Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
quarta-feira, 20 de dezembro de 2023
O nosso falar: desassemelhado
Travei-me de razões com um galho de laranjeira e saí com um ligeiro raspão na testa. Agora secou e fez crosta, parecendo uma grande coisa. Hoje vi-me ao espelho e achei-me um pouco desassemelhado para a festa.
Desassemelhado é um adjetivo e o particípio passado do verbo desassemelhar. De certa forma, desassemelhado é sinónimo de desfigurado, adjetivo mais usado que este, que caiu em desuso.
Desassemelhado significa não estar semelhante ao que é habitual. No uso do nosso povo, penso que é mais suave que desfigurado.
José Teodoro Prata
Nota: há novo comentário (com informações importantes), na publicação Pe. Domingos Martinho Raposo (para voltar lá, escrever este nome da publicação na caixa da esquerda, ao alto)
sexta-feira, 15 de dezembro de 2023
O Pelourinho
Há dias, a propósito do artigo sobre a digitalização dos jornais pela Biblioteca de Castelo Branco, não respondemos à dúvida sobre se existiria o Pelourinho na Biblioteca Hipólito Raposo. De facto não existe. Há apenas um exemplar que foi doado, há tempos, pela Maria José (Alfaiate). É o número 2, publicado em 15 de setembro de 1960, era diretor o padre Sílvio.
Era
bom que fosse possível reunir todos os números publicados (também de O Vicentino)
e torná-los acessíveis através da digitalização. É que, dando-nos conta,
mensalmente, dos acontecimentos mais importantes em cada uma das povoações da
freguesia, foi um documento fundamental para ficarmos a saber quase tudo sobre
a vida de São Vicente durante várias décadas: dados económicos, sociais, demográficos,
culturais, costumes, valores, etc. que muitos vivemos e ainda recordamos, mas a
maior parte da população mais jovem nem imagina.
Deixo algumas das notícias deste Nº2; acho-as significativas porque testemunham bem como estávamos todos irmanados nas alegrias, nas tristezas e nas necessidades mais básicas:
- No Mourelo pedia-se às “Exmas. Autoridades” que fosse feito um chafariz para abastecimento de água à população, porque a única fonte disponível era ainda a Fonte de Mergulho, “pouco higiénica e muito distante”; realizara-se a festa de Santo António, “glorioso protector”, com missa e sermão feito pelo Padre Sílvio e cânticos dirigidos por um seminarista da Guarda; deu-se ainda conta da visita de várias pessoas aos seus familiares.
- Na Partida ansiava-se ainda pela chegada da estrada e pedia-se ajuda para o arranjo de alguns caminhos; a população viveu em festa, entre os dias 26 de agosto e 5 de setembro, pela presença de um grupo de seminaristas da Guarda que “… proporcionaram a todos momentos de inesquecível prazer espiritual”; também houve grande satisfação pela chegada de alguns conterrâneos vindos de França ou de Lisboa para passarem férias com a família; no dia 3 de setembro faleceu a senhora Amélia Bonifácio de Carvalho.
-Nos Pereiros festejava-se já a chegada da nova estrada que tanto iria beneficiar a população; mas chorava-se a morte de uma criança de 2 anos, num incêndio num palheiro, e queimaduras graves na mãe ao tentar salvar o filho; esteve de visita à família o senhor João António Varandas, sócio gerente da Fogás Lda.
- Na Paradanta esperava-se com impaciência a construção da escola, tanto mais que a população estava disposta a ceder o terreno no local que as “Exmas. Autoridades” julgassem mais adequado; estavam ainda de férias alguns estudantes da terra (6, no total!), e também o “menino” Norberto Gomes Filipe tinha ficado bem no exame de admissão ao Liceu; o senhor António Gomes Filipe e esposa pediram, para seu filho, a mão de D. Maria Emília Ventura Russo “Professora Oficial”, filha do senhor Alfredo Ventura Russo e da senhora D. Trindade Diogo Ventura Russo; faleceu inesperadamente a esposa do senhor Álvaro Martins Faustino.
- No Vale de Figueiras festejava-se o início das obras de alargamento do caminho de acesso à povoação; pedia-se a construção de uma fonte com “água pura”, em alternativa à dos poços e presas; deu-se também conta da participação de muita gente em algumas atividades e cerimónias religiosas realizadas pelos seminaristas da Guarda (na Partida) onde viveram uma “alegria sã e vida piedosa”.
- No Casal da Serra fora caiada a igreja e dourado o altar, que “ficou muito bonito”; continuava também em construção a estrada até ao Louriçal, que vinha encurtar o caminho de acesso à Estação e pediam-se também melhoramentos no caminho para a sede da freguesia; dava-se notícia da visita de várias pessoas, residentes fora, às suas famílias.
- No Violeiro pediam-se melhoramentos nos caminhos, autênticos lodaçais no inverno; festejava-se ainda os bons resultados nos exames dos estudantes José António Rato e Conceição de Jesus Rato e a partida de Francisco Magueijo para o seminário de Fátima; desejava-se boa viagem ao senhor José Roque, esposa e filhos, que regressavam a França onde residiam há sete anos.
- No Tripeiro festejava-se a chegada do telefone com muita alegria porque “já podiam fazer-se ouvir ao longe sem a triste necessidade de percorrer longos caminhos lamacentos”; dava-se a notícia de que a escola estava quase pronta, pelo que se agradecia muito ao “Estado”; iam também ter água canalizada em breve, coisa para admirar porque outras terras maiores ainda não a tinham; dava-se também conta da vitória, num jogo amigável, entre a equipa da terra e a do Mourelo.
- Em São Vicente iam realizar-se, nos dias 18, 19 e 20 as festas em honra do Santíssimo Sacramento, do Senhor Santo Cristo e de Nossa Senhora do Carmo; No dia 15 de Agosto tinha-se realizado “com grande fervor”, a festa em honra da nossa Padroeira: “… a imagem da «Senhora da Ordem» foi conduzida processionalmente até à Sua Capela. Subiu ao púlpito o Rev. Frei Crespo…”; estiveram em São Vicente, entre muitas outras pessoas, Amélia Rey Colaço Robles Monteiro e Mariana Rey Monteiro e filhos; esteve também a D. Aldina Caldeira com o marido e uma excursão, vinda de Lisboa, organizada pelo senhor Elias; estiveram na Vila os “montadores” do relógio novo para darem algumas instruções sobre o seu funcionamento e já havia quem tivesse contribuído para o seu “badalar”; no dia 21 de agosto a equipa de futebol “os Novatos de São Vicente da Beira” tinha ganhado à equipa da Partida (parece que pela primeira vez…); pelos “ Novatos” alinharam Chico, Martins (1 golo), Dias e Jaime, Nicolau e Ribeiro, L. Bruno, Quica (3 golos), Barroso, Inverno e Luís.
M.L. Ferreira
Nota: Há comentários novos na postagem anterior.
José Teodoro Prata
domingo, 10 de dezembro de 2023
Conta-me histórias
Nome do projeto: CONTA-ME HISTÓRIAS
Prazo de concretização: 2024
e 2025
Objetivo:
animar culturalmente as comunidades da freguesia de SVB
Âmbito geográfico:
freguesia de SVB, com maior incidência na sede, mas alargada também às anexas
onde houver participantes/interessados
Locais:
Biblioteca de SVB, Igreja da Misericórdia, sedes de coletividades, cafés…
Periocidade: de dois em dois meses, sempre que possível
Animadores: quem
quiser participar
Atividade: a
partir de um objeto (instrumento, foto, documento em papel…) o animador conta
uma história: sua utilidade, de que/como é feito, histórias, pessoas, épocas,
lugares… com ele relacionados
Suporte: o
animador conta a sua história, apoiado no objeto e em simples notas, num PowerPoint,
texto…
Memória futura (facultativo):
após a apresentação, o animador passa tudo à escrita, para memória futura, em
livro e/ou suporte online. Este texto deve ter o tamanho de perto de 2 páginas
Word. Além do texto, o animador deve ter uma boa foto do objeto. Texto e foto
devem ser entregues à organização.
Organização:
blogue Dos Enxidros
Nota: esta iniciatiova inspira-se no livro Uma História do Mundo em 100 Objetos, de Neil MacGregor
terça-feira, 5 de dezembro de 2023
Os Sanvincentinos na Grande Guerra
José Venâncio
José Venâncio nasceu na Partida, a 5 de
fevereiro de 1893. Era filho de António Venâncio e Maria do Rosário.
Assentou praça no dia 9 de julho de 1913 e foi
incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, no dia 13 de janeiro
de 1914. Era na altura analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro.
Fazendo parte do CEP, embarcou para França em
21 de janeiro de 1917, integrando a 6.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2º Regimento
de Infantaria 21, como soldado com o número 202 e placa de identidade n.º 9171.
Do seu boletim individual constam as seguintes
ocorrências sobre o tempo em que permaneceu em França:
a)
Baixa
ao hospital em 14 de agosto de 1917, por ter sido ferido em combate; teve alta
em 15 de outubro (segundo contava, esteve mais de um mês em coma);
b)
Várias
punições e detenções por faltas ao trabalho;
c)
Em
Junho de 1918, foi-lhe confirmado pelo Tribunal de Guerra a sentença de seis
meses de presídio militar ou, em alternativa, a pena de oito meses de
incorporação em Detenção Disciplinar (de acordo com a folha de matrícula, este
castigo foi aplicado, no dia 22 de Outubro de 1918, a José Venâncio e mais
outros seis militares da sua Companhia, por serem acusados de se terem
coligados entre si com o intuito de tirar da casa, que servia de prisão, um
soldado que ali se encontrava recluso, por ordem do Comandante do Batalhão);
d)
Foi
repatriado em agosto de 1918 e desembarcou em Lisboa, no dia 25.
Por decisão de 28 de
Maio de 1921 o crime de que era acusado foi amnistiado nos termos do Art.º 1 da
Lei n.º 1146, de 9 de Abril de 1921. Na sentença referida na sua folha de matrícula
pode ler-se o seguinte: «O crime por que
os réus foram condenados se acha amnistiado, assim o julgo e mando que sobre tal
crime se faça perpétuo silêncio.»
Condecorações:
Medalha de Cobre comemorativa da expedição a
França com a legenda: França 1917-1918.
Família:
José Venâncio casou com Maria dos Santos, no
dia 18 de janeiro de 192,0 e tiveram 6 filhos:
1. Maria Lucinda, que
casou com José Pedro e tiveram 3 filhos;
2.
Manuel
Venâncio, que casou com Margarida de Jesus Costa e tiveram 9 filhos;
3.
João
José Venâncio, que casou com Deolinda Marques e tiveram 5 filhos;
4.
António
Venâncio, que casou com Cândida Alves e tiveram 2 filhos;
5.
José
Venâncio, que casou com Maria Lucinda Pinto e tiveram 2 filhos;
6.
Fernando
Venâncio, que faleceu ainda jovem.
«Do que o meu pai mais
falava sobre o tempo em que esteve na guerra era do frio e da fome que por lá
passou. Diz que às vezes o frio era tanto que até parecia que as pernas não
eram dele. E para matar a fome tinham que ir pedir comida por aquelas quintas,
mas os camponeses também não tinham quase nada que lhes dar, porque a miséria
era por todo o lado. Por causa de fugir à procura de comida e faltar aos
trabalhos, foi muitas vezes castigado, ele e os outros companheiros. Também
falava dos gases que os alemães lá deitavam e matavam muita gente, porque
alguns nem máscaras tinham. Ele tinha uma e quando veio ainda a trouxe.
Lembro-me de a ver durante muito tempo lá em casa, mas depois desapareceu.» (testemunho do filho
José Venâncio).
José Venâncio toda a vida foi moleiro. Tinha um
burro e andava de terra em terra a transportar o grão para moer na azenha; teve
uma vida de muito trabalho e poucos ganhos, para sustentar os filhos ainda
pequenos. Viveu sempre com muitas dificuldades, porque a vida de moleiro não
lhe trazia grandes proventos e também não tinha terras para cultivar.
Nunca recebeu nenhuma pensão pelo tempo e
ferimentos que sofreu na guerra; foram os filhos que lhe valeram na velhice,
ajudando-o no seu sustento.
Faleceu em Outubro de 1968. Tinha 75 anos de
idade.
(Pesquisa feita com a colaboração do filho José
Venâncio)
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
sábado, 2 de dezembro de 2023
Projeto: digitalização dos nossos jornais
A Biblioteca Municipal de Castelo Branco não possui nenhum exemplar dos nossos Pelourinho e Vicentino. Recentemente digitalizou todos os jornais que possui, os quais podem já ser consultados no site da biblioteca.
Tenciono em breve desafiar a Biblioteca Municipal a disponibilizar também os jornais de São Vicente da Beira, pelo que terei de pedir, emprestados para a bilioteca digitalizar, exemplares a quem os tem (penso que tenho todos os números do Vicentino).
Por outro lado, como articular esta iniciativa com a nossa freguesia (para além de, automaticamente, ambos os jornais ficarem à disposição de todos em qualquer parte do Mundo)? A Biblioteca Hipólito Raposo tem os jornais em papel? Alguma instituição em SVB tem possibilidade de oferecer os jornais digitalizados aos leitores, gratuitamente? Mandem sugestões!
José Teodoro Prata