernoitou aos 31, em Alcaria, junto do Fundão.
No 1.º deste mês tomei posto em um outeiro junto a esta aldeia, por onde o inimigo devia passar, tendo comigo oitenta ordenanças de Alpedrinha. Fez-se-lhe um bem dirigido fogo por duas horas e terminou somente com a noite.
O resultado foi dezoito mortos na estrada, grande número de feridos e dez prisioneiros. Vários feridos acharam-se mortos esta manhã pela extrema inclemência do tempo.
Também se tomaram diversos carros de trigo e considerável número de bois.
Tendo mandado partidas para picar a frente e a retaguarda do inimigo, tenho razão para pensar que ele deve ter sofrido consideravelmente antes de deixar a estrada nova.
Nós perdemos somente um homem, com poucos cavalos feridos, entre eles o meu.»



Carta do Tenente-Coronel L Grant ao Coronel D´Urban. Fundão, 4 de Fevereiro de 1811:

«Tende a bondade de referir a S. Ex.ª o marechal, que o resultado da acção do 1.º do corrente, junto à Enxabarda, foi mais completo do que eu ao princípio referi.
Acharam-se mortos duzentos e sete do inimigo, aos 2 do corrente, no espaço de quatro léguas, parte dos quais morreu em consequência das feridas e da inclemência do tempo. Estão também em meu poder dezoito prisioneiros (…).
Tenho também que dizer que o coronel do regimento francês 30 e o quartel mestre do mesmo regimento foram achados entre os mortos. O inimigo perdeu a maior parte da sua bagagem e gado.»


Cartas publicadas em Apontamentos para a História do Concelho do Fundão, de José Germano da Cunha, Lisboa, 1892, páginas 87 a 89. O autor extraiu as cartas de Claudio Chaby, Excerptos históricos e collecção de documentos relativos á guerra denominada da península.