Pão seco é o antónimo de pão com conduto, mais duas expressões dos tempos da fome, que foram todos menos os últimos 30/40 anos.
O conduto era o que acompanhava o pão, sobretudo carne de porco, mas também azeitonas, queijo fresco para alguns, uma sardinha frita ocasionalmente e pouco mais, pois quase nada mais havia para comer.
Muitas vezes comia-se o pão sem nada, o pão seco. Uma cebola crua era um bom acompanhamento, mas nem estatuto de conduto alcançava!
Felizmente, a Páscoa está próxima: tempo de comemorar com manjares deliciosos a ressurreição de Cristo.
José Teodoro Prata
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
quinta-feira, 28 de março de 2013
segunda-feira, 25 de março de 2013
Bolos da Páscoa
Ingredientes:
farinha, 12 ovos, meio quartilho de azeite, canela em pó, 1 copo pequeno de
aguardente, 1 litro de soro de leite (pode ser substituído por água ou leite
magro) e fermento do padeiro.
Preparação: Batem-se
os ovos e junta-se o azeite, o soro, a aguardente e a canela. Vai-se
acrescentando a farinha com o fermento, amassando sempre, até a massa ficar boa
para fintar. Depois de finta, tendem-se os bolos e cozem-se no forno de lenha.
Consumo: Come-se com queijo fresco de cabra (de ovelha também serve), mas até sem conduto é bom!
José Teodoro Prata
sexta-feira, 22 de março de 2013
Ainda as Festas de Verão…
A propósito das Festas de Verão
já se falou das missas intermináveis, dos sermões e das procissões; das
alvoradas, do fogo preso e das latadas; da comida que podia ser escassa durante
o resto do ano, mas por esses dias abundava em todas as mesas; das fatiotas
novas, feitas por medida e a pensar no Inverno que aí vinha, mas que teimávamos
em estrear, mesmo que o calor ainda apertasse; dos muitos conterrâneos que
viviam longe, mas que nesses dias faziam questão de voltar.
Eram dias que traziam uma vida
nova às nossas vidas e à nossa terra. Quando, na quarta-feira, assistíamos ao
desmontar da festa e os amigos começavam a partir, nos nossos corações ficava uma
enorme tristeza e saudade. Ainda por cima, quando se é criança, um ano é muito
tempo e as próximas Festas ainda vinham tão longe!
Para aqueles que, como eu, éramos
criança na altura, uma das coisas que mais nos fascinava nas Festas era a
feira. A praça e as ruas à volta enchiam-se de tendas que vendiam de tudo, mas
do que mais gostávamos era dos brinquedos. Rivalizavam com os que nós próprios
fazíamos a partir de tudo o que tínhamos à mão ou com os pratinhos e tachinhos
de lata que o Ti Fernando Latoeiro nos fazia (a paciência daquele homem para
nos aturar, sempre que lhe invadíamos a oficina durante o recreio da escola!).
Não me lembro de alguma vez ter
podido fazer grandes compras nessas tendas. O dinheiro que me davam para gastar
por esses dias mal chegava para uma voltinha no carrossel ou uma santinha de
açúcar que se pendurava ao pescoço e se ia saboreando lentamente.
Mas, a propósito disto, lembro-me
de um episódio que me acompanhou durante muito tempo e ainda hoje recordo
muitas vezes: Teria os meus sete ou oito anos, uns primos do meu pai que viviam
em Lisboa, mas que por essa altura estavam a passar férias na nossa casa,
deram-me uma moeda de vinte e cinco tostões (era muito dinheiro para mim que
não estava habituada a tanto, mas também devia ser bastante para eles que
tinham ar de gente fina, mas fama de forretas). Era uma moeda novinha, muito
brilhante e um pouco diferente daquelas, já meio gastas, que estava habituada a
ver.
No dia seguinte, assim que pude
escapar de casa, fui para a praça com a moeda bem apertada na mão. É que no dia
anterior tinha andado a namorar um “fogão a gás” de plástico, réplica perfeita
dos modelos com que as nossas mães sonhavam, para substituir os velhos
fogareiros a petróleo.
Lembro-me que me sentei num banco
de pedra, em frente ao balcão da escola, e fiquei ansiosamente à espera que
abrissem as tendas. Enquanto esperava, veio sentar-se por perto o Espanhol e
eu, qual carochinha que se acha de repente rica, mostrei-lhe a moeda que me
tinham dado. Ele olhou para ela, depois para mim e disse-me, com o ar mais
convicto deste mundo: “Olha que isso é falso. Bota isso fora que se a guarda te
apanha leva-te pó posto!” Fiquei de tal maneira amedrontada que atirei a moeda
para o chão, para o mais longe que pude, e voltei para casa com o coração
apertado, num misto de medo e uma enorme frustração.
Quando cheguei a casa e contei o
que tinha acontecido deram-me uma grande descompostura e mandaram-me ir à
procura do dinheiro. Voltei à praça para ver se ainda achava a moeda, mas
claro, não a encontrei.
Sempre preferi acreditar nas boas
intenções do Espanhol e que a moeda se perdeu enterrada no chão que ainda era
de terra; mas se não foi o caso, que os copitos que pagou tenham feito bom
proveito a quem os bebeu…
Nota: Achei interessante o facto
de o texto do livro de Albano Mendes de Matos referir um domingo de Setembro como
o dia da festa do Santo Cristo. Das Festas serem em Setembro, quase todos nos
lembramos, mas o dia em honra do Santo Cristo é, desde que me lembro, a segunda-feira.
Houve certamente uma evolução em termos do calendário das Festas e dos santos
venerados, como é natural…
M. L. Ferreira
M. L. Ferreira
terça-feira, 19 de março de 2013
segunda-feira, 18 de março de 2013
A Casa Grande
Acabo de ler o romance "A Casa Grande", de Albano Mendes de Matos, nosso conterrâneo do Casal da Serra e guardião de muito do nosso património oral.
O livro retrata a realidade local, no século XIX.
No capítulo 15, "As confessadas e o anjinho", aborda as nossas Festas de Verão e começa assim:
O livro retrata a realidade local, no século XIX.
No capítulo 15, "As confessadas e o anjinho", aborda as nossas Festas de Verão e começa assim:
«A festa do Senhor Santo Cristo era sempre num domingo de Setembro. Ainda os ardores do Sol rebentavam em camarinhas de suor. Em Setembro ou secam as fontes ou rebentam as pontes. A festa, civil ou popular, com foguetes cantares e bailaricos, e a festa religiosa, com procissões, cânticos, sermões e penitências, começavam a preparar-se com meses de antecedência. Alguns ausentes chegavam-se à vila uma vez por ano, para assistir aos festejos em honra do Senhor Santo Cristo. Havia fatiotas novas, comida ritual melhorada, cabritos, borregos, cabras e galinhas escolhidos para o sacrifício, bolos de azeite, pão leve, coscoréis, presuntos e paios, aletria, arroz-doce e papas de carolo. E as melancias, que chegavam em carros de bois, logo pela madrugada. O Largo e algumas ruas engalanadas com ramagens verdes. As casas asseadas, como na Páscoa, as ruas varridas e limpas de trastes velhos.»
José Teodoro Prata
José Teodoro Prata
sexta-feira, 15 de março de 2013
Festas de Verão, 2013
BREVES
1 – CONTRIBUIR
PARA AS FESTAS DE VERÃO DE 2013
Quem
queira contribuir para as Festas de Verão 2013, pode fazê-lo através do NIB: 0035 0749 0000 3627 4008 2 ou o IBAN: PT5000 3507 4900 0036 2740 082
(este
para quem se encontra no estrangeiro). A operação deve ser efectuada numa caixa
multibanco normal (onde aparece o nome do destinatário). Por isso, não
se esqueçam que, antes de dar a ordem de transferência, “confirmar”, devem
conferir o nome do titular da conta, a “Comissão de Festas”.
2 - PEDITÓRIO DO AZEITE
Quase
toda as pessoas da Vila (as que habitualmente lá residem ou que, por esta ou
aquela razão lá se encontravam naquele dia), sabem que, como foi prometido, se
procedeu, no dia 20 de Janeiro último, ao tradicional peditório do azeite.
Pode
dizer-se que, em geral, houve uma boa aceitação por parte da população; ou não
fosse este acto de pedir a esmola do azeite em Nome do Senhor Santo Cristo, uma
tradição de décadas ou mesmo séculos.
Para
além dos actos religiosos, era com estes parcos recursos de que a população
dispunha, na maioria produtos que a terra dava, que se faziam “festas rijas”.
Não
havia “artistas” ou estes eram inacessíveis. Os programas assentavam na
contratação de uma aparelhagem sonora (quando foi possível dispor desta
maravilha da técnica).
A banda
de S. Vicente, como era da casa, estava automaticamente convidada a participar
(pelo menos a partir de 1910, imagina-se, ano da sua fundação).
A banda
tinha e continua a ter um papel relevante. Se nos actos profanos concorre,
hoje, com outros meios de diversão, nos actos religiosos, tem ainda um papel
fundamental. A música, como é sabido, sempre foi uma das grandes homenagens do
Homem às Entidades Divinas. Em S. Vicente, pense-se numa Missa Cantada (por
elementos da banda, com vozes masculinas e barítono); ou numa procissão com (ou
sem) banda. Enquanto crianças, achávamos as Missas Cantadas intermináveis,
sendo precisa uma grande dose de paciência para assistir até ao fim. Coisas de
jovens! Hoje creio que é uma pena não se reeditarem essas Missas (mantendo a
matriz, mas podendo-se inovar face ao antigo formato). E, certamente, será até
possível conciliar a beleza dessas Missas com alguma brevidade.
O fogo,
por sua vez, era uma das manifestações mais emblemáticas dos festejos, sendo
que era pela quantidade de foguetes, latadas e castelos (tudo do domínio da
arte da pirotecnia), que a festa era considerada (ou não) como “festa rija”.
A
quantidade de fogo deflagrado durante a festa (avaliado sobretudo pela alvorada
de 2ª. feira), pelo peso que tinha no orçamento, era a medida da capacidade
económica da população e talvez representasse, pelo esforço despendido, outra
das maiores homenagens aos santos em honra dos quais a festa se realizava,
especialmente, o Senhor Santo Cristo que, havia séculos, nos tinha livrado da
praga de gafanhotos.
Era
também por essa razão (a do lançamento de grandes alvoradas), que a festa
rivalizava com as aldeias vizinhas.
Os
tempos são outros.
Mas, já
se vê, a razão que desconhece todas as razões do coração – a dolorosa razão do
compromisso – essa mantém-se. E é necessário porfiar.
3 - RESULTADO DO PEDITÓRIO
Assim,
no dito peditório de 20 de Janeiro último, conseguiu-se angariar um total de
*750, 00 € e 50 Litros de azeite.
Somos
pelas contas transparentes. Só não publicamos a lista nominal dos donativos
porque isso depende da autorização expressa das pessoas, da qual não
dispomos.
Vamos
ver como nos desempenhamos do nosso papel. Porque, agora digo eu: “desarmada a
festa se verá o que nos resta”.
Mas,
estou certo, todos irão contribuir, pois: PRECISAMOS DE TODOS.
Obrigado e até
breve.
A Comissão
de Festas,
zb
quinta-feira, 14 de março de 2013
José Lourenço - Poema
Em 1957, o nosso poeta veio a Castelo Branco e escreveu sobre as Festas da Cidade. O poema foi publicado no jornal Beira Baixa, de 7 de julho.
(Ortografia da época)
(Ortografia da época)
Á nobre e linda cidade de Castelo Branco
Castelo Branco altaneiro!
Ó progressiva cidade!
Não há no país inteiro
Terra de mais claridade.
Albicastrense doutrora
Como te encontras bonita?!
Quem te viu e vê agora
Quase que não acredita.
Castelo Branco - os desejos
De matar a saudade,
Me trazem hoje aos festejos
Da tua linda Cidade.
Sois, ó lindas castelãs,
Brancas da cor da verdade,
Os aluares das manhãs
Que enfeitiçais a Cidade!
Anda aí Castelo Branco
Todo ufano e a vibrar,
Num sorriso alegre e franco,
Pela Feira Popular.
Vinde aqui, povos da Beira,
A ver a desenvoltura
Das Castelãs, pela Feira
Mostrando a sua brancura!
Ó Castelo guardião
Da Beira, em largo espaço,
Branco é nome que te dão
Mas tu és da cor do aço!
Não há Castelã prendada
Que pense em mudar de estado
Sem ter a colcha bordada
Pró dia do seu noivado.
Gosto de na tua Sé
- Castelo Branco adorável -
Entre as imagens da fé
Ver o Santo Condestável.
Albicastrense querida
Leva-me no teu regaço
A ver o Parque, a Avenida
E as estátuas do Paço.
Ser leal, honesto e franco
É o timbre dos Beirões
E os de Castelo Branco
Honram sempre as tradições.
Lavrador deste torrão,
Quem te sustenta e aos teus?
- É o trabalho e o pão
E a graça de Deus.
A mulher Albicastrense
Tem de ser sempre bonita
Mesmo que ela mais não pense
Que usar vestidos de chita.
Castelo Branco, penhor
Duma vida sã e calma!
É morena a tua cor
Mas é branca a tua alma.
Feliz de quem vive aqui
Desde o seu ó-ó primeiro
E pode dormir em ti
O seu sono derradeiro.
Festas da Cidade
1957
José Pires Lourenço
(S. Vicente da Beira)
José Teodoro Prata
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